É bom o PT procurar um candidato a presidente da República para 2010. O Presidente Lula avisa que ele não dará guarida àqueles que, no partido, sonham com seu terceiro mandato consecutivo. "Isso seria brincar com a democracia. Não tem hipótese. Não aceito", reagiu ontem, durante café da manhã no Palácio do Planalto com grupo de 11 jornalistas.
Bem-humorado e queimado pelo sol do Carnaval no Guarujá, Lula anunciou, no entanto, que pretende eleger "um companheiro" para seu sucessor. Para ele, "a pior coisa do mundo é terminar o mandato sem ninguém querendo você no palanque". Educado, não citou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, cujos aliados evitaram chamar ao palanque nas eleições de 2002.
O Presidente afirmou que os ministros da área econômica - Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Henrique Meirelles (Banco Central) - não deixarão seus cargos com a reforma ministerial. Disse que eles estão "blindados pelo sucesso da economia". E desfiou uma série de avaliações otimistas do quadro econômico, como os US$ 100 bilhões que o Brasil detém em reservas cambiais, esquecido de que o PIB em 2006 cresceu menos do que 3%.
Lula descarta o apoio à tese do governador Sérgio Cabral de se estadualizar a legislação penal. Para o Presidente, se isto for feito, logo, logo as prefeituras também vão querer legislar sobre criminalidade. Ele diz que a violência no país tem a ver com a falta de esperanças de uma minoria dos jovens com o estudo e com o trabalho e que não se pode, por causa dessa minoria, "colocar toda a juventude brasileira num regime repressivo".
O Presidente Lula anunciou dois programas que pretende lançar, logo após a implantação do Programa de Aceleração Econômica (PAC): um para a Educação, que está mais adiantado; e outro voltado para os jovens. Na Educação, o programa deverá incluir bolsas de estudos usando parte das dívidas das empresas com a União e a Previdência; para a juventude, a idéia é promover um grande mutirão de empregos junto a empresas privadas. Leia a seguir trechos da entrevista do Presidente Lula
Terceiro mandato
- Seria brincar com a democracia. Não tem hipótese. Não aceito. Fui eleito, reeleito e penso somente em fazer um bom segundo mandato.
Sucessão
- Quero fazer um bom governo e ter influência na eleição de um companheiro para meu sucessor. A pior coisa do mundo é terminar o mandato sem ninguém querendo você no palanque. Quero poder até recusar convite, de tantos que receberei.
Reforma ministerial
- Nunca tive numa situação tão favorável para montar o ministério que eu quiser. Os partidos têm me deixado à vontade. Todos sabem que a última palavra é do presidente. Tenho visto uma vontade de contribuir que não havia no primeiro mandato. Neste sentido, o segundo turno das eleições foi uma dádiva de Deus. Permitiu que eu me juntasse com pessoas que não tinha juntado no primeiro turno. Agora, até quem votou ou trabalhou contra mim tem disposição de ajudar.
- É sempre assim: acabam as eleições e começam as mudanças partidárias. A movimentação vai até março. Aí acomoda. Eu tenho que esperar. Não posso dar dois ministérios para um partido que depois vai diminuir e dar um para o que vai ficar maior.
Quem fica
- Os ministros da área econômica ficam. Ela está blindada pelo sucesso da economia. Fui à Índia e vi lá eles se vangloriando de que tinham US$ 100 bilhões de reservas cambiais. Fiquei pensando: "Puxa, se o Brasil tivesse essa proteção". Pois é, agora nós temos US$ 100 bilhões de reservas.
Ministros em pânico
- Não existe essa história de que os ministros estão sem conseguir trabalhar porque não sabem se vão ficar. Os ministros estão todos aí, trabalhando muito bem. E eu não estou começando um novo governo. Não tenho que fazer tudo diferente.
Estadualização das leis
- Se der a cada Estado o direito de fazer sua legislação penal, daqui a pouco as prefeituras também vão dizer que têm direito. Enganam-se os que pensam que há uma solução fácil e imediata. Peço apenas que não se tome decisão emocional. O ser humano pode ter uma reação emocional. Até matar, se estiver armado. Mas não o Estado.
Jovens no crime
- O Brasil tem milhões e milhões de jovens pobres, com esperança no futuro. Os outros são exceção. Há de fato algumas centenas de jovens que perderam a esperança. Mas não podemos, por conta desses, colocar toda a juventude brasileira num regime repressivo.
