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segunda-feira, 10 de abril de 2006

A ética do PSDB. Roubar o Fundef


A região é conhecida como o Vale dos Esquecidos - uma das mais pobres do país. E há três anos, os moradores do município de Confresa decidiram investigar o que o prefeito fazia com o dinheiro da cidade. Esta semana ele foi preso.

Durante sete anos o médico Iron Marques Pereira foi prefeito do PSDB- e ainda é filiado ao PSDB=. Ele só deixou o cargo no dia 6 de dezembro de 2003, e não porque quis. Doutor Iron Marques Pereira do PSDB renunciou, no segundo mandato, diante de forte pressão popular: foi acusado de corrupção.

"A população hoje está sabendo quem realmente falava a verdade ou não. É por isso que eles procuram nosso serviço, porque sabem que falávamos a verdade e trabalhávamos com sinceridade", dizia Iron Marques Pereira, ex-prefeito de Confresa.

Confresa fica a 1,3 mil quilômetros da capital do Mato Grosso, Cuiabá. São três horas de vôo em um monomotor.

Confresa é um outro lado de um estado famoso pela beleza do Pantanal e a riqueza do agronegócio. A região, no norte do estado, é conhecida como Vale dos Esquecidos.

O avião pousa na pista de terra batida do Aeroporto Municipal. Com 22 mil habitantes, a cidade tem ruas maltratadas, estradas de terra esburacadas e um sistema de transportes inacreditável.

Um ônibus caindo aos pedaços faz a ligação entre o centro do município e a zona rural. O agricultor Antonio Pereira da Silva conta que mora a aproximadamente 50 quilômetros da cidade e gasta pelo menos quatro horas de viagem. O ônibus é conhecido como "rasga-roupa".

O povo que enfrenta com bom humor as adversidades é o mesmo que reagiu diante das suspeitas de corrupção na prefeitura. O contador Waldir Severo Dias foi o primeiro a desconfiar de que alguma coisa andava errada nas contas do município.

"Nós saímos à procura de empenho, notas fiscais da prefeitura, e fomos às firmas, principalmente em Goiânia. Fomos consultar as empresas para ver se realmente elas tinham vendido os produtos à prefeitura de Confresa. Foi uma surpresa grande. Temos as declarações dessas firmas dizendo que nunca venderam nada à prefeitura de Confresa", conta Waldir.

Os moradores criaram o movimento "Reage Confresa", e pediram ajuda ao arcebispo da região, dom Pedro Casaldáliga, que encaminhou as denúncias à Controladoria-Geral da União. A Delegacia Fazendária do Mato Grosso passou a investigar as contas da prefeitura: "Um exemplo do que foi constatado pelo Tribunal de Contas é uma nota fiscal da Tratorpilar, de R$ 6 mil. A própria empresa veio à delegacia e afirma que nunca houve qualquer transação comercial, em tempo algum, com a prefeitura de Confresa", explica a advogada Maria Alice.

Segundo os policiais, primeiro o prefeito nomeou sua mulher, Carmem Terezinha, como secretária de Saúde; sua irmã, Cleonice, como tesoureira; e o amigo Maurício Ricardo Nunes como responsável pelas licitações.

A partir daí, o esquema de desvio de dinheiro começou a funcionar. Notas fiscais falsas eram apresentadas para justificar compras e serviços inexistentes. E o dinheiro, liberado pelas secretarias, era sacado pelo prefeito, os parentes dele e o amigo, diretamente, na única agência bancária da cidade.

"Por exemplo, é um cheque de R$ 10 mil que descontado pela esposa de Iron Marques Pereira, que estava empenhado para o pagamento de notas fiscais", mostra a advogada Maria Alice.

As investigações apuraram que em sete anos de governo o ex-prefeito nunca fez uma licitação.
Mas não foi só isso que levou o juiz da região a decretar a prisão de todos eles.

"Segundo consta da denúncia do Ministério Público, foi desviado dinheiro do Fundo do Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), de convênios para saúde, educação e construção de escolas. Foram desviados aproximadamente R$ 18 milhões. Isso especificamente neste processo, sem contar os demais, é claro", revela o juiz Geraldo Humberto.

"Eles cometeram crime de estelionato, formação de quadrilha, usurpação de verbas públicas, improbidade administrativa, falsificação de documentos públicos. Foram vários crimes, todos com a finalidade de ser apropriar de dinheiro público", diz o delegado Rogério Modelli.

Dinheiro, por exemplo, que poderia equipar o único hospital da cidade. Ou poderia também iluminar Confresa. Metade do município não tem luz elétrica.

"À noite ficamos no escuro. A vela acaba e a gente fica no escuro", diz uma moradora.

"Às vezes vela acaba e não temos como fazer tarefa de casa", reclama a estudante Vanusa Jesus de Souza, de 15 anos.

"Na hora em que eles necessitam da gente, vêm pedir uns votos. Reunimos toda a família para votar naquela pessoa. E depois ficamos esquecidos", critica dona Leni Pereira dos Santos, dona-de-casa.

Quarta-feira, 5h30min. Ainda está escuro quando os policiais da Delegacia Fazendária do Mato Grosso saem para prender o ex-prefeito Iron Marques Pereira do PSDB, e os outros acusados de desviar dinheiro público.

Primeiro, o ex-funcionário da prefeitura Maurício Ricardo Nunes. Os policiais esperam dar 6h para entrar na casa, como determina a lei.

Em seguida é a vez do ex-prefeito e da mulher dele, Carmem Terezinha, ex-secretária de Saúde.

"O senhor é acusado de desviar mais de R$ 10 milhões da prefeitura", anuncia o policial ao ex-prefeito e filiado ao PSDB.

"Isso vai ser esclarecido. Eu não fiz isso, e a população sabe", afirma o ex-prefeito.

A irmã do prefeito, Cleonice Marques Pereira, ex-tesoureira, é presa em seguida. Gilmar Mendes Ferreira, o fornecedor das notas fiscais falsas usadas pela quadrilha, foi preso em Goiás.

Agora, a polícia e a Justiça vão tentar recuperar os R$ 18 milhões desviados de um dos municípios mais pobres do Brasil, localizado, não por acaso, no Vale dos Esquecidos.

"Nós sentimos falta de televisão, de rádio, de tudo. Temos o desejo de realizar o sonho, mas não conseguimos porque somos fracos. Então, ficamos esquecidos", conclui dona Leni.


Matéria completa do site do Fantastico

1 Comentários:

Anônimo disse...

Isso sem deixar de mencionar as irregularidades apontadas no relatório de CGU com relação a mesma matéria, praticados aqui na Paraíba, e que já está sendo questionado e certamente será remetido ao Ministério Público. O antigo secretário da educação, Prof. Neroaldo Pontes é do PSDB.

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