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terça-feira, 28 de agosto de 2007

A OAB cansada de D'Urso

Era 27 de agosto de 1980. Sede da OAB nacional, à tarde, após o almoço. O então presidente da entidade Seabra Fagundes, junto ao presidente da Seccional São Paulo, insistiam na identificação de agentes e ex-agentes dos serviços de segurança suspeitos do atentado sofrido pelo jurista Dalmo Dallari - seqüestrado e agredido em 02 de julho de 1980, em São Paulo - que terminou arquivado.

Na ante-sala de Seabra Fagundes, a secretária com 40 anos de serviço seguia sua rotina. Naquele momento separava a correspondência. Ao abrir um envelope grande, eclodiu uma forte explosão. Era uma carta bomba. Dona Lyda Monteiro da Silva não resistira aos ferimentos e faleceu, vítima daquele atentado terrorista de grupos de extrema direita, inconformados com a abertura democrática.

No mesmo dia outra carta bomba explodiu no gabinete do vereador da cidade do Rio de Janeiro Antônio Carlos de Carvalho, mutilando gravemente seu assessor de 63 anos e causando ferimentos mais leves em outras pessoas.

Antes disso vários atentados houveram, sem vítimas:

Em 1980:

* 18/01 – desativada bomba no Hotel Everest, no Rio, onde estava hospedado Leonel Brizola.
* 27/01 – bomba explode na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, durante comício do PMDB.
* 26/04 – show 1º de maio – 1980 – bomba explode em uma loja do Rio que vendia ingressos para o show.
* 30/04 – em Brasília, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São Paulo, bancas de jornal começam a ser atacadas, numa ação que durou até setembro.
* 23/05 – bomba destrói a redação do jornal ‘Em Tempo’, em Belo Horizonte.
* 29/05 – bomba explode na sede da Convergência Socialista, no Rio de Janeiro.
* 30/05 – explodem duas bombas na sede do jornal ‘Hora do Povo’, no Rio de Janeiro.
* 27/06 – bomba danifica a sede da Casa do Jornalista, em Belo Horizonte.
* 11/08 – bomba é encontrada em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, num local conhecido por Chororó. Em São Paulo, localizada uma bomba no Tuca, horas antes da realização de um ato público.
* 12/08 – bomba fere a estudante Rosane Mendes e mais dez estudantes na cantina do Colégio Social da Bahia, em Salvador.
* 27/08 – no Rio, explode bomba-carta enviada ao jornal ‘Tribuna Operária’. Outra bomba-carta é enviada à sede da OAB, no Rio, e na explosão morre a secretária da ordem, Lyda Monteiro. Ainda nesta data explode outra bomba-carta, desta vez no prédio da Câmara Municipal do Rio, mutilando o assessor José Ribamar de Freitas.

E depois disso a escalada terrorista de direita continuou:

* 04/09 – desarmada bomba no Largo da Lapa, no Rio.
* 08/09 – explode bomba-relógio na garagem do prédio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, em Viamão.
* 12/09 – duas bombas em São Paulo: uma fere duas pessoas em um bar em Pinheiros e a outra danifica automóveis no pátio da 2ª Cia. De Policiamento de Trânsito no Tucuruvi.
* 14/09 – bomba explode no prédio da Receita Federal em Niterói.
* 14/11 – três bombas explodem em dois supermercados do Rio.
* 18/11 – bomba explode e danifica a Livraria Jinkings em Belém.
* 08/12 – o carro do filho do deputado Jinkings é destruído por uma bomba incendiária em Belém.

1981:

* 05/01 – outro atentado a bomba em supermercado do Rio.
* 07/01 – na Cidade Universitária, no Rio, uma bomba explode em ônibus a serviço da Petrobrás.
* 16/01 – bomba danifica relógio público instalado no Humaitá, no Rio.
* 02/02 – é encontrada, antes de explodir, bomba colocada no aeroporto de Brasília.
* 26/03 – atentado às oficinas do jornal ‘Tribuna da Imprensa’, no Rio.
* 31/03 – bomba explode no posto do INPS, em Niterói.
* 02/04 – atentado a bomba na residência do deputado Marcelo Cerqueira, no Rio.
* 03/04 – parcialmente destruída, com a explosão de uma bomba, a Gráfica Americana, no Rio.
* 28/04 – o grupo Falange Pátria Nova destrói, com bombas, bancas de jornais de Belém.” (Dickson M. Grael)

Só pararam com o famoso atentado do Riocentro, ocorrido na noite de 30 de abril de 1981, véspera do Dia do Trabalhador.

Felizmente esses episódios fazem parte do passado. A redemocratização tornou-se irreversível, e finalmente em 2002, um governo popular chegou à presidência.

Lembro desses episódios, porque a OAB teve papel relevante na luta pela redemocratização e pela constituinte que veio a acontecer em 86, sendo promulgada em 88.

Nesse contexto, fica extremamente difícil entender o papel do presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, ao prestar-se a servir um movimento como o CANSEI. Tudo bem que ele tenha ambições políticas e seja ligadíssimo aos DEMO-tucanos. Tudo bem que ele queira atender aos interesses de seus amigos José Serra, Kassab e Alckmin.

Mas esse movimento CANSEI, ao se fazer ôco de idéias e de princípios (de propósito, para desembocar facilmente em um "fora Lula"), acabou por promover o levante de gente entusiasta daqueles atentados de 1980 / 1981. Basta visitar as páginas do Orkut desse pessoal para constatar.

Além disso, o Brasil ainda tem enormes desafios a vencer. D'Urso, se quisesse, poderia engajar-se em apoios à reforma do judiciário que impedisse infindáveis recursos que levam a impunidade.

Poderia empenhar-se por leis que obrigasse à transparência no orçamento (inclusive do poder judiciário), à abertura de arquivos ao público.

Lutar por controles que impeçam advogados de traficantes associarem-se ao tráfico, lutar por teleconferência em audiência de presos perigosos. E tantas causas nobres, em vez de um movimento oportunista, elitista e anti-popular como esse CANSEI. O Brasil agradeceria. A memória de Dona Lyda Monteiro também.

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