O prefeito Cesar Maia acordou na segunda-feira com o coração descompassado de emoção. Teria enfim encontrado, no meio da madrugada insone, a fórmula capaz de encerrar a tempestade desencadeada pelo afrontoso aumento do IPTU? Teria redescoberto a trilha que pode devolver aos campos da popularidade até um político estigmatizado pela indignação coletiva? Nada disso. Técnico do Rio há sete anos, Cesar Maia é, acima de tudo, botafoguense desde criancinha. Não pensava nos fiascos colecionados no campeonato das cidades em decomposição. Pensava nos 25 anos da morte de Mané Garrincha.
"Obrigado Garrincha! Obrigado Mané", derreteu-se o administrador do "Ex-Blog do Cesar Maia". O sumiço das vírgulas foi compensado pela exibição dos melhores momentos do craque na goleada imposta à França, em 1958, pela Seleção vitoriosa na Copa da Suécia. "Veja como Garrincha desintegrou o time francês", convidou Cesar Maia na penúltima das sete notas publicadas na segunda-feira.
Convertido desde março de 2005 à seita dos escravos da internet, o prefeito contou à revista Veja que, em média, fica sentado diante do computador 18 horas por dia. Sobram seis. Deve dormir ao menos três. Ainda que almoce e jante sem desviar os olhos da telinha, o tempo que sobra para o Rio é quase nada.
O prefeito abandonou o emprego faz tempo. O internauta sua exemplarmente a camisa. Na edição que homenageou Garrincha, por exemplo, o aplicado blogueiro discorreu longamente sobre a importância das eleições municipais deste ano, deu conselhos ao Ministério Público, comentou uma reportagem do jornal Zero Hora sobre a queda da criminalidade em São Paulo e criticou o presidente venezuelano Hugo Chávez.
Lembrou-se até do Rio, contemplado por duas notas. Na primeira, tratou com sobriedade os projetos prometidos pelo PAC às favelas do Rio. Na segunda, debochou da passeata promovida na véspera por cariocas inconformados com os abusos do IPTU e a com a progressiva desintegração de um Rio entregue à própria sorte. Nos cálculos do prefeito, o protesto juntou 300 pessoas. No mesmo domingo, ironizou, a procissão de São Sebastião juntou 30 mil, outros 23 mil foram torcer no Maracanã e 40 mil preferiram ensaiar na Marquês de Sapucaí. Até a roda-gigante instalada em Copacabana, zombou, atraiu mais gente que o grito dos tungados pela prefeitura.
Espertamente, Cesar Maia fingiu esquecer-se de que desastres tremendos consideráveis podem consumar-se sem a mobilização de multidões. Em apenas sete anos, por exemplo, o Rio foi reduzido a caricatura de si próprio por um prefeito só. Ele não precisou de ajuda. Bastaram-lhe dois mandatos.Coisas da política.
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