Documento relaciona 156 políticos a suposto esquema de caixa dois na eleição de 2002
Assinados por ex-diretor da estatal, papéis citam campanhas de Alckmin e Serra entre beneficiárias; tucanos negam veracidade
A Polícia Federal confirmou ontem a autenticidade da chamada "lista de Furnas", documento de cinco páginas que registra supostas contribuições de campanha, num esquema de caixa dois, a 156 políticos durante a disputa eleitoral de 2002. No total, eles teriam recebido R$ 40 milhões.
Segundo a assessoria da direção geral da PF, em Brasília, perícia do INC (Instituto Nacional de Criminalística) concluiu que a lista não foi montada e que é autêntica a assinatura que aparece no documento, de Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia de Furnas, empresa estatal de energia elétrica. A PF informou, contudo, que não tem como atestar a veracidade do conteúdo da lista. Os papéis citam empresas que teriam colaborado para um caixa dois administrado por Dimas Toledo.
Entre as campanhas eleitorais supostamente abastecidas pelo esquema estão as do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, hoje candidato à Presidência pelo PSDB, do ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), atual pré-candidato ao governo paulista, e do atual governador mineiro, Aécio Neves (PSDB). As campanhas em 2002 teriam recebido, respectivamente, R$ 9,3 milhões, R$ 7 milhões e R$ 5,5 milhões. Tucanos negam.
Lobista
A perícia foi feita em papéis originais entregues à PF pelo lobista mineiro Nilton Monteiro, 49, que diz tê-los recebido das mãos de Dimas, no início de 2005, quando o então diretor de Furnas tentava convencer políticos de vários partidos a mantê-lo no cargo.
Acusado de calúnia por 11 deputados estaduais de Minas Gerais, Nilton Monteiro decidiu entregar em 5 de maio os originais aos delegados da PF de Brasília Luiz Flávio Zampronha, Pedro Alves Ribeiro e Praxíteles Praxedes, que conduzem as investigações.
Até então, a PF tinha em seu poder apenas uma cópia autenticada. Dimas Toledo, que exerceu a diretoria entre 1995 e 2005, até a denúncia de caixa dois feita à Folha pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), sempre negou ter assinado os papéis
"Ele assinou [a lista] na minha frente. Ele me usou até um determinado momento, depois me abandonou", disse ontem Monteiro. O lobista afirma ter se aproximado de Dimas em 2004 por ser, à época, procurador da empreiteira JP Engenharia. A empresa estava interessada em assinar um contrato com Furnas em torno de um projeto de infra-estrutura que havia sido suspenso pela diretoria de engenharia.
Segundo o lobista, Dimas contou que havia uma ação nos bastidores para tirá-lo do cargo e, por isso, pediu-lhe ajuda para fazer um trabalho de lobby com políticos de vários partidos.
O lobista afirmou que, no início de 2005, Dimas fez quatro cópias da lista. Os supostos destinatários das cópias, sempre segundo Monteiro, seriam Aécio Neves, Roberto Jefferson, o presidente do PMDB, Michel Temer, e o então presidente do PSDB, Eduardo Azeredo.
Mas as cópias não chegaram a ser entregues, segundo Monteiro. Ele diz que o original ficou com uma pessoa ligada a um escritório de advocacia do Rio. "Ela ficou como guardiã dos documentos até agora."
Sem acesso aos documentos, defesa de Dimas não comenta resultado da perícia
O advogado do ex-diretor de Engenharia da estatal Furnas Dimas Toledo, Rogério Marcolini, informou ontem que não comentaria os resultados da perícia realizada pela Polícia Federal num conjunto de papéis originais entregues à PF pelo lobista Nilton Monteiro.
"A defesa de Dimas Toledo não teve acesso nem ao suposto documento original nem ao laudo que teria sido realizado pela Polícia Federal, o que impede maiores considerações sobre o tema", informou, em nota, o escritório Felipe Amodeo Advogados Associados.
Dimas Fabiano Toledo, 61, prestou depoimento sobre a lista à Polícia Federal, no último dia 10 de fevereiro, e à CPI dos Correios, cinco dias depois. Negou ter assinado os papéis e também negou ter captado ou destinado recursos de empresas doadoras para campanhas eleitorais.
Dos 156 políticos referidos na lista, assumiu conhecer 33. Declarou também ter uma "relação de amizade" com Aécio Cunha, pai do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e conselheiro de Furnas, e "relação institucional" com Neves.
De acordo com Dimas, os "contatos" com políticos ocorreram entre 1996 e 2002, "em ação coordenada pela presidência de Furnas para evitar o processo de privatização danoso à empresa".
Dimas Toledo afirmou que nunca esteve com o lobista Nilton Monteiro. Segundo ele, Monteiro falou por telefone com sua secretária para cobrar a assinatura de um contrato entre Furnas e a empreiteira JP Engenharia, então suspenso. Reconheceu ter ocorrido uma reunião entre Monteiro e funcionários de Furnas, na qual os servidores teriam dito que o contrato com a JP não poderia ser assinado. http://caixadoistucanodefurnas.blogspot.com/
Helena
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