O esforço de Lula para conter os ataques a Henrique Meirelles não inibe petistas de lançarem manifesto pedindo mudanças nas políticas de juros e de câmbio conduzidas pelo Banco Central
Apesar do esforço do Presidente Lula para conter o movimento articulado por lideranças petistas para a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o PT desafiou o Palácio do Planalto e reforçou ontem a carga de pressão sobre a instituição. Ao mesmo tempo em que Lula enquadrava o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, porta-voz das críticas de dentro do governo às políticas de juros e de câmbio do BC, o partido soltava em sua página na internet um manifesto no qual prega “um novo padrão de gestão monetária e cambial”. O documento, que contém a assinatura do ministro das Relações Institucionais do governo, Tarso Genro, propõe o controle de capitais, para conter a queda do dólar, ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) .
O manifesto irritou Lula, que, anteontem, já havia escalado os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, para desmentir a possível saída de Meirelles do BC. Lula foi enfático em sua determinação: “Ponham um ponto final nos boatos”. O presidente também passou um pito em Marinho, que explicitou o desejo de líderes do PT de mudanças no comando do BC. E ligou para Meirelles, que estava em Recife, depois de uma parada forçada do avião que o levaria, na noite de quarta-feira, para Portugal. Lula garantiu ao presidente do BC que não há por que mudar a política econômica e reforçou a autonomia do banco, que está em xeque há duas semanas, desde que Mantega cobrou publicamente de Meirelles uma queda mais rápida dos juros.
Esse movimento de blindagem ao presidente do BC foi, porém, ofuscado pela postura desafiadora do PT, que, fortalecido pela conquista da Presidência da Câmara dos Deputados, quer ampliar seu espaço no segundo mandato de Lula. “Não havia por que o PT soltar, neste momento, um manifesto propondo mudanças no câmbio e nos juros. O documento só contribuiu para alimentar boatos que o presidente quer ver estancados”, disse um assessor muito próximo de Lula. A saia justa foi tão grande que, indagada sobre a eventual demissão de Meirelles e sobre o manifesto do PT, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, limitou-se a responder: “Eu preferia não me manifestar sobre esses assuntos. Não são da minha área”.
Um dos signatários do documento do PT, Tarso Genro foi um pouco além sobre o bombardeio em cima do presidente do BC. “Meirelles trabalhou até agora com a autonomia conferida pelo presidente da República. O presidente dá a ele determinadas orientações, metas que o Brasil deve alcançar. E dá autonomia técnica para ele trabalhar. E foi o que ele fez até agora, de forma correta”, afirmou. O ministro reconheceu, e admitiu: “O país tem hoje estabilidade fiscal, prestígio internacional, aumento de poder aquisitivo da população de baixa renda devido à inflação baixíssima, valorização do salário mínimo e capacidade de investimento do Estado como não se via há muito tempo”. “Há uma preocupação com a questão cambial. Mas, que eu tenha conhecimento, não há nenhuma decisão do Presidente a respeito de mudanças no BC ou de mudanças na política monetária do país”, frisou.
Mantega complementou o discurso, ao comentar diretamente o manifesto dos petistas. “O PT é um partido autônomo, que tem direito de expressar suas opiniões, e elas serão analisadas”, afirmou. Ele destacou que as mudanças pleiteadas pelo partido na política econômica já estão sendo feitas. “O PAC, por exemplo, representa uma grande mudança na política econômica, com reforço no investimento. A política monetária também está caminhando na direção correta, com redução da taxa de juros, do custo financeiro. Talvez eles queiram mais. Mas pelo que eu estou vendo, há uma coincidência entre aquilo que nós estamos fazendo e aquilo que eles estão propondo”, assinalou.
Sobre a proposta de controle de capitais, para conter a entrada de dólares no país, Mantega se mostrou contrário. “Para o atual sistema financeiro, é inadequado fazer esse controle. Você faz uma restrição à entrada de capital, paga o preço disso, mas não ganha nada com isso” afirmou. Na avaliação do ministro, a melhor forma de conter o fluxo de capitais que está contribuindo para acelerar a queda do dólar é ir reduzindo a diferença de juros que existe entre a economia brasileira (13% ao ano) e a economia externa (5% ao ano, em média)”, acrescentou. Essa diferença incentiva, inclusive, os exportadores brasileiros a anteciparem a troca de dólares para aplicar os reais em juros.
Meirelles não demonstrou preocupação com os rumores no mercado financeiro sobre sua saída do BC. Comentou apenas que não se sentia pressionado. Na quarta-feira, Guido Mantega negou os boatos, mas admitiu que Meirelles está insatisfeito. Do Recife, Meirelles foi para Lisboa, onde vai participar do Fórum Brasil 2007. O evento, segundo ele, tem como objetivo promover a consolidação comercial e cultural entre o Brasil e Portugal.
Helena
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