A eleição foi uma epopéia. Dizem que Lula chegou a desistir da reeleição, mas o teste das urnas lhe deu popularidade recorde
De bem com a vida: com Marisa, Lula usou discurso popular e fechou o ano como o Presidente mais popular da história recente Ao apagar das luzes de 2006, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou mais um motivo para comemorar. Ele, que vencera o primeiro e o segundo turnos da eleição, ganhou também uma terceira prova de popularidade. Pesquisa CNI/Ibope mostrou que a aprovação de sua gestão chega agora a 71%, índice bastante semelhante ao de março de 2003, quando começou sua gestão (75%). Desde julho, ele também experimenta um crescimento em seu capital de confiança junto ao público. Depois de obter a confiança de 52% da população em julho e 58% em setembro, Lula entrou em dezembro com 68% neste quesito. A nota média de sua gestão foi 7, a maior registrada em seus quatro anos de governo. Lula tem mesmo motivos para rir à toa.
O adversário: Geraldo Alckmin surpreendeu no primeiro turno, mas, isolado, perdeu o discurso e os votos na fase decisiva Ao conseguir a sua reeleição em 29 de outubro,graças a Rede Globo, Folha de São Paulo, Estdão e Veja, Lula pulverizou as teses a respeito da influência dos formadores de opinião sobre a parcela menos politizada da população. Boa parte dos integrantes das classes A e B, escaldados pela sucessão de escândalos que envolveram políticos ligados diretamente a Lula e ao PT, procurou desde o início da campanha eleitoral opções que fizessem frente ao Presidente. No primeiro turno, com um desempenho surpreendente nos momentos finais, o candidato tucano Gerado Alckmin deu mostras de que poderia ser esse homem. A partir deste momento, porém, Lula tomou para si a tarefa de se reeleger. Em lugar de se deprimir, arregaçou as mangas. Agiu em vez de reclamar. Ele pôs de lado os que taxou de “aloprados” do PT, assumiu a articulação política de sua campanha e, ao mesmo tempo, multiplicou em suas andanças pelo País e no horário eleitoral gratuito as mensagens ao feitio popular. Conjugou o uso de ferramentas à mão do poder, como o programa Bolsa Família, com a força de sua imagem pessoal e a pouca capacidade de mobilização dos partidos de oposição.
Mineiro: Aécio escolheu uma reeleição fácil. Pelo Ceará, Ciro Gomes tornou-se o deputado mais votado do País e pode sonhar com 2010 a lógica social-democrata de todos os governos depois da redemocratização do País. Manteve os mesmos princípios de política econômica e fez sua a bandeira da estabilidade. Reforçou as iniciativas que, nos governos anteriores, já eram chamadas de Rede de Proteção Social: as políticas sociais, muitas de caráter assistencialista, que hoje formam o programa Bolsa Família. Com esse conjunto de ações, tirou da oposição muito da sua capacidade de discurso, ou o “verbo”. Só restou ao PSDB e ao PFL bater na questão ética e moral. Mas, com pouca capacidade de mobilização da sociedade, os dois partidos não foram capazes de retomar o poder que perderam para Lula em 2002. Ainda assim, “se não fossem os escândalos”,“Lula teria vencido no primeiro turno com 80% dos votos”.
As circunstâncias políticas ajudaram o Presidente. Ainda em 2005, quando o jogo sucessório começou a se formar, dois de seus potenciais adversários escolheram outros caminhos. O então prefeito de São Paulo, José Serra, não se esforçou para garantir a legenda do PSDB, atento a uma eleição fácil para o governo de São Paulo, o que acabou acontecendo. Em Minas, Aécio Neves rapidamente calculou que seria melhor se reeleger com expressão do que enfrentar Lula. Na brecha deixada pelos nomes mais fortes, Alckmin acreditou ser a alternativa, mas a verdade é que ele fez sua campanha praticamente sozinho, sem seus companheiros de partido.
Lulismo: carisma do presidente definiu reeleição e separou formadores de opinião Se no primeiro turno o vôo solo de Alckmin o levou adiante, no segundo ele recuou. Lula fez, na primeira fase da eleição, 46,6 milhões de votos (48,61%) e Alckmin 39,9 milhões (41,64%). No segundo turno, o Presidente não apenas conquistou a maior parte dos eleitores que antes votaram nos outros candidatos (principalmente Heloisa Helena, do PSol, e Cristovam Buarque, do PDT) como fez boa parte daqueles que antes votaram em Alckmin mudar de idéia. O presidente fez, então, 58,3 milhões de votos (60,83%), ganhando 11,7 milhões de novos eleitores. Ao mesmo tempo, Alckmin perdia 2,4 milhões de votos: no total, obteve 37,5 milhões (39,17%).
Símbolo: Wagner sepultou oligarquia baiana
Antes mesmo do segundo turno, Lula já havia montado um grupo de auxiliares e conselheiros aliados, formado, entre outros, pelo deputado Ciro Gomes, do PSB, o ex-presidente e senador José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, do PCdoB. Com o início do segundo turno, o presidente foi intensificando o contato com esse grupo. Convenceu-se, então, que precisaria formalizar uma estrutura de coalizão. Na cabeça de Lula, estava estabelecido um processo de amadurecimento que o levava para o centro. Na verdade, não é exatamente o presidente quem migra para o centro, mas o seu governo, dentro de uma compreensão mais clara de que, numa democracia, sem ter maioria e obrigado a se aliar a partidos e setores da sociedade que são mais conservadores, a opção mais justa é o centro: é ele quem melhor reflete de fato a vontade do eleitorado.
Renovação: Maia deve substituir Bornhausen
Se a vitória de Lula parece ter registrado um momento de desconexão entre as classes mais altas e as mais baixas da sociedade, esse não foi o único recado mandado pelas urnas. Em vários Estados, velhas oligarquias foram convidadas pelos eleitores a pensar na aposentadoria. O caso mais eloqüente deu-se na Bahia. Ainda no primeiro turno, Jaques Wagner, do PT, derrotou o governador Paulo Souto, o nome apadrinhado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, absoluto na Bahia há 16 anos. No Maranhão, o clã Sarney foi derrotado por Jackson Lago, do PDT, que derrotou Roseana Sarney na eleição para o governo. No Ceará, no campo da oposição, Ciro Gomes elegeu-se o deputado federal proporcionalmente mais votado do País. Em Santa Catarina, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, despediu-se da vida pública. Para substituir Bornhausen no comando do PFL, o nome mais cotado é o de Rodrigo Maia, filho do prefeito do Rio, César Maia. Parece ter chegado o momento em que, definitivamente, a geração de políticos nascida e formada já na democracia, depois da ditadura militar, chegará ao poder. Para resumir tudo isso, essa eleição não foi ganha por quem ler a Folha, Veja, Estadão, mas sim por quem limpa a bunda com eles
Helena
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