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terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A frente ética


O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), processado pelo Ministério Público por desvio de R$ 33 milhões dos cofres públicos, anunciou ontem :“Renuncio ao meu mandato, pode escrever aí, se alguém encontrar algum desvio para a minha conta bancária. Nenhum centavo dos ditos R$ 33 milhões desviados foi parar no meu bolso ou na minha conta”, disse o parlamentar. Deve ter errado a fala. O certo é: Renuncio para não ser cassado ao encontrarem os 33 milhões desviados.

REVISTA VEJA: TUDO SOBRE A “FRENTE ÉTICA”, QUASE NADA SOBRE O PROCESSO MOVIDO CONTRA RAUL JUNGMANN

A revista Veja, nesta semana, levantou a bola da tal “Frente Ética”. A reportagem tem momentos de muito humor, como a ilustração usando o Monte Rushmore, seguida do trocadilho sofrível da legenda: “vontade pétrea”.Por falar na legenda da foto, a frase é daquelas que não parecem fazer parte do mundo dos vivos (pelo menos do que vivem neste país). Vejam só:“Erundina, Gabeira, Alencar, Jungmann e Paulo Renato: vontade pétrea de trazer de volta à Câmara a hegemonia da moralidade e da ética”

Trazer de volta a hegemonia da moralidade e da ética?

Quando isso foi hegemônico? Na época do Regime Militar? Na legislatura que acompanhou o governo de Sarney? Seria uma alusão aos Anões do Orçamento, da época do Collor? Ou ao escândalo da acusação de compra de votos para aprovar a Emenda da Reeleição, na época de FHC?Uma parte considerável da imprensa, por conta do “Mensalão”, fez o possível para passar a idéia de que o Congresso Nacional nunca tivesse visto um único escândalo. Mas a legenda da foto passa de todos os limites.

Aliás, para quem não viu, a imagem está logo abaixo:

Um primor, não é mesmo? Quem teve essa idéia? Isso parece coisa de chefe, que dá “sugestões” (ordens, né?) desse tipo e nenhum subordinado tem coragem de dizer que é uma bobagem.

Sobre Jungmann

O texto fala bem rapidamente do processo de improbidade, com acusação de desvio de cerca de R$ 30 milhões, que foi movido contra Raul Jungmann (dono de um dos rostos do Monte Rushmore-Vejiano). O comentário da revista é rápido, como se isso não merecesse a atenção dos leitores.

O deputado diz estranhar a coincidência das datas, pois justamente agora apareceu o processo. Ele tem direito de ficar preocupado com isso, sem dúvida. Mas o leitor da Veja também pode achar curioso não haver uma reportagem em tom acusatório, como ela sempre faz quando surge uma denúncia contra o Governo. Para todos, sem exceção, devem valer as garantias do Estado de Direito. Raul Jungmann é inocente, a menos que seja condenado em última instância. E tem todo o direito de se defender das acusações. Mas é estranho que a Veja, especificamente nesse caso, não fale praticamente nada. Apenas solta um breve comentário, dentro de um parágrafo usado para elogiar o parlamentar, como se não fosse um tópico digno de nota.

Enfim, a “Frente Ética” começou bem.


Helena

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