"EU ACUSO
Posso dar a você uma certeza: tudo o que a mídia paulista está fazendo com o padre Lancellotti, está fazendo sem ter nada sequer parecido com a certeza que tenho, em meu coração, da inocência dele. Faz para destruir, independentemente de as acusações contra ele serem ou não verdadeiras.
- por Eduardo Guimarães (http://edu.guim.blog.uol.com.br/)
Eu acuso os grandes meios de comunicação paulistas de terem sido os artífices diabólicos do julgamento sumário do padre Julio Lancellotti e de terem, em seguida, defendido sua obra nefasta através de tramas absurdas e culpáveis.
Eu acuso o poder Judiciário e as polícias de São Paulo de estarem se mostrando cúmplices, ao menos por fraqueza de espírito, de uma das maiores injustiças do século.
Eu acuso autoridades de terem tido oportunidade de impedirem ataques que sofreu o padre Lancellotti e de terem-na abafado, de se tornarem culpadas deste crime de lesa-humanidade com um objetivo político.
Eu acuso a revista Veja, a Folha de São Paulo e o Estadão de serem cúmplices do mesmo crime, todos, sem dúvida, por interesses políticos, e o resto da grande imprensa, devido a esse espírito corporativista que torna redações em arcas santas, inatacáveis.
Eu acuso as autoridades policiais de estarem fazendo uma sindicância rápida, e quero com isso dizer uma sindicância da mais monstruosa parcialidade, onde temos um monumento indestrutível de inocente audácia.
Eu acuso os três grandes periódicos, os senhores Mesquita, Frias e Civita de terem redigido - ou mandado redigir - relatórios mal-intencionados, a menos que um exame médico declare esses senhores doentes de algum mal da vista e de julgamento.
Eu acuso os governos de São Paulo, do PSDB e do PFL, de terem liderado na imprensa, particularmente no Estadão, na Folha e na Veja, uma campanha abominável contra o padre Lancellotti por ele ter ousado questionar as rampas antimendigos e, assim, questionado o intocável (para a mídia paulista) José Serra.
Eu acuso a polícia paulista de ter violado a lei ao propiciar o linchamento de um acusado por conta de uma peça de acusação que inexiste e de um processo que deveria ser mantido secreto até haver algum elemento mais conclusivo que permitisse a enxurrada de ilações contra o padre Lancelloti.
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Não sou advogado do padre Lancelloti, mas, diante de Deus, com o que sei do homem que batizou meu filho, que catequizou minha filha, que saciou a fome de minha família há 17 anos, que buscou notícias sobre minha saúde todos os dias enquanto eu me recuperava de um grave acidente de carro, eu exijo, em nome de Deus, em nome da verdade, em nome da decência, que os Mesquita, os Frias, os Civita, Serra, enfim, que todos aqueles que têm motivos para promover o linchamento do padre, que tenham o pingo de decência e parem de provocar, no seio da sociedade, julgamentos sumários por achar ou por ouvir dizer.
Há gente de bem afirmando que o padre deu o carro ao delinqüente depois que este mandou espancarem o religioso e sua mãe. Eu acredito.
Há gente de bem afirmando que os delinqüentes fizeram ameaças aos colaboradores do padre Lancellotti. Eu acredito.
Há gente de bem dizendo que ajudou o padre a levantar recursos para ceder à chantagem. Eu acredito.
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Não sou Émile Zola, mas não acredito que o capitão Dreifuss tenha sido tão mais importante para a França do que o padre Lancellotti tem sido, nestes anos todos, para milhares e milhares de pessoas desvalidas, para as quais a sociedade não liga.
Não posso dar a você a certeza da inocência do padre. Ela é minha e baseia-se em minha intuição, em minha capacidade de julgamento de seres humanos, que, por saber o que só eu sei sobre ela, me dá a certeza indivisível que me possui.
Mas posso dar a você uma certeza: tudo o que a mídia paulista está fazendo com o padre Lancellotti, está fazendo sem ter nada sequer parecido com a certeza que tenho, em meu coração, da inocência dele. Faz para destruir, independentemente de as acusações contra ele serem ou não verdadeiras."
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