Pela primeira vez em dez anos de queda da desigualdade social, os trabalhadores que formam a classe média também puderam participar do "crescimento do bolo". Desde 1996, a concentração de renda recua pressionada sobretudo pelo achatamento salarial da classe média. Os 10% mais ricos aumentaram a renda média de R$ 3.429 em 2004 para R$ 3.600 mil em 2005, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Fundação Getúlio Vargas (FGV) calculou que a renda per capita cresceu 5,74% entre os 10% mais ricos em 2005, depois de praticamente ficar estagnada em 2004 e recuar nos anos anteriores.
"O bolo cresceu com mais fermento para as classes mais pobres, mas os ricos também se beneficiaram desta vez", afirma Marcelo Côrtes Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da FGV. O especialista revela que a renda per capita dos 50% mais pobres disparou 8,56%, crescimento semelhante ao de 2004, de 8,34%. Os 10% mais ricos, por sua vez, viram a renda per capita crescer apenas 0,68%, após recuar 7,32% em 2003 e 0,68% em 2002.
A renda domiciliar per capita avançou 6,6% em média, praticamente o dobro do aumento de 2004, de 3,1%. A expansão estimulou Neri a calcular um indicador inédito: o Índice de Bem Estar Social, idealizado pelo vencedor do prêmio Nobel de economia Amartaya Fen. O indicador considera mudanças na renda per capita domiciliar e na concentração de renda, medida pelo Índice de Gini. Conclusão: o bem estar social no Brasil deu um salto de 7,6% em 2005, após um aumento já expressivo de 5,9% em 2004. "O governo atacou pobreza e desigualdade com duas frentes: programas sociais para crianças e previdência, aumento do mínimo para idosos."
A pesquisa do IBGE mostra que o Índice de Gini foi de 0,544 em 2005, o menor grau de concetração de renda desde 1981. Quanto mais próximo o índice está de zero, menor a concentração de renda. Quanto mais próximo de um, maior a desigualdade. Em 2004, o índice foi de 0,547. Além do aumento do salário mínimo, a inflação mais baixa favoreceu sobretudo a camada mais pobre da população.
"Desta vez a desigualdade cresceu mais apoiada no crescimento dos mais pobres que propriamente na redução de renda dos que ganham mais", observa o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. Onível de empregos retomou em 2005 o lugar perdido na última década, marcada por fusões e aquisições de empresas. De acordo com o IBGE, a ocupação alcançou 56,8% da população com 10 anos ou mais de idade. É o maior patamar desde 1995, quando o total de pessoas empregadas era de 57,6% da população. No caso das mulheres, o percentual de 46,4% é histórico.
A ocupação cresceu 2,9% no ano passado, mas não foi suficiente para absorver toda a procura por emprego. Resultado: a taxa de desemprego cresceu de 8,9% para 9,3%. "Não podemos considerar essa taxa para fazer um julgamento do mercado de trabalho, pois a desocupação ocorreu por causa da procura e do próprio aquecimento do mercado", afirmou Vandeli Guerra, da coordenação da Pnad.
Outros fatores sustentam a melhoria no perfil do mercado de trabalho. O rendimento cresceu pela primeira vez em dez anos. A renda média do trabalho chegou a R$ 805 em 2005, depois de registrar R$ 770 em 2004. A alta, porém, não cobriu as perdas salariais que marcaram a segunda metade dos anos 90 e o início da década atual, ao contrário do que aconteceu no nível de empregos.
O aumento da renda está relacionado ao surgimento de vagas qualificadas. Os cargos de chefia foram os que mais cresceu entre as categorias investigadas pelo IBGE. A categoria de dirigentes aumentou participação de 4,8% para 5,1% no universo dos empregados. Em relação ao tempo de estudo, a parcela que cresceu na ocupação foi a que trata de pessoas com 11 anos ou mais de estudo, de 33,7% para 35,4%. As pessoas sem instrução ou com menos tempo de estudo, por outro lado, perderam espaço no mercado.
Carca de 1,3 milhões de empregos com carteira assinada foram criados em 2005. O trabalho informal, ao mesmo tempo, perdeu força, com redução do total de pessoas que trabalham sem remuneração e por conta-própria. Mesmo assim, a informalidade no Brasil ainda espanta: 73,8% dos trabalhadores não possuem carteira de trabalho.
A melhoria no perfil do mercado de trabalho, contudo, passou longe do campo.
Helena
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