A cobertura de TV dos candidatos nanicos provoca situações inusitadas.Em duas horas de coquetel, apenas 30 segundos são relevantes na inauguração do comitê do candidato à Presidência da República Luciano Bivar (Partido Social Liberal) -aqueles que a Globo gravou para levar ao ar no "Jornal Nacional".
Para que esses instantes pareçam bem naturais, o candidato-traço (0% de intenções de voto no último Datafolha) tem de contar com figurantes que produzam uma espécie de "movimento eleitoral" atrás dele.O mesmo esforço de "movimento eleitoral" está presente na campanha do presidenciável José Maria Eymael (Partido Social Democrata Cristão), 1% no Datafolha. Suas caminhadas da última semana foram acompanhadas por sete bandeiras, também amarelas e azuis. Enquanto na terça-feira elas eram agitadas na zona norte da capital por parentes e amigos de candidatos do partido, na quarta, desempregados contratados por R$ 10 por meia hora faziam o serviço no centro da cidade.
Eymael, 66, que tenta pela segunda vez chegar ao Planalto, tem uma equipe de 30 pessoas. Um desses assessores tem, entre outras missões, a de recrutar pessoas na rua para Eymael cumprimentar. "Dá um abraço no candidato", diz. Em seguida, o democrata cristão dispara frases como: "Aperta a mão do Eymael, campeão" e "Vamos juntos ganhar a Presidência". Tudo sob as lentes das câmeras -que não são muitas. Na terça, além da Globo, as emissoras RIT e Record gravaram o candidato. No dia seguinte, só a Globo filmou sua caminhada.
"Nosso voto é muito de opinião", diz Bivar, 61, sem apontar nenhum exemplo no local.
Moças contratadas para balançar bandeiras amarelas e azuis se misturam a correligionários de outras praças que estendem cartões de apresentação No comitê inaugurado de Bivar, na terça, o cinegrafista deu uma bronca: "Não olha para a câmera, amigo, conversa com o candidato", orientou a um emergente que quase colocou toda a espontaneidade do momento a perder. No dia seguinte, foi a vez de Eymael cobrar agilidade da equipe da Globo. Ao se despedir do repórter da emissora, disse: "Vamos, para dar tempo, né". A intenção do candidato era se ver no "Jornal Hoje".
Nos eventos de campanha, perguntas são respondidas com muitas respostas repetidas. Bivar martela sobre o imposto único. "Qual a sua proposta?". Resposta: "O imposto único, que substitui os dez existentes e vai resolver o problema de mais de 50 milhões de pessoas que vivem na marginalidade".
Após a entrevista, deixou o comitê em sua Mercedes Benz CLS 500 (R$ 396 mil; R$ 15 mil de IPVA). Ele é o candidato a presidente mais rico: seu patrimônio é de R$ 8,775 milhões.
Eymael tem uma única frase sobre o escândalo dos sanguessugas: "Para mim, para a democracia cristã, todo político corrupto, marginal, é um serial killer, é um assassino em série, é um matador em atacado".
Eymael diz que a sua candidatura tem o objetivo de chegar ao segundo turno. "O sr. acha que é possível?", diz a Folha. "Veja: até há alguns dias atrás eu não tinha nenhuma mídia, zero de mídia. E, mesmo sem mídia, nós já temos 1%."
Perguntado se ele estava fazendo campanha somente para aparecer na TV, Eymael responde: "A minha vida inteira a minha maneira de fazer política sempre foi muito próxima com as pessoas".
Renata F-
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