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domingo, 13 de janeiro de 2008

1 ano depois, sobreviventes lembram tragédia do metrô: Para moradores, acordos são "ridículos"


Parentes de vítimas e moradores do entorno da cratera dizem que indenizações são baixas e que falta amparo do governo paulista José Serra

A falta de amparo por parte do governo estadual José Serra e propostas de acordos consideradas "ridículas" são as principais reclamações dos parentes das vítimas e moradores ouvidos pela reportagem da Folha, um ano após a tragédia nas obras da estação Pinheiros do metrô.

"A nossa família continua toda desamparada. Cadê o Serra agora? Não recebemos um telefonema sequer", afirma, em tom indignado, Marli Aparecida Leite, 40, irmã do motorista da van morto no acidente.

Ela diz que o Consórcio Linha Amarela "praticamente forçou um acordo", aproveitando-se da fragilidade da família. "Do dinheiro que a minha mãe recebeu de indenização [Marli revela que foram R$ 70 mil], só conseguimos dar entrada em uma van. E a gente nem conseguiu transferir o documento ainda."

O representante do Consórcio Via Amarela, Renato Miranda, diz que o seguro da obra (estimado em R$ 1,2 bilhão) garantiu o pagamento das indenizações em menos de 90 dias. Segundo ele, os parentes das vítimas fatais teriam recebido um valor muito maior que o apontado pela irmã do motorista. "Uma indenização por vida [sic] custa de R$ 60 mil a R$ 120 mil. As pessoas, nesse caso, receberam pelo valor máximo", disse, sem detalhar valores.

O comerciante Silvio Azevedo, 46, no entanto, nega ter recebido o valor da indenização que o consórcio aponta. Ele, que perdeu a mãe no desastre, disse que a família nunca pediu dinheiro ao consórcio. "Posso dizer que [o valor da indenização] chegou muito longe disso [R$ 120 mil]. Pagaram muito abaixo desse valor." O Consórcio Linha Amarela garante que 98% das vítimas já fizeram acordo sem a necessidade de ir à Justiça. Das 212 pessoas desabrigadas, apenas uma família continua em hotel.

No total, 55 imóveis tiveram de ser interditados por causa da cratera. Dez acabaram sendo condenados e outros três foram demolidos. Desde então, muito mato cresceu, as ruas da região ficaram ainda mais esburacadas -principalmente por causa do vaivém de caminhões pesados- e o comércio ficou às moscas. Só um escritório de contabilidade e o sobrado de um casal de aposentados recebem a visita do carteiro.

Além deles, a família da aposentada Itália de Sousa Pereira, 58, também tem feito parte do cenário desolador -mais necessidade do que insistência.
"No dia do acordo, quem não assinasse teria a diária do hotel cortada. Eles nos deram até o meio-dia [do dia 18 de julho] para sair. Eu quase chorei. Fiquei na recepção durante cinco horas para tentar resolver a dívida de R$ 400 que o hotel jogou na minha mão dizendo que a gente tinha extrapolado o horário", lembra Maysa de Sousa Pereira, 25, filha da aposentada, que diz ter recebido uma indenização de R$ 4.000 do Consórcio Linha Amarela, mas que o dinheiro ficou na mão do proprietário do imóvel, alugado há 11 anos. Ela se diz insatisfeita com a indenização. Agora, voltou a ocupar o sobrado na rua Gilberto Sabino com o irmão, os dois filhos, o marido, o padrasto e a mãe.

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