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segunda-feira, 9 de outubro de 2006

E....votaram nele também


O costureiro Clodovil Hernandez, 70 anos, 493.951 votos, quarto deputado mais votado do País em 2006. Clodovil é um escândalo porque não tem projeto político, não tem idéias, não tem partido. No horário eleitoral do Partido Trabalhista Cristão (PTC, já ouviu falar dele?), fazia piada de gosto duvidoso ao explicar a escolha do seu número, 3611. “Sabe por que é 11?”, indagava com fala mole. “Porque 24 já era. Agora é um atrás do outro.” E, para completar a ironia, terminava suas intervenções com o bordão “palavra de homem”.

Ao contrário do que possa parecer, o costureiro não é a versão 2006 do cacique Juruna, deputado eleito pelo Rio de Janeiro em 1982, ou do afamado Enéas, reeleito para um segundo mandato com 386.905 votos. Juruna tinha representatividade pela etnia, estava filiado a um partido real e chegou a protagonizar um grande fato político ao denunciar a tentativa de compra de seu voto no Colégio Eleitoral por parte de Paulo Maluf. Enéas apresentava-se como alguém com aparência, idéias e verbalizações muito diferentes da média, mas, mesmo se vendendo como um ser antipolítico, seu discurso tem um conteúdo político.

Clodovil teria o mérito de um Juruna se fosse, por exemplo, símbolo do eleitorado gay. Mas ele é o não-político. Como peça fulgurante de um sistema sabidamente transviado, no entanto, tem tudo para ser muito útil ao Brasil. Basta que, a cada vez que algum de seus 512 colegas se sentir constrangido ao conceder-lhe um aparte ou cumprimentá-lo no Salão Verde, se pergunte sobre a validade do voto obrigatório, a complacência com partidos pouco legítimos, a perpetuação desse modelo de proporcionalidade (os votos dados a Clodovil elegeram dois ilustres desconhecidos), a abrangência do horário eleitoral e uma legislação que engessa o debate público e incentiva a imbecilização das campanhas. Foram eles que fizeram isso. E o eleitor mandou Clodovil para Brasília para debochar de quem está feliz com esse jeito de fazer política.


Helena

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