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domingo, 24 de setembro de 2006

Serra e as ligações com Platão



Nada se falou nos últimos dias sobre uma figura misteriosa que integra a lista de 42 indiciados pela Polícia Federal (PF) por envolvimento no esquema da máfia dos vampiros: o médico Platão Fischer Pühler. Enquanto os petistas Humberto Costa, ex-ministro da Saúde e candidato ao governo de Pernambuco, e Delúbio Soares de Castro, ex-tesoureiro do seu partido, tornaram-se os principais alvos da denúncia da PF e dominaram o espaço do noticiário, outros nomes importantes — como Platão Pühler — passaram despercebidos.

Platão, é um homem próximo do ex-ministro da Saúde José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, embora os tucanos hoje neguem tal fato. Tinha um cargo importante e estratégico na gestão do tucano no ministério. No inquérito da PF encaminhado ao Ministério Público Federal, ele deve responder por corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha e exploração de prestígio.

O ex-auxiliar de Serra é acusado de ter repassado informações privilegiadas do ministério aos integrantes da quadrilha que superfaturava e fraudava licitações de hemoderivados (produtos derivados do sangue) distribuídos à rede pública. Ele seria ligado ao empresário Jaisler Jabour de Alvarenga, apontado com um dos principais líderes do esquema, que nega as acusações e diz “não ter nada a ver” com o comando da máfia dos vampiros.

Platão chegou ao ministério em 1997, levado pelo ex-ministro Carlos Albuquerque. Ocupou ali várias funções. Esteve sempre à frente da coordenação da área de medicamentos e cuidou, principalmente, das licitações. Quando Serra assumiu o governo, ele foi nomeado diretor do Departamento de Programas Estratégicos do Ministério da Saúde, função que lhe deu poderes para centralizar toda a compra de hemoderivados.

Hoje, os tucanos procuram minimizar as relações de Platão com Serra. Atribuem a nomeação, entre outras justificativas, a uma indicação do então secretário-executivo do ministério Barjas Negri, que depois assumiu o lugar de Serra, quando o tucano disputou a Presidência da República em 2002. “Ele (Platão) não era meu assessor. Trabalhava na secretaria executiva e já estava no ministério quando assumi”, justificou Serra a jornalistas, em 2004.

Mas Serra e Platão nunca foram estranhos um ao outro. Em junho de 2001, por exemplo, o hoje candidato tucano ao governo paulista chefiou uma delegação brasileira que participava de Assembléia Geral da ONU, em Nova York, para discutir Aids e o combate ao HIV, na qual Platão era um dos quatro representantes.

Nessa época, o médico também viajou à Índia com Serra para conhecer uma fábrica de medicamentos genéricos e de anti-retrovirais. Em 2002, o ex-diretor deixou o ministério para integrar a campanha de Serra à Presidência da República e ajudar o “amigo”. Platão, em seguida, montou um comitê pró-Serra em Brasília.

Cartel

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), realizada no período em que Platão cuidava dos hemoderivados, concluiu que as licitações nessa área eram dominadas pela “existência de cartel entre os laboratórios” e haveria “toda uma engrenagem criminosa movimentando o Ministério da Saúde, azeitada por lobistas”.

Ainda em 2001, uma denúncia anônima foi encaminhada ao próprio José Serra — e protocolada no ministério —, com relatos sobre sérias acusações contra Platão e Jaisler Jabour. Platão e o secretário-executivo Barjas Negri teriam sido chamados por Serra para explicar o caso, segundo depoimento de Platão à PF, mas providências não teriam sido tomadas.

No inquérito da PF são mostrados dois organogramas das quadrilhas que operavam no governo tucano, primeiro, e, depois, na gestão do PT. Em comum, atuavam nas duas estruturas os empresários Jaisler Jabour e Lourenço Rommel. Platão era ligado aos dois, mas saiu quando entrou um outro grupo, no qual havia pessoas ligadas ao ministro da Saúde no governo Lula, Humberto Costa. Procurada, a assessoria de Serra não se manifestou. O assessor de comunicação Marcos Fonseca disse apenas que “Serra não foi indiciado”.

Helena

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