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segunda-feira, 3 de abril de 2006

O brechó de D. Lú


Seguramente a mídia amiga (da oposição) lamentou muito que tenha sido dona Maria Lúcia (Lú) Alckmin e não dona Marisa Letícia da Silva, o alvo da gentileza do estilista Rogério Figueiredo, que incrementou o guarda roupa da outrora primeira-dama paulista com 200 modelitos completos, o que, nas suas contas, dá umas 400 peças no total. Detalhe importante: as peças foram cedidas a D. Lú gratuitamente, entre 2001 e 2003.

Se fosse a primeira-dama da República o objeto de tanta generosidade, a grande imprensa não deixaria o caso passar batido. Os colunistas amestrados pela oposição não pensariam duas vezes antes de dedicar ao assunto as mais ofensivas qualificações: relações espúrias, tráfico de influência, comportamento anti-ético, etc, etc, etc...

Como quem desfrutou faceira e gratuitamente da bondade do estilista foi a esposa do candidato Geraldo Alckmin, o queridinho da mídia, a cobertura do caso mudou de tom. Afinal, gente fina é outra coisa.

Nesse aspecto, a reportagem da revista Veja é um exemplo pronto e acabado da hipocrisia das elites. Num tom ameno, inicia ressaltando que D. Lú é uma mulher "bonita e excepcionalmente conservada para seus 54 anos". O texto registra o desmentido de D. Lú: "É mentira que tenha recebido 400 vestidos ou 400 peças de roupa. A afirmação é falsa, absurda, descabida", disse ela a VEJA. "Todos os objetos enviados como presentes – a maioria sem anuência ou conhecimento prévio –, usados ou não, foram doados a entidades assistenciais." A reportagem também relata o fato de que a única doação comprovada – dez vestidos de festa à Fraternidade Irmã Clara – chegou à instituição dois dias depois que a notícia original foi publicada. Ou seja, D. Lú mentiu.

Tudo isso é relatado com uma linguagem suave, quase doce, como se estivesse diante de uma daquelas matérias tratando de amenidades da vida em sociedade. Em nenhum momento se observa o tom rancoroso, indignado e furioso, que a revista adota quando se trata de qualquer denúncia envolvendo o governo Lula, seja falsa ou verdadeira, envolvendo familiares do presidente ou não.

Condescendente, Veja contém o ímpeto ao definir a mutreta entre D. Lú e o estilista: "impropriedade", "relação mutuamente benéfica". O fato dela ter mentido, quando disse que todas as roupas foram doadas para instituições de caridade, também não foi suficiente para mexer com os brios éticos de Veja. Nesse caso, a mentira de D, Lú foi um simples "escorregão". No encerramento da matéria, Veja dá voz a um advogado de plantão para garantir que nenhuma ilegalidade foi cometida.

Então tá! A gente finge que acredita e Veja finge que faz jornalismo.

(PS. Como é generosa legislação do Estado de São Paulo, que permite à primeira-dama receber tantos presentes sem que se caracterize nenhuma ilegalidade).

Jens

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