A culpa dos governantes
- Na questão da violência, estamos vendo o resultado do acúmulo de erros de governantes que nunca foram punidos. Quero chamar a nossa responsabilidade, fazer um diagnóstico e levar toda a sociedade a tomar consciência de que a melhor forma de combater a violência é darmos esperança aos jovens de estudar e de trabalhar.
Problema de todos
- É que nem o socialismo. Se formos esperar ele chegar para depois governar, vai demorar muito. Temos que buscar soluções. Por exemplo: há R$ 400 bilhões em processos de empresas inscritas na dívida ativa, R$ 200 bilhões só com a Previdência. Por que não usamos isso? As escolas e universidades transformarem dívidas em bolsas de estudo para jovens?
Crescimento
- Herdamos a viúva com filhos e com os problemas todos dela. Só não veio junto o ex-marido. Mas eu estou feliz, porque chegamos a um nível que nunca se chegou na história do Brasil. Fico analisando a economia e não conheço um momento em que ela estivesse melhor.
- O problema não é crescimento do PIB. Nós estamos cuidando de crescer com distribuição de renda. Não tanto quanto eu queria, mas sem mágicas. Daremos ao mundo uma demonstração de maturidade, estabilidade, coerência. As coisas estão sendo feitas corretamente e estamos a um fio de chegar lá.
Meta de superávit
- Vamos cumprir a meta, mas já não é uma obsessão. Tentar manter os 4,25% de superávit primário, mas usando os 0,5% previstos no Plano Plurianual de Investimentos (PPI). Isso não é gasto, é investimento.
Reforma do FMI
- O FMI podia passar os próximos dez anos tratando de desenvolvimento. Como fazer para inserir os países africanos na economia global, novos projetos para o futuro, como incentivar a África a produzir combustível para o mundo, álcool.
PAC
- Estamos preparando o PAC de tal forma que qualquer ministro que chegar vai ter que executar aquilo que está programado. Vamos ter o Conselho Gestor que vai se reunir semanalmente para fiscalizar, acompanhar o que está sendo feito, se a obra andou, o que está faltando, por que não foi feito, tudo.
PAC da Educação
- Vamos apresentar um grande projeto, uma série de propostas para a educação envolvendo Estados e municípios. Vou colocar na minha agenda visitas a escolas boas e ruins de cada local. Por que uma é boa e outra é ruim? Vamos mapear a situação e agir. Só sei que o Brasil precisa dar um salto nessa área. Não dá para continuar como está.
O PAC da juventude
- Temos seis milhões de estabelecimentos comerciais. Se cada um empregasse um jovem, o problema estava praticamente resolvido. Fizemos a Lei do Aprendiz, mas ela não resolveu o problema. Temos que fazer um programa muito forte para a juventude. Vou conversar com empresários, ver uma forma de fazermos algo. Desafiar os agentes econômicos a juntarem esforços. O que custaria para a Gerdau contratar 50 jovens? Para o jornal de vocês contratar 10 jovens? Se todos fizermos isso durante dois anos poderemos chegar a uma solução.
Impostos altos
- Não são os impostos que estão altos. A arrecadação cresceu, mas não os impostos.
Reforma tributária
- O problema é que todo mundo fala em reforma tributária, mas ninguém aceita abrir mão de nada. Ontem mesmo falei com empresários que quero a reforma e pedi a eles uma proposta. Mas eles não tinham. Por que? Porque cada empresário, cada cidadão, cada governador quer um tipo de reforma. Mas o governo federal vai apresentar sua proposta.
Anti-americanismo
- Os EUA são um parceiro fundamental para o Brasil. Lamento que historicamente eles não tenham dado atenção à América Latina. Acho que agora estamos em condições de estabelecer excelente relacionamento sem subserviência.
Visita de Bush
- O Etanol é, para nós, o assunto mais importante a ser tratado na visita do presidente George Bush. Quero mostrar a ele que o biocombustível não pode ser uma aventura de um só país. É fundamental para o mundo uma nova matriz energética e os EUA precisam nos ajudar a que essa matriz seja a cana de açúcar. Eles não têm que forçar a concorrência do álcool de milho. Deixa o milho para as galinhas!
Petrobras do álcool
- A Petrobras vai ter que entrar nisso. Vamos precisar ter estoques, um mercado regulador para o período de quatro meses de entressafra. Quem pode fazer isso é a Petrobras.
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