A indústria está preparada para vender entre 10% e 30% mais no fim deste ano em relação ao ano passado e não está preocupada com falta de insumos, peças ou outros sobressaltos de última hora. O aumento da massa salarial, a oferta de crédito e o ritmo forte das vendas nos primeiros nove meses do ano levaram o varejo a antecipar encomendas. Assim, em clima de tranqüilidade, fabricantes de celulares, calçados, móveis, artigos de vestuário e eletrodomésticos chegaram a outubro com uma parcela maior da produção de fim de ano já vendida na comparação com 2006. Algumas empresas, como Nokia, Democrata, e Atlas Eletrodomésticos relatam que praticamente pararam de aceitar novas encomendas para 2007.
Focada no mercado interno, a Nokia, fabricante de celulares, está trabalhando em três turnos para dar conta da demanda. "As encomendas para o fim deste ano estão 30% acima do mesmo período de 2006", diz o diretor de Novos Negócios da empresa, Gustavo Jaramillo "Estamos tentando extrair leite de pedra para entregar alguma coisa a mais, mas a carteira de pedidos está cheia", diz Jaramillo. Segundo ele, além do aquecimento forte da economia, a migração tecnológica da Vivo para o sistema GSM também tem sido importante para o aumento das vendas.
A Democrata também vive um bom momento. A fabricante de calçados masculinos viu as encomendas para o fim do ano aumentarem 10,6% em relação ao mesmo período de 2006, de acordo com o diretor comercial, Marcelo Palodetto. Para dar conta dos pedidos, a unidade empresa em Camocim (CE) está fazendo horas extras, devendo trabalhar nos quatro sábados de novembro. Não há contratações temporárias.
Segundo Palodetto, a empresa não tem como atender a novos pedidos para este ano, porque a produção está totalmente tomada. O bom desempenho do mercado interno tem sido decisivo para a Democrata em 2007. No ano passado, 50% da produção era voltada para a exportação. Com o dólar barato e a expressiva expansão da economia doméstica, essa proporção caiu para 40%. A expectativa da empresa é que a produção fique no mesmo nível do ano passado, enquanto o faturamento deve registrar aumento de 9%.
No pólo calçadista gaúcho o otimismo é menor. O presidente da Calçados Bibi, especializada em produtos infantis, Marlin Kohlrausch, espera faturar entre R$ 120 milhões e R$ 130 milhões em 2007 (ante R$ 113 milhões no ano passado), crescimento de 10% em volume sobre os 3,5 milhões de pares produzidos em 2006.
Na Black & Decker, fabricante de ferros de passar e ferramentas, as vendas devem aumentar 20% no mercado interno este ano. Segundo o diretor industrial Domingos Dragone, a economia esquentou a partir de agosto, depois de um segundo trimestre fraco. O executivo conta que as negociações com varejo estão mais tranqüilas, o que é "bom sinal". A empresa se abasteceu de matérias-primas importadas para a eventualidade de consumo acima do esperado. No mercado interno, não há dificuldades na compra de matéria-prima.
Apesar do aumento do faturamento no mercado interno, a Black & Decker deve contratar poucos trabalhadores temporários neste fim de ano. Serão entre 10 a 30 pessoas, menos de 4% do quadro total de 650 funcionários da empresa. Devido ao dólar fraco, as exportações devem cair 25% este ano. Nesse contexto, a Black & Decker realocou os funcionários, que foram direcionados para as linhas do mercado interno.
Valéria Molina, diretora da área de computadores pessoais para consumo da HP, conta que a empresa está se preparando para um estouro de vendas de notebooks no Natal. O preço dos notebooks da HP caiu 40% desde dezembro de 2006, de R$ 2.699 para R$ 1.599. O produto é vendido em dez vezes, o que dá uma prestação de R$ 150.
Três fatores contribuem para o boom de consumo: os benefícios fiscais do governo, o câmbio barato e o aumento do crédito. Devem ser vendidos 9,7 milhões de computadores pessoais de todas as marcas no país este ano. O varejo vai representar 35% do total. Em 2006, pessoas físicas e pequenas empresas representaram 16%.
Na Atlas Eletrodomésticos, de Pato Branco (PR), o volume de vendas cresceu 6% de janeiro a outubro, mas houve uma arrancada nos dois últimos meses e a produção teve de ser ampliada em 16% a partir de setembro. Com produtos voltados para as classes C e D, a empresa exporta para 35 países e as vendas externas aumentaram 6% no ano, mas o crescimento maior foi verificado no mercado interno.
Com o aumento na demanda, clientes tradicionais têm preferência nos pedidos para os próximos dois meses. A direção da empresa informa que a capacidade de produção está quase esgotada. A Atlas tem 1,2 mil empregados e fabrica fogões e máquinas de lavar roupas. A empresa não enfrenta problemas com fornecedores. No fim do ano, o que a Atlas mais vende são fogões de quatro bocas, mais baratos e usados para presentes.
As vendas da Renauxview, fabricante de tecidos de Brusque (SC), melhoraram em outubro. Depois de um segundo trimestre morno, a empresa informou que viu reação do mercado no terceiro trimestre e que já vendeu cerca de 70% do que estava programado para o quarto trimestre ainda no mês de outubro. Armando Hess de Souza, presidente da companhia, diz que isso é um bom sinal. A projeção é vender 8% a mais neste último trimestre do que em 2006. No ano passado, no mesmo período, a empresa havia vendido cerca de 50% do previsto para o fim do ano.
Hess acredita que há um efeito positivo no mercado, relacionado à alta de alíquotas de importação de vestuário, de 20% para 35%. O empresário acredita que até dezembro ainda ocorrerão pedidos de última hora. O setor, diz ele, está mais dinâmico, com as redes trabalhando com menos estoques. Há três anos, afirma, a Renauxview tinha apenas duas coleções ao ano e hoje tem quatro.
A Buettner, indústria têxtil do segmento de cama, mesa e banho, esperava demanda mais forte para o quarto trimestre, que ainda não ocorreu. O presidente da empresa, João Henrique Marchewsky, diz que não há uma corrida do varejo para as encomendas e acredita que isso ocorre porque há um redirecionamento cada vez maior de exportadores para o mercado interno, ampliando a oferta e a concorrência. Ele explica que a empresa se preparou com um estoque maior para este fim do ano, quando espera vender 25% a mais do que no último trimestre de 2006.
O fraco desempenho de outubro faz Marchewsky avaliar que a expectativa inicial para o fim do ano pode ser frustrada. Segundo ele, a empresa poderá encerrar o último trimestre com o mesmo volume de vendas do ano anterior, e vendas totais de cerca de R$ 10 milhões/mês no mercado interno.
A confecção Rota do Mar, de Pernambuco, faz 75 mil peças por mês e as encomendas estão 15% a 20% maiores em relação a 2006. Os pedidos não serão integralmente atendidos pois a empresa não apostava em ano tão bom. O crescimento vai ficar em apenas 5%.
0 Comentários:
Postar um comentário
Meus queridos e minhas queridas leitoras
Não publicamos comentários anônimos
Obrigada pela colaboração