A imprensa alternativa do século XXI e a democratização da informação da América Latina
(Carlos Alberto)
"O Jornal Cometa Itabirano comemora seu 28º aniversário e lança sua versão na internet num momento auspicioso para a democratização da informação.
Sobrevivente de uma época em que a oposição brasileira se expressava basicamente na imprensa dita alternativa, O Cometa (não só) Itabirano faz uma ponte histórica com a nova imprensa que surge no país. Desconheço outros remanescentes daquela imprensa nanica dos anos 70, na qual os jornalistas eram os donos dos jornais nos quais trabalhavam.
O fato é que o Cometa – e este é o seu maior mérito – sobreviveu a um período em que a grande imprensa brasileira recuperou a liberdade e iludiu a muitos, antes de se mostrar como é, conservadora e burguesa.
O Cometa chega aos 28 anos em boa companhia. Um vento progressista sopra na imprensa latino-americana e brasileira. Não é à toa que os veículos conservadores e golpistas estão tão desconfortáveis e mostram suas garras. Todos sabemos como a transição da ditadura militar para a democracia representativa foi negociado pelas elites, depois de derrotarem a emenda das diretas já, que representaria a democratização com participação popular. Muita coisa do antigo regime continua praticamente inalterada ainda hoje, como as polícias, a justiça, o sistema educacional e a propriedade rural. Um dos símbolos da ditadura que permaneceram intocados é o sistema Globo de comunicação, um império de televisões, rádios, jornais, revistas e internet, cujo poder não ter similar no mundo.
Governista por nascimento e vocação, a Globo prestou serviços à burguesia apoiando sempre seus candidatos, contra Lula e Brizola, principalmente, com sua prática de manipular informações, esconder fatos que não interessam aos governos e divulgar versões governistas. A quase derrota de Brizola na eleição para governador do Rio de Janeiro, em 1982, a vitória de Collor, em 89, e de Fernando Henrique, em 94 e 98, a ajuda a Serra, em 2002, e Alckmin, em 2006, são algumas das atuações políticas da Globo. Desde 2003, finalmente, a Globo se vê na incômoda condição de fazer oposição ao governo federal. Não está só; grande parte da imprensa conservadora faz o mesmo. A tentativa de derrubar Lula em 2005 e impedir sua reeleição em 2006 foi clara.
De onde sopram então os bons ventos? De vários lugares. Internacionalmente, o governo de Hugo Chávez, na Venezuela, depois de derrotar um golpe patrocinado pela nova oligarquia da comunicação, tirou do ar, legalmente – isto é, não renovando a concessão pública – uma empresa que claramente se colocou contra a democracia. No Equador, o novo presidente, Rafael Correa, também enfrenta com coragem os grupos econômicos que dominam os meios de comunicação e promete com firmeza democratizar a informação no país.
No Brasil, os bons ventos sopram de três lugares: do governo federal, da iniciativa privada e da internet. O governo Lula está colocando no ar a nova tevê pública, a chamada TV Brasil, que promete ser um marco na televisão brasileira, cuja programação teve sempre péssimo nível, com raras exceções. Outra novidade governamental é a ressurreição da Telebrás, para fornecer banda larga para escolas públicas. A internet é a nova imprensa alternativa por excelência, com a vantagem de atingir número cada vez maior de usuários. Na rede, todo jornalista e qualquer cidadão podem ter seu jornal. Não passa um dia em que não se descubra um novo sítio de notícias nanico.
Na iniciativa privada, a novidade mais interessante é a renovação da imprensa por veículos como Le Monde Diplomatique Brasil. LMDB pratica um jornalismo diferente do que é tradicional no Brasil, com informação e análise. A tradição brasileira é o jornalismo pretensamente imparcial, mas na verdade superficial e sensacionalista. Formados em cursos de baixa qualidade e generalistas, os jornalistas brasileiros são especialistas em tudo e em nada, não têm capacidade nem hábito de confrontar as fontes, o que resulta num jornalismo declarativo, manipulado pelos interesses comerciais e ideológicos dos proprietários dos veículos. A realidade, contraditória, é que temos hoje uma nova imprensa alternativa ao mesmo tempo em que a estrutura burguesa concentrada dos meios de comunicação, em poder de grandes grupos econômicos e de políticos, desde a ditadura militar, continua intocada.
Em detrimento da informação, a oligarquia dos meios de comunicação atua como braço políticos das elites mais reacionárias. As novas tecnologias obscurecem o fato de que a questão da comunicação de massas não é só a modernização dos meios, mas, sobretudo, a democratização da posse e do acesso."
Mais informações:
ocometa@terra.com.br
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