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segunda-feira, 15 de maio de 2006

"Veja e Leia"


À

Editora Abril

Revista “Veja”

veja@abril.com.br


Lembro-me muito bem da primeira Revista que eu li na minha vida. Foi no ano de 1969. O homem havia pisado na Lua. Meu pai era professor em Linha Esperança, município de Romelândia, no interior de Santa Catarina. Éramos colonos e estávamos por fora deste mundo.

Meu pai sabendo pelo rádio do notável feito da humanidade, foi à cidade e procurou um amigo que vez por outra ia até a cidade grande. Deu o dinheiro e pediu que trouxesse uma Revista. Tempos depois chegou a “Veja e Leia” (era assim que se chamava a Revista na época em que as revistas eram para ver e ler).

Quantas vezes li a Revista? Nunca saberei. Mas ela ficou gravada na minha memória. Tanto assim que passados quase quarenta anos lembro tão bem do seu conteúdo. Além do homem ter ido à Lua, tinha a entrevista nas páginas amarelas. Tinha uma reportagem sobre Bob Kennedy (recordo de uma frase estranha, que dizia mais ou menos assim: “Bob sabia que cedo ou tarde iria para a Casa Branca”. Para nós “Casa Branca” significava o cemitério... e não entendíamos o que queriam dizer) Havia a reportagem sobre os novos Baianos. Sim, foi aí que eu soube que existia Gil e Caetano (coincidência, meu pai se chamava Caetano). E tantos outros assuntos que ainda hoje me lembro... Uma Revista boa fazia um bem tão grande assim! E ficou na memória e na história.

Passou-se o tempo e eu estava em Florianópolis e tornei-me assinante da Veja. Não era mais a mesma. Até o nome havia mudado. Era só “Veja”, mas uma revista não seria também para ler? Não renovei a assinatura... Esporadicamente fui lendo ainda aqui ou lá alguma edição...

Mas ultimamente não dá mais para ler e nem para ver. A revista Veja se tornou um “covil de ladrões”, onde se mente, inventa, conspira... Basta um olhar sobre as capas das edições dos últimos anos e podemos ver pessoas, autoridades, organizações sociais, Igreja... a cuja imagem a revista agrediu, distorceu, sem chance nenhuma de defesa... É para isso que serve uma revista?

Que saudade da primeira Revista que eu li e que guardamos por tantos anos. Ela informava, ficava dentro de nós...

Neste final de semana, estava participando em curso de formação. Pedi que os participantes trouxessem um símbolo que precisamos destruir, algo que não serve para construir uma nova sociedade. Um dos participantes queimou a revista Veja que saiu neste final de semana. Curiosamente, ele também apresentou um rolo de papel higiênico e afirmou: “Este, pelo menos, tem uma boa serventia”.

Não preciso queimar no fogo a revista. A Abril mesmo, com sua prática e falta de ética, queimou a sua imagem, tanto que não quero nunca mais ver e ler esta revista... Espero apenas que não queimem dentro de mim a doce lembrança de menino que viu e leu pela primeira vez uma Revista!

Peço a estes novos donos e jornalistas da Abril que busquem em seus arquivos este número importante da Revista. E que, encontrando-o, “vejam e leiam”. Talvez criem um pouco de vergonha na cara, talvez... Mas antes de elaborar a próxima edição pensem no que vão fazer. Talvez esta será a primeira revista que um menino vai ler. Por quando tempo ele irá recordar do que vocês vão escrever?



Frei Ildo Perondi

Londrina – PR

ildo@sercomtel.com.br

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