Nunca o governo Lula conviveu com juros de mercado tão reduzidos. A taxa que serve como piso para as operações de crédito caiu ontem para o menor nível de sua história. O swap de 360 dias cedeu de 14,95% para 14,75% e só não projetou juro real de um dígito porque a inflação prevista para o mesmo período é muito baixa, de 4,25%. Mais do que a Selic definida pelo Banco Central, é o swap de 360 dias o juro capaz de tornar viável o forte crescimento econômico de até 5% previsto pelo governo para este ano.
A taxa de juros para um ano caiu ontem para o menor nível da história. O swap de 360 dias cedeu de 14,95% para 14,75%. Mais do que a taxa Selic definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, usada como parâmetro para a remuneração dos títulos públicos, o swap é o juro privado - formado a partir das expectativas dos próprios bancos -, que serve como referência-piso às operações de crédito. É ele, portanto, mais do que a Selic, o juro capaz de estimular o crescimento econômico e fazer convergir a expansão do PIB mais para perto da meta de 4,5% definida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, ou dos 5% previstos ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.
Desde janeiro de 1995, início da série histórica do swap de 360 dias, não se via juros tão baixos. Os de agora são nominalmente inferiores aos registrados no começo de 2004 - um dos fatores que garantiram crescimento de 4,9% naquele ano. As taxas nominais recordes de hoje só não conseguem estabelecer projeção de juros reais igualmente recordes porque a inflação prevista para o mesmo período é muito baixa. Em 13 de janeiro de 2004, o swap a 15% (recorde nominal anterior do governo Lula) prometia juro real de apenas 8,55% porque a projeção de IPCA estava em elevados 5,94%. Ontem, mesmo com a taxa a 14,75%, o juro real ainda está na casa de dois dígitos (10,07%) por causa da estimativa de inflação de 4,25% para 12 meses à frente.
O mercado futuro de juros da BM&F acentua a inclinação negativa da curva de juros mas num movimento que não está desligado das decisões do Copom. O recuo do swap 360 dias só é factível porque o pregão considera possível uma aceleração no ritmo de corte da Selic já na reunião deste mês do Copom. As pesadas quedas registradas ontem nos contratos futuros de CDI ampliaram para 0,90 ponto percentual a expectativa de redução do juro básico na reunião do dia 19. O CDI prognosticado para a virada do ano, término do primeiro mandato de Lula, tombou de 14,97% para 14,86%. Durante a maior parte de março, o DI futuro insistiu na projeção de continuidade do compasso de 0,75 ponto instituído na reunião de janeiro e referendado na do mês passado.
BM&F vê ampliação do ritmo de queda da Selic
O mercado futuro animou-se em ampliar a perspectiva de corte por causa de três fatores: 1) A transição de comando no Ministério da Fazenda foi mais suave do que se esperava. Não só os discursos, como as ações do novo ministro, mostram que não haverá mudanças, muito menos ruptura, na linha central ortodoxa da política econômica; 2) Tanto a inflação corrente quanto as expectativas de inflação estão muito bem comportadas. Na mediana, o IPCA previsto para o acumulado de 2006 pelas 100 instituições pesquisadas pelo relatório Focus do BC caiu para o centro da meta oficial de inflação para o ano. No boletim divulgado ontem, a projeção recuou de 4,57% para 4,50%; 3) Os indicadores recentes da economia americana revelam que o Federal Reserve (Fed) até tem, se quiser, condições técnicas para interromper o longo aperto monetário já na reunião de 10 de maio. Se o Fed parar a escalada com a taxa básica em 4,75%, os juros de 10 anos podem voltar a cair. Mostram hoje estabilização na faixa entre 4,85% e 4,87%.
Há, portanto, fundamentação técnica para o Copom, no exercício da autonomia operacional reforçada na semana passada por Lula, ampliar o corte da Selic, descaracterizando pressões de natureza política ou populista. Analistas até aventam a hipótese de a Selic recuar no mesmo ritmo inovador de 0,85 ponto inaugurado pela TJLP, ao invés da queda mais audaciosa de um ponto. Trata-se de um percentual que mantém o conservadorismo do BC e parece agradar ao ministro Mantega. O câmbio chancela quedas mais fortes dos juros. O dólar caiu ontem 1,15%, para R$ 2,14, apesar de o BC ter voltado a comprar moeda, após pausa de cinco dias.
Luiz Sérgio Guimarães
Valor Econômico
4/4/2006
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