Derrotado nas eleições de 2006, o "Partido da Mídia" vai à forra, e quer desqualificar o presidente e de quebra seus eleitores, de qualquer modo.
Por Gilson Caroni Filho
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Muito se escreveu sobre a reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva e a derrota dos chamados "formadores de opinião". Sem dúvida, como já tive oportunidade de destacar, a vitória eleitoral de Lula pôs a nocaute o campo jornalístico brasileiro, seus estatutos de verdade e a crença nos dispositivos que regulam a relação entre os responsáveis pela produção e difusão do noticiário. Uma derrota acachapante para um campo que se notabiliza por considerar que cabe exclusivamente a ele, como suporte do capital, monopolizar o uso da razão pública.
Um aparelho ideológico cioso de sua centralidade.Em outras palavras, o poder midiático se constitui não mais como mediador, mas como incorporação acabada da própria opinião pública. Se a representação parlamentar de oposição é incapaz de estabelecer uma dinâmica de competição de políticas públicas de longo prazo, cabe ao monopólio informativo assumir o papel de único partido de direita com projeto definido: uma estratégia bem articulada que reitere o caráter autoritário da estrutura social brasileira.
E é a isso que tem se dedicado, com afinco, a grande imprensa brasileira em colunas, editoriais e artiguetes.A forma como o discurso noticioso se organiza e se reproduz, ao tratar do acidente com o Airbus A-320 da TAM, não deixa qualquer dúvida quanto aos objetivos. Trata-se de deslegitimar Lula não tanto pelo que ele faz, mas pelo que representa: uma ruptura com a concepção clássica de cidadania como privilégio de classe. Ou na definição precisa de Marilena Chauí uma concessão regulada e periódica da classe dominante às demais classes sociais que poderá ser-lhes retirada quando os dominantes assim o decidirem.
É disso que se trata. É o que explica um comportamento que talvez só encontre paralelo nos episódios que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, em 1954. Ou ao golpe militar, 10 anos depois. Redações e ilhas de edição se transformaram em trincheiras do udenismo redivivo.Articulistas, colunistas e jornalistas-blogueiros convertem-se em "briosos" quadros de um "parlamento sem voto". Imaginam-se tutores da opinião, senhores da informação. Sabem que mais que mais que o tucanato, foi o Partido Mídia o grande derrotado em 2006, e não pouparão esforços para a desforra.O facciosimo, o ódio de classe e a índole golpista desses respeitáveis senhores e senhoras da mais "conceituadas" publicações não têm outro fim que não seja o da preservação da desigualdade, do mandonismo e de uma estrutura jurídica que, não definindo direitos, assegura privilégios.
É preciso golpear a qualquer preço a constituição de uma efetiva esfera pública, valendo-se do discurso ideológico travestido de "opinião avalizada de especialistas em cidadania.". Disso dependem para continuar como atores políticos.Lutam tanto pelo emprego quanto pela auto-representação.Precisam da anomia para se apresentar como fiadores da ordem. E pouco importa quão excludente ela seja.Quando em editorial, a Folha de S.Paulo (2 de agosto de 2007) afirma que"não procede, tampouco, a acusação de golpismo.
O "Fora Lula" ameaça tanto a democracia quanto o "Fora FHC", entoado pela militância petista, a ameaçava no passado -em nada. Nem se pode acatar o argumento, implícito nas críticas do governismo, de que a organização de protestos seja direito circunscrito às elites oriundas do sindicalismo", estamos diante de palavras vadias, argumentação falaciosa, sofisma barato.
Não ocorreu ao editorialista lembrar que o Fora FHC" foi abafado pela mesma imprensa que orquestra o Fora Lula" Uma palavra de ordem que aglutina as forças mais reacionárias do país em movimentos de clara inclinação desestabilizadora. Outro articulista, dono de um conhecido blog, indaga nas páginas do Globo:"então me respondam: E quando Lula, assim do nada, cita o golpe militar de 64 e diz que ninguém mais do que ele é capaz de pôr gente na rua, o que isso significa?".
A resposta é tão cristalina como água. Significa, prezado jornalista, o grande pavor da sua corporação. É ela quem teme as ruas. Sabe que são, por excelência, os espaços vitais para que o indivíduo, acomodado entre quatro paredes de sua casa, se emancipe do espetáculo e assuma a cidadania.
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