Dez dos principais setores da indústria brasileira planejam investir R$ 447 bilhões entre 2008 e 2011, um montante que deverá ser fundamental para aumentar a capacidade produtiva das empresas nos próximos e evitar gargalos na economia, aponta um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os números indicam que, no período, os investimentos industriais devem ter uma expansão real de 12,4% ao ano em relação ao realizado entre 2003 e 2006. Nesse cenário, a expectativa é que o elevado nível de utilização de capacidade instalada em alguns setores - como refino de petróleo e álcool, metalurgia básica e veículos automotores - cederá ao longo dos próximos anos.
Os grandes investidores dos próximos quatro anos devem ser dois setores produtores de commodities - o de petróleo e gás (com R$ 202,8 bilhões) e a indústria extrativa mineral (com R$ 81,3 bilhões, mais de 90% de responsabilidade da Companhia Vale do Rio Doce). Juntos, eles respondem por 63,6% do total mapeado pelo BNDES para os próximos quatro anos. Também aparecem com destaque o segmento automotivo, com investimentos previstos de R$ 35 bilhões e o de siderurgia, com R$ 31,2 bilhões.
Para o chefe de departamento da Área de Pesquisa Econômica (APE) do BNDES, Fernando Puga, os números indicam que a economia brasileira "engatou", podendo crescer a um ritmo anual de 5% ou até mais. "Os números confirmam a manutenção de um vigoroso ciclo de crescimento, sustentado por um aumento significativo de investimentos", afirma Puga.
O economista diz que o fato de quase dois terços das inversões esperadas se concentrarem em setores produtores de commodities não é um ponto negativo. "São dois segmentos intensivos em capital, que criam uma forte demanda de máquinas e equipamentos. Além disso, as empresas do setor, como a Petrobras, tem um forte desenvolvimento tecnológico."
O economista do BNDES Gilberto Rodrigues Borça Jr., co-autor do estudo, diz que esses segmentos têm um grande efeito dinamizador sobre o resto da economia. Acreditar que o efeito será limitado, por se tratar de grandes produtores de commodities, seria uma visão míope, avalia ele. Dos R$ 202,8 bilhões a serem investidos entre 2008 e 2001 no setor de petróleo e gás, 75% são de responsabilidade da Petrobras.
Esses investimentos são uma boa notícia para o nível de ocupação da capacidade instalada do setor de refino de petróleo e álcool, que em setembro estava em 91,4%, acima do 90,4% do mesmo mês do ano passado, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para Puga, as perspectivas quanto ao nível de ocupação do setor não são preocupantes.
O estudo mostra ainda que a indústria sucroalcooleira planeja investir R$ 20,5 bilhões nos próximos quatro anos, o que também tende a reduzir o nível de ocupação do segmento de refino e álcool. O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, lembra ainda que, no setor sucrooalcooleiro, a expansão de capacidade é mais rápida, porque se demora relativamente pouco para colocar uma usina de pé. "No caso dos investimentos em petróleo e gás, os investimentos levam mais tempo para maturar", diz ele, que acredita, porém, em queda do nível de ocupação ainda no primeiro semestre de 2008.
Puga e Borça destacam também os investimentos previstos na área de insumos básicos, como siderurgia, papel e celulose e petroquímica. No caso da siderurgia, a grande notícia é que há previsão de construção de novas plantas, e não apenas de modernização das existentes, nota Borça. Entre eles, é possível citar a implantação da usina siderúrgica integrada por parte da CSN Itaguaí e o alto forno IV da Usiminas. Com aumento da capacidade produtiva, também deve haver redução da ocupação no setor de metalurgia básica (que engloba a siderurgia), atualmente em 91,4%. A demanda por aço no mercado interno é um dos destaques deste ano, devido ao bom desempenho da construção civil e da indústria automobilístico, diz Puga, lembrando ainda o baixo custo de produção do aço no Brasil.
Borça chama a atenção para o setor petroquímico. A expectativa é que as empresas do setor invistam R$ 27,4 bilhões entre 2008 e 2011, bem acima do R$ 5,7 bilhões realizados entre 2003 e 2006. Isso significa uma taxa de crescimento anual esperada de 37,1%. A maior novidade do segmento são os projetos do setor alcoolquímico, que usam o etanol para fazer insumos para a indústria petroquímica, em vez de derivados de petróleo. "É uma busca de rotas alternativas ao petróleo, devido à alta dos preços do produto", diz Puga.
No caso da indústria de papel e celulose, os investimentos devem crescer 19,4% ao ano, o que deve ser suficiente para manter sob controle o nível de utilização da capacidade instalada do segmento, que ficou em 87,6% em setembro.
O levantamento do BNDES também mostra uma intenção elevada de investimentos na indústria automobilística, que deve aumentar de R$ 22,3 bilhões no período 2003-2006 para R$ 35 bilhões entre 2008 e 2011. Para Puga e Borça, o mercado interno tem garantido o dinamismo ao segmento, devido à queda dos juros e ao alongamento dos prazos de financiamento. Com isso, as montadoras ficam mais confortáveis para investir, o que é importante para um setor que mostrou uma capacidade instalada de 88,7% em setembro, bem acima dos 82% registrados um ano antes. O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, acredita que aí pode haver algum gargalo no curto prazo, porque uma fábrica costuma levar cerca dois anos para entrar em operação, segundo ele. Pode haver redução de exportações e aumento de importações para atender a demanda interna, mas o nível de ocupação é de fato elevado, diz ele. Borges se mostra otimista, porém, quanto à evolução geral da capacidade instalada na economia.
Para ele, o nível de ocupação deve começar a declinar já no fim deste ano, devido à maturação de investimentos feitos nos últimos meses. De janeiro a setembro, o investimento total na economia cresceu 11% em relação ao mesmo período de 2006, estima Borges.
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