Bancos surpreendem e reduzem margem de ganho. Taxa ao consumidor cai para o menor nível em 13 anos. Crédito deve chegar a R$ 1 trilhão
A maior concorrência entre os bancos começa, finalmente, a beneficiar os tomadores de crédito. Apesar de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter suspendido o corte da taxa básica de juros (Selic) há dois meses, as instituições financeiras decidiram manter o processo de redução dos encargos cobrados nos empréstimos e financiamentos a consumidores e empresas. Esse movimento só foi possível porque os bancos abriram mão de uma pequena parcela dos lucros (spread) nessas operações. Nas contas do Banco Central, em novembro, o spread cobrado das pessoas físicas recuou ,1,2 ponto percentual, com a taxa média de juros caindo para 44,8% ao ano, a menor da série histórica iniciada em julho de 1994. No caso das empresas, o spread baixou 0,4 ponto, empurrando os juros médios para 23,3% anuais.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, uma das explicações para a queda do spread foi a entrada dos bancos de médio porte no mercado de crédito. Ao longo dos últimos meses, dez instituições — BIC Banco, Panamericano, ABC Brasil, Daycoval, Pine, Cruzeiro do Sul, Sofisa, Indusval, Paraná e Bonsucesso — abriram o capital e venderam ações em bolsa de valores. Com o dinheiro captado, reforçaram o patrimônio e ampliaram a oferta de recursos à clientela. “Essas instituições são especialistas em crédito e permitiram às famílias maior mobilidade na escolha de empréstimos mais baratos”, frisou. Ele destacou ainda que, nos 11 primeiros dias de dezembro, o spread se manteve em baixa: recuou 1,1 ponto percentual para as pessoas físicas e 0,1 ponto, para as empresas.
Na avaliação do economista do BC, ainda há um grande espaço para que os bancos continuem cortando o spread e os juros cobrados dos consumidores. “Mesmo em baixa, continuam bastante elevados”, assinalou. Para ele, daqui por diante, o que ditará o rumo das taxas, além da maior presença dos bancos de médio porte no mercado, será a facilidades maior dada aos consumidores para trocar de banco. Agora, uma pessoa que deve para uma instituição mas encontrou juros menores em outra, pode transferir seus débitos e aliviar o orçamento. É a chamada portabilidade. Outro ponto a favor dos consumidores é o crédito com desconto em folha (consignado), cuja taxa bateu em seu piso histórico: 29% ao ano. Essa linha deverá crescer, sobretudo, entre os trabalhadores na iniciativa privada.
37% do PIB
Pelas previsões do BC, o crédito como um todo continuará em forte expansão em 2008. A tendência, é de que as operações cresçam acima de 20% — neste ano, o avanço será de 29%. Com isso, o volume de empréstimos atingirá 37% do Produto Interno Bruto (PIB), uma marca expressiva, dado o histórico do Brasil, de crédito restrito. No mês passado, a relação entre o crédito e o PIB estava em 34,3%, o nível mais elevado desde junho de 1995 (34,7%), dois meses antes da quebra do Banco Econômico, então a sexta maior instituição financeira do país. “Muito em breve, o volume total de crédito baterá na marca de R$ 1 trilhão”, disse Altamir. Em novembro, somava R$ 908,7 bilhões.
Como neste ano, acredita Nuno Câmara, economista do Dresdner Bank em Nova York, o crédito será puxado pelo aumento da renda e do emprego. Entre 1998 e 2004, o rendimento médio do trabalhador diminuiu 20%. Desde 2005, porém, recuperou o fôlego e já acumula elevação de quase 10%. Somente em 2007, foram criados quase 2 milhões de empregos formais. É por isso, segundo os especialistas, que a confiança da população está no patamar mais elevado da pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os consumidores, acrescentou Cristiano Souza, já não acreditam que perderão o emprego. Assim, não se acanham em assumir dívidas.
Volume
Total de empréstimos chegou a
R$ 908 bilhões
em novembro
Taxa do cheque caiu
O movimento de queda das taxas de juros se estendeu ao cheque especial, a modalidade de financiamento mais cara do mercado, junto com os cartões de crédito. Os encargos fecharam novembro em 138,7% ao ano, piso do levantamento realizado pelo Banco Central desde julho de 1994. No crédito pessoal, os juros recuaram 2,1 pontos percentuais, para 46,8% ao ano, também os menores da série do BC. Entre as modalidade de crédito acompanhadas pela instituição, somente uma elevou os juros, a de veículos. As taxas passaram para 28,5% ao ano
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, os números preliminares mostram que a procura pelo cheque especial diminuiu, pois parcela importante de trabalhadores optou por usar o 13º salário para equilibrar as finanças. “O que está aumentando e continuará crescendo são as operações de crédito com juros mais baixos”, assinalou. Altamir destacou que o avanço dos empréstimos está se dando de forma tranqüila, sem ondas de calote. No mês passado, o índice médio de inadimplência ficou em 7,1%, 0,6 ponto percentual abaixo do registrado no mesmo mês de 2006.
Na opinião do economista do BC, apesar de todas as facilidades para tomar crédito, os brasileiros não estão embarcando em promoções como as oferecidas pelas concessionárias de automóveis, de prestações em 99 meses. Na média, os financiamentos de carros têm girado em 19,6 meses.
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