A edição da sexta-feira (25/8) da Folha de S. Paulo já deve ter sido reflexo direto da postura de seu diretor de Redação, Otavio Frias Filho, explicitada em artigo publicado no jornal no dia anterior [ver "Anistia a Lula", para assinantes da Folha ou do UOL)]. Otavio escreveu, com todas as letras, que considera a eleição de Lula no primeiro turno uma "anistia" do povo ao presidente. Parece pouco? Tem mais: diz o diretor que "se o veredicto for esse, dispensando o segundo turno, a afoiteza do eleitor terá prejudicado a qualidade democrática desta eleição."
O que Otavio Frias Filho entende por "qualidade democrática" não ficou muito claro, mas claríssimo está que neste país, como gosta de dizer o presidente Lula, é preciso antes ouvir a opinião do diretor de redação da Folha para saber se a eleição deve ser decidida no primeiro ou segundo turno... No caso de São Paulo, porém, onde o ex-colunista do jornal que concorre ao governo do estado pelo PSDB pode levar no primeiro turno, a "qualidade democrática" do pleito parece estar garantida. Pelo menos o diretor de Redação não achou relevante mencionar a "afoiteza do eleitor" paulista.
O articulista passou o pito e o pessoal da Redação realmente entendeu logo o recado. Na edição de sexta (25), a manchete foi para o "aumento" do desemprego (na verdade, o que aumentou foi o número de brasileiros que, estimulados pela abertura de novas vagas, resolveu voltar ao mercado de trabalho). Nas páginas do caderno "Brasil", o jornal praticamente "comemora" o que se supõe ser o início de críticas mais duras de Geraldo Alckmin a Lula - uma reclamação constante de vários colunistas da Folha, é bom que se diga. Logo depois, há um abre de página que não faria feio na revista Veja: "Classe artística repercute e reprova desprezo à ética de lulistas". Este observador escreveu, na sexta-feira, no blog Entrelinhas, que Diogo Mainardi trataria do mesmo assunto na sua coluna em Veja. Dito e feito.
Gota no oceano
A Folha se tornou um jornal da campanha do Alckmin? Não: a campanha anda muito mole, é preciso ir além. No caderno "Cotidiano" de sexta-feira (25), mais um abre de página anti-Lula, desta vez para o secretário Saulo de Castro Abreu Filho - aquele um dia afirmou que havia exterminado o PCC - deitar e rolar sobre as "ligações" do PT com o PCC. Seria prudente lembrar Fleury Filho e o seqüestro de Abílio Diniz. Ironicamente, ouve-se por aí, Diniz hoje apóia a reeleição de Lula.
Está certo que o pessoal da Redação deve ter exagerado um pouco no primeiro dia após o faniquito público do diretor, mas a tendência se confirmou no final de semana. Assim, ao que tudo indica a Folha vai cerrar fileiras ao lado da revista Veja contra a reeleição de Lula. Do jeito que a coisa vai, o Estadão ainda conseguirá ser visto como um diário moderado, quase de centro.
A sorte de Lula é que provavelmente a ação da Folha será ineficaz: o eleitor indeciso não lê jornal, o que torna a "campanha" do diário da Barão de Limeira uma gota no oceano. Além disso, vale notar que do ponto de vista mercadológico trata-se de uma opção no mínimo pouco inteligente, pois o assinante da Folha que já decidiu votar em Lula ficará irritado com o jornal - alguns certamente cortarão suas assinaturas - e para os que já votam em Alckmin, obviamente a nova postura da Folha pouco acrescentará. Teria sido melhor continuar com o rabo preso com o leitor.
Luiz Antonio Magalhães
Observatório da Imprensa
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