Governador do Piauí reage e Zottolo desculpa-se

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O presidente da Philips na América Latina, o brasileiro Paulo Zottolo, pediu ontem publicamente desculpas ao governador do Piauí, Wellington Dias (PT) e a toda população do Estado, por ter dito em entrevista ao Valor Ecônimico que "não se pode achar que o país é um Piauí, no sentido de tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Na entrevista, Zottolo justificava a participação da multinacional no movimento de empresas e entidades da sociedade civil "Cansei", que fará manifestações públicas hoje. Zottolo citou o Estado em um contexto em que defendia uma maior mobilização para se quebrar o que chamou de "marasmo cívico".

As declarações do presidente da Philips tiveram repercussão amplificada no Piauí, por terem coincidido com o aniversário de Teresina, a capital do Estado. O governador afirmou que o pensamento de Zottolo era um sinal "de que o capitalismo afasta o homem do ser humano".

"Que Deus dê a ele a oportunidade de conhecer o Piauí e os homens e mulheres que aqui vivem. Para se ter uma idéia, o Piauí tem 80% de suas florestas nativas preservadas e produz oxigênio para o Brasil e para o mundo", afirmou Wellington Dias em uma nota oficial (ler íntegra do nota à página A-15). Em entrevistas, o governador disse que procuraria mobilizar o Congresso Nacional e outros governadores da região contra a empresa.

No Senado, o senador Mão Santa (PMDB-PI) classificou o executivo de "tolo, ignorante e imbecil" , enquanto Heráclito Fortes (DEM-PI) preferiu ironizar. "Também cansei, da arrogância e da prepotência. A campanha cívica é meritória, mas é preciso ter respeito e equilíbrio com os Estados da Federação", afirmou o senador do DEM em discurso dedicado ao desagravo ao seu Estado.

O portal eletrônico piauiense de notícias "180 graus" divulgou que seis horas depois de colocar em sua página a entrevista de Zottolo, recebeu 2.028 mensagens de leitores. Todos, com exceção de dez, atacando o presidente da Philips. Em blogs de jornalistas piauienses, foi pedido publicamente o boicote aos produtos da multinacional no Estado. A página eletrônica do jornal "Meio Norte" informou que o próprio Zottolo telefonou ao governador piauiense Wellington Dias para se desculpar. De acordo com o jornal, Dias teria então pedido ao presidente da Philips para a América Latina que a retratação fosse feita publicamente.

A participação da multinacional no "Cansei" fez ainda com que a empresa fosse denunciada junto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) pela CUT, por suposta ingerência política nos assuntos do País. Um documento assinado pelo presidente da CUT Artur Henrique, pelo secretário-geral Quintino Severo e pelo secretário de Relações Internacionais, João Felício, foi protocolado anteontem no Ponto de Contato Nacional (PCN) brasileiro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Brasília, e também na Holanda, sede da multinacional, segundo informou a própria central sindical.

Segundo a central, as diretrizes formuladas pela OCDE vedam a participação de empresas de países membros em atividades políticas. O movimento , que realiza hoje na Praça da Sé em São Paulo a sua maior mobilização, nega ter esta conotação.