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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Japão, âncora asiática para o álcool do Brasil


O Japão pode transformar-se na principal porta de entrada para o etanol brasileiro na Ásia, e para isso a Petrobras redobra esforços para pelo menos amenizar as restrições às importações do produto ainda existentes no país.

A tendência é que os japoneses passem a adicionar 10% de álcool à gasolina, mas a medida depende de mudanças na legislação. Hoje a lei autoriza a mistura de 3%, e o aumento desse percentual também esbarra nas taxas aplicadas sobre as importações, ainda elevadas.

Nesse cenário, a estratégia da Petrobras para convencer o Japão a abraçar de vez o etanol tem na garantia de fornecimento via contratos de longo prazo um de seus pontos fundamentais. Outra frente importante na campanha da estatal brasileira é a utilização de uma refinaria própria na ilha de Okinawa, comprada por US$ 50 milhões de uma subsidiária da ExxonMobil.

A unidade, que tem como sócia a Sumitomo, marca a entrada da Petrobras em operações de refino na Ásia. No futuro ela permitirá não só o processamento de óleo pesado produzido no Brasil, mas também servirá para convencer outras refinarias japonesas a aceitarem fazer a mistura direta de álcool na gasolina, o que muitas delas ainda resistem.

"O Japão representa, hoje, um potencial real para o etanol na Ásia", diz Kuniyuki Terabe, vice-presidente executivo da Brazil-Japan Ethanol Co. Criada em março de 2006, a empresa é uma joint venture dividida em partes iguais por Petrobras e Japan Alcohol Trading - que atua há 40 anos na importação de álcool industrial, principalmente do Brasil.

Outros países asiáticos, como a Coréia do Sul, aguardam a decisão do Japão sobre o etanol para seguir caminho semelhante. Executivos da Petrobras já estiveram em Seul conversando com autoridades locais.

O pano de fundo do interesse japonês no álcool combustível é a preocupação do país em diminuir as emissões de gases poluentes. O etanol produzido a partir da cana tem grande potencial como substituto parcial do petróleo e reduz as emissões de gás carbônico, como apontou o relatório final de uma mesa-redonda sobre biocombustíveis do Challenge Bibendum 2007, encerrado sábado em Xangai, na China.

O evento, promovido pela Michelin, reuniu montadoras de veículos, fornecedores e a indústria do petróleo, além de representantes de governos, ONGs e órgãos multilaterais como as Nações Unidas e a Agência Internacional de Energia (IEA).

Juntos, esses atores discutiram soluções para os constantes desafios impostos pelo tráfego rodoviário, entre os quais o meio ambiente. "Há quatro anos o Japão decidiu que iria começar a utilizar biocombustível e o etanol seria uma das opções para atender aos compromissos que o país assumiu com o Protocolo de Kioto", disse Terabe ao Valor no Challenge Bibendum.

A Brazil-Japan Ethanol Co. foi criada com o objetivo de importar álcool via Petrobras e fazer a distribuição no mercado japonês. Segundo Terabe, apesar de o Japão ter aprovado a mistura de 3% de álcool à gasolina ainda é preciso esperar por condições que viabilizem o negócio. Entre elas a redução da tarifa de importação, hoje em 20,3%, que já está na mira do governo japonês.

Com a adição de 3% de álcool na gasolina, o consumo potencial no Japão chega a 1,8 bilhão de litros por ano - 12% da produção de etanol do Brasil em 2006, estimou Terabe. Com 10% de mistura, a demanda passaria para 6 bilhões de litros por ano, ou algo como 30% a 35% da produção brasileira.

A Toyota, maior fabricante de veículos do país asiático, sinalizou, no recente Salão do Automóvel de Tóquio, que concorda com a mistura de até 10%. Mas há entre fabricantes japoneses de veículos posições mais conservadoras em relação à adoção deste percentual.

O que parece fora de questão no momento no Japão é o carro flexfuel. Em seu esforço para difundir o etanol no Japão, a Petrobras também enfrenta a resistência de refinadores em um mercado de combustíveis estável. A adição de 3% de álcool no combustível dos carros pode significar menos 3% no mercado de gasolina, que já não cresce.

Com 30 refinarias, o Japão processa aproximadamente 3,8 milhões de barris por dia - no Brasil são cerca de 1,8 milhão de barris diários - e importa quase 100% do petróleo que consome. É por isso que a refinaria de Okinawa, com capacidade para processar 100 mil barris de petróleo por dia, poderá ser uma peça importante na introdução do etanol no Japão.

Ela poderá ser uma ferramenta indutora para que alguns dos oito grupos refinadores do país aceitem fazer a mistura direta do álcool à gasolina. Paralelamente, a Petrobras trabalha para garantir o fornecimento de etanol de forma duradoura ao Japão. Terabe lembrou que empresas japonesas procuram produtores de álcool no Brasil em busca de parcerias.

"No futuro, acredito que poderá haver contratos de fornecimento de longo prazo com o Japão", disse Terabe. Este processo envolve desde produção até logística, passando pela estocagem do produto.

A refinaria da qual a Petrobras comprou 87,5% da subsidiária da ExxonMobil (os outros 12,5% continuam com a Sumitomo) tem capacidade para refinar óleo leve e deverá passar por uma reforma nos próximos anos para passar a processar petróleo pesado importado do Brasil.

Estimativas não confirmadas pela Petrobras indicam que a unidade poderia receber aporte de US$ 871 milhões em sua modernização. A refinaria é equipada com terminal de petróleo e derivados e tem três pieres para atracação de navios.



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