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sexta-feira, 14 de julho de 2006

É hora de enxergar


É inacreditável o poder de ação que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem em todo o Estado de São Paulo, mesmo que as autoridades –– em especial o governador Cláudio Lembo –– queiram justificar que os ataques estão controlados pela polícia. As páginas de todos os jornais de ontem e as repercussões e ataques registrados nas edições de hoje mostram que estas autoridades estão erradas. O crime organizado está além da capacidade burocrática e da atuação política dos representantes legais, das corporações policiais e da vontade pessoal do governador em não reconhecer a falência do poder policial diante do comando de criminosos que têm o controle de todo o mundo marginal, dentro e fora dos muros da prisão.

O saldo destes dois dias de ocorrências na região de Piracicaba deixa o cidadão indignado com o vandalismo, com os ataques, tiroteios e bombas caseiras explodindo em vários bairros, assustando aquele que está em casa, depois de passar horas no trabalho. E o que é pior: sem ter certeza de que esta bandidagem será coibida pela lei, pela Justiça, sem passar por acordos para atender às “necessidades” de marginais que controlam o PCC, como por exemplo mudar a cor dos uniformes de laranja para cinza –– para terem a mesma cor usada pelos policiais militares.

Em dois dias, seis funcionários da Secretaria de Segurança Pública foram assassinados a tiros durante os ataques do PCC, sem que nenhum integrante de comissões ou ONGs que defendam os direitos humanos se manifestassem em solidariedade às famílias das vítimas. Há ainda um saldo de ônibus destruídos. Muito ao contrário: afirmam à imprensa que a onda de ataques é resultado de violências cometidas no e pelo sistema penitenciário.

Há mais de 20 anos, especialistas e políticos –– principalmente durante as campanhas eleitorais –– criticam o sistema penitenciário brasileiro. A sociedade reconhece que há falhas em seu funcionamento, principalmente porque aqueles que ficam presos em pequenas celas superlotadas, ociosos e enfrentando a lei do mais forte (que impera entre os próprios presos) são os principais alvos para novos crimes, para aperfeiçoar o que já aprenderam e colocarem em prática ações que beiram ao terrorismo e transformam as ruas brasileiras em verdadeiros palcos de uma guerra civil.

A desarticulação da polícia no Estado de São Paulo está à mostra e fica mais evidente com as declarações dos responsáveis pela segurança pública, que estão sempre a justificar suas posturas, mas não a coibir os ataques, a evitar as ocorrências, a ter ações de prevenção para que os criminosos não ganhem pontos nesta batalha em que o cidadão é quem está exposto, pois não tem recursos para contratar segurança particular, tem que voltar para casa de ônibus, morar próximo a uma agência bancária que é alvo de bombas caseiras.

Há dois meses, os paulistas vivenciaram o mesmo drama e o mesmo terror. Piracicaba foi uma das dezenas de cidades do Estado que sentiu pânico, parou e viu a polícia negociar com o PCC para que os ataques tivessem fim. A mesma sensação volta à tona. O governador Cláudio Lembo repete o discurso; o governo federal oferece ajuda –– que é rejeitada, pois São Paulo se nega a reconhecer que não tem condições de segurar os criminosos em seus devidos lugares. Só não vê quem não quer.


Helena

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