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segunda-feira, 5 de junho de 2006

Livro caixa revela a trilha da propina do PSDB


Às vésperas das eleições de 2002, a máfia dos sanguessugas irrigou o Congresso com dinheiro proveniente das fraudes na compra de ambulâncias a partir de emendas ao Orçamento da União. O livro-caixa da Planam, a empresa da família Trevisan-Vedoin e maior beneficiária do esquema, revela uma série de transferências para parlamentares. Uma amostra dessa contabilidade, referente a agosto daquele ano e com periodicidade quase que diária, aponta 10 atuais e ex-congressistas.

O Correio Braziliense teve acesso aos dados, que estão em poder das presidências da Câmara e do Senado, da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal. Entre os dias 1º e 27 daquele mês, o livro-caixa da Planam registrou R$ 189.045,80 em depósitos para deputados e ex-deputados. Os pagamentos feitos pela empresa obedeceram mais ou menos um padrão. Das 13 transferências, seis foram de exatos R$ 10 mil, mas há casos de depósitos de R$ 1,5 mil e um de até R$ 50 mil.

O ex-deputado Bispo Rodrigues (sem partido-RJ) apareceu como o maior beneficiário do dinheiro da empresa. Foram R$ 50 mil, transferidos a ele, segundo o livro-caixa, no dia 13. Reeleito, Bispo Rodrigues renunciou ao mandato no ano passado, depois que teve o nome envolvido no escândalo do mensalão. Ele foi preso no início do mês passado pela PF durante a Operação Sanguessuga e levado para Cuiabá, onde permanecem detidas 38 pessoas acusadas de participar do esquema de corrupção.

Outros reeleitos constam nas planilhas da Planam. Acusado também de ser mensaleiro e absolvido da cassação, o mato-grossense Pedro Henry (PP) é registrado como o beneficiário de 10 depósitos, no valor de R$ 3.584,58 cada. Paulo Feijó (PSDB-RJ) teria recebido R$ 20 mil, supostamente transferidos a ele no dia 13. A Nilton Capixaba (PTB-RO) e Eduardo Seabra (PTB-AP) teriam sido repassados R$ 10 mil, cada, respectivamente nos dias 1º e 27. Os nomes dos quatro deputados foram anotados em listas por suposta participação nas fraudes atribuídas à máfia dos sanguessugas.

Entre os que aparecem no livro-caixa da Planam e que retornaram à Casa para a legislatura iniciada em 2003, e que se encerra em dezembro próximo, está o ex-deputado José Carlos Fonseca (ES), então do PFL e supostamente beneficiado com R$ 20 mil. Fonseca é diplomata e ocupou a Secretaria de Fazenda do governador José Inácio (PSDB). Também estão no livro Éber Silva (RJ), então do PST, e o suplente na Câmara Aldir Cabral (PFL-RJ). Eles aparecem como beneficiários de R$ 10 mil, cada. Há ainda um depósito, também de R$ 10 mil, em nome da WAS Editora. WAS vem de Wagner Salustiano, que em 2002 exercia o mandato de deputado federal e hoje ocupa cadeira na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo PSDB.

Emendas

A reportagem fez um levantamento sobre autores de projetos que financiaram a compra de ambulâncias com emendas individuais ao Orçamento da União com os nomes que aparecem no livro-caixa da Planam (veja ilustração).Os 10 deputados ou ex-deputados liberaram um total de R$ 5,9 milhões. O campeão do grupo foi Paulo Feijó, com R$ 1,27 milhão. No Rio, algumas cidades receberam recursos de Feijó e de Éber Silva (PST). No Rio Grande do Norte, Laíre Rosado (PMDB-RN) destinou R$ 384 mil para a Fundação Vingt Rosado, do município de Mossoró.

Na semana passada, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar 15 parlamentares — por causa da prerrogativa de foro privilegiado, deputados e senadores somente podem ser investigados com autorização do STF. Ao anunciar sua decisão, o chefe do Ministério Público Federal fez mistério sobre os nomes, mas sinalizou que a relação de suspeitos pode aumentar nos próximos dias à medida que o material apreendido pela PF no início do mês seja analisado, além de escutas telefônicas realizadas pela polícia.

Helena

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