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segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Campanha de Geraldo Alckmin desmorona no Rio de Janeiro


Lula recebe apoios, tucano se atrapalha todo. Isso é inevitável a quem quer ganhar eleição passando por cima de qualquer princípio

Na terça-feira, o senador Sérgio Cabral, vencedor do primeiro turno para governador no Rio de Janeiro, declarou seu apoio a Lula. Em Brasília, na quarta, Lula recebeu apoio de vários governadores eleitos – além, obviamente, daqueles do PT, também do PMDB, PDT e, inclusive, do PPS.

O prefeito de Goiânia, Íris Rezende, e o candidato do PMDB ao governo de Goiás, Maguito Vilela, estiveram também com Lula na quarta-feira, para dar-lhe apoio no segundo turno (para este fato e os anteriores, ver matérias nesta e na página ao lado). Também o deputado Geddel Vieira Lima encontrou-se com Lula para confirmar o apoio do PMDB baiano, tal como no primeiro turno da eleição.

Em relação ao primeiro turno, os apoios e a base eleitoral de Lula, visivelmente estão se ampliando, ao mesmo tempo que a decisão do presidente de ir ao combate em qualquer terreno, mobilizou ministros, políticos e militantes de vários partidos.

SACUDIDELA

Quanto a Alckmin, nem bem esfriaram os pratos dos banquetes de comemoração por chegar ao segundo turno, sua candidatura levou uma sacudidela de amargar. Depois de receber o apoio dos Garotinho, intermediado pelo notório deputado Michel Temer, seus principais apoiadores no Rio de Janeiro (ver matéria nesta página) declararam que não estão mais com ele. Denise Frossard, a candidata a governadora do Rio que estava apoiando Alckmin, disse que “preferia cuidar da vida”, a continuar apoiando-o. Já o prefeito do Rio, César Maia, um apoiador de Alckmin de primeira hora, desligou-se da sua campanha e recomendou o uso de “capacetes” para se proteger dos tomates, quando Alckmin resolver andar pelas ruas do Rio.

Os Garotinho apoiaram Alckmin dando como razões todas aquelas pelas quais deveriam estar longe da sua candidatura. Falaram em apoiá-lo pelo “desenvolvimento nacional”, quando ele tem um programa reacionaríssimo de devastação do país - e, faça-se justiça: sobre isso o seu programa econômico, algo de deixar a obra de Fernando Henrique no chinelo, até que não mentiu. Também falaram em “combate à corrupção” para apoiar quem defendeu e, inclusive, comandou, algumas das privatizações mais corruptas da história do país. Houve até quem falasse em “nacionalismo” ao apoiar um candidato desavergonhadamente entreguista. Em suma, os Garotinho junto a Alckmin tinham alguma semelhança com aquele Manuel que não era Manuel, não era casado e não morava em Niterói... No entanto, não tiveram a sagacidade desse Manuel, que não era Manuel, para se perguntar: “o que que eu estou fazendo aqui?”.

Certamente, era inevitável o estouro que se seguiu, quando se sabe que Alckmin nem se deu ao trabalho de consultar seus próprios aliados. Bastou o Temer aparecer com a isca que ele mordeu-a sofregamente. Achou que tinha fechado um Estado onde, mesmo com a oposição dos Garotinho, Lula teve a maioria dos votos, e ele somente teve votos devido a Frossard, Maia e outros abnegados que ele nem se deu ao trabalho de levar em consideração. Votos que Maia, Frossard e outros conseguiram, explorando a temática anti-garotinista. Em resumo: quem votou nele no Rio foi o eleitorado anti-Garotinho. Imagine o leitor, agora, a juíza Frossard e o prefeito Maia tentando fazer uma campanha anti-Garotinho tendo os Garotinho por aliados...

Que Alckmin passasse por cima disso, parece coisa de idiota, mas não seria elegante essa forma de falar. Perspicaz como sempre, ele esclareceu na quarta a noite que sua candidatura está acima da “política regional”. Por “política regional”, acreditem os leitores, estava ele se referindo ao Rio, terceiro eleitorado do país, cuja capital é a face mais conhecida do Brasil em todo o mundo, provavelmente o local mais cosmopolita que existe em nossa terra, e com uma população que tem plena consciência disso. Os cariocas, em particular, devem ter gostado muito dessa referência à política de seu Estado como se ele estivesse falando de Pindamonhangaba – com licença de nossos leitores desta brava cidade paulista, que não tem culpa de Alckmin haver nela nascido (como para tudo há uma compensação, também o ex-ministro Ciro Gomes, firme apoiador de Lula, tem lá o seu berço natal).

COMPROMISSO

A verdade é que esses problemas são inevitáveis a quem quer ganhar uma eleição passando por cima de qualquer princípio, ou não tendo qualquer princípio, juntando abacaxis e rodas de bicicleta no mesmo saco, apoios movidos apenas pelo ressentimento e outros pelo oportunismo mais ausente de caráter. Realmente, a juíza Frossard tem razão: é melhor cuidar da própria vida do que apoiar um candidato que não se preocupa minimamente com a vida dos outros, e acha que vai conseguir chegar ao poder sem cuidar do compromisso com seus aliados.

É mais ou menos esse o significado do brilhante argumento de Alckmin de que “voto não se recusa”, aliás muito original. O problema é que, segundo a juíza Frossard e o prefeito Maia, ele anda não somente recusando como desprezando alguns – aqueles que conseguiu no Rio durante o primeiro turno.

Renata F

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