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terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Dinheiro de impostos gastos em viagens


Milhares de cidadãos brasileiros se perguntam. Para onde vai o dinheiro dos impostos que eu pago na minha cidade? Dependendo de qual for a sua cidade, o dinheiro pode estar sendo torrado por vereadores do PSDB e PFL em viagens e compras no Paraguai.



O Jornal Nacional mostrou hoje uma viagem a um dos lugares mais bonitos do Brasil. Mas vai ser uma experiência revoltante. E não há nada de errado com o destino, um ponto turístico espetacular.

O problema dessa viagem são as pessoas que o repórter acompanhou no passeio. E dependendo de onde você mora, o dinheiro que vai pagar a diversão dessa gente vai sair do seu bolso.

Banho de piscina, mergulho no mar e tempo até para tomar sol. Ou que tal compras no Paraguai e visita às Cataratas de Foz do Iguaçu?

No horário em que vereadores do Sul do Brasil deveriam estar freqüentando seminários, eles aproveitam para fazer turismo. E nem sempre, precisavam faltar aula. Cursos com horário reduzido para garantir a diversão. Tudo pago pelo contribuinte.

Com uma câmera de vídeo, o repórter Giovani Grizotti se passou por um desses vereadores e foi, primeiro, a um curso sobre gestão nas câmaras municipais, em Camburiú, Santa Catarina.

Para participar do evento, o presidente da câmara de vereadores de Cafelândia, no Paraná, viajou com o carro oficial. Mas, no momento em que aconteciam as palestras, Neri José Ferreira, do PFL, preferia a praia e comentava sobre o dinheiro que recebe para viajar a trabalho.

"A diária lá tá R$ 500, tá boa”, dizia ele.

José domingos Risso Neto é assessor e irmão do vereador de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, Luis Gilberto Risso, do PSDB. Ele foi representando o irmão e aproveitou bastante o tempo livre.

"Assisti o primeiro dia só. Ontem, olhei, fiquei meia hora ali e saltei fora. Eu digo, não, isso não é para mim, isso aí", falou ele, que debochou: "Tudo pelo povo".

Nerí Peter, do PSDB, presidente da câmara de vereadores da cidade gaúcha de Lindolfo Collor, confessa para que está servindo o encontro.

"Isso aqui na verdade é um meio de um vereador ganhar uns trocos por fora", comenta Nerí.

Com a redução do número de vagas nas câmaras, sobrou mais dinheiro para as viagens. É o que garante Antonio Vandir Meurer, do PDT, de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul.

"Não tinha condições de 19 viajarem todo o mês. E com nove, nós viajamos todo mês. Isso aí tudo é um caixa para futura campanha do cara, né", informava Antonio Meurer.

Às 10h19, em Foz do Iguaçu, onde acontecia mais dois cursos de vereadores, em vez de estar aprendendo lições de como controlar os gastos das câmaras, um carro leva um grupo para Cidaud Del Este.

"É por isso que dá na televisão: os vereadores só querem Foz do Iguaçu. Se alguém me perguntar é porque o curso é muito bom”, ironizava um vereador.

Eles compram DVDs piratas, entram em muitas lojas. Resultado do passeio: sacolas e mais sacolas de compras e o porta-malas da van fica lotado. Até pneus eles levam.

No caminho, o vereador Julio Cezar da Rocha Duda, sem partido, diz que vai dar um jeitinho de ir embora antes do fim do seminário. Mas na cidade de Nonoai, onde é presidente da Câmara, ninguém pode ficar sabendo que já voltou.

"Eu não posso aparecer lá. Tenho que ficar escondido. Os caras pegam no pé. Mas a gente se esconde", explica ele.

Para não ter problemas na hora de prestar contas na volta da viagem, a solução é fácil.

O vereador Jonas Cezar Will, do PSDB, de Agrolândia, em Santa Catarina, que fez parte do grupo que foi ao Paraguai e visitou as cataratas revela a estratégia.

"Eu já assinei as presenças de todos os dias”, afirma ele.

Para mostrar como é simples para um vereador forjar a presença, o repórter da Globo negocia, com uma das organizadores do evento, a compra de um certificado. O diploma atesta que ele freqüentou todas as palestras. A funcionária oferece um desconto de R$ 100 e o preço fica em R$ 200.

"Eu vou te inscrever desde o primeiro dia, né. Para não ter problema para ti lá na tua cidade. E mesmo o recibo, eu acho que a gente faz no valor integral para não te complicar", diz ela.

No dia seguinte, voltou para buscar o diploma e assinar as listas de presença.

O vereador do Paraná pede um diploma de seis dias de curso. No certificado, a duração do curso é de 17 horas.

O Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, que fiscaliza a movimentação financeira das câmaras municipais, diz que vai abrir uma auditoria para analisar a comprovação das despesas dos vereadores que aparecem na reportagem.

O Ministério Público gaúcho também vai investigar as denúncias. Se for comprovado que o dinheiro foi parar no bolso dos vereadores, eles correm até de perder o mandato.

"Precisamos então recompor esses valores para o horário publico e também vamos buscar a suspensão dos direitos políticos se caracterizado o dolo", falou Mauro Renner, sub-procurador geral do Ministério Público.

"Não resta dúvida de a situação do evento, propriamente dito, não tava no interesse deles”, afirmou Osmar Rocha Meirelles, auditor do Tribunal de Contas – RS.

O presidente da câmara de vereadores de Nonoai, Julio Cezar Duda, disse que ficou todo o tempo no encontro e que não foi ao Paraguai ao contrário do que mostraram as imagens.

O vereador Nerí Peter PSDB, de Lindolfo Collor, também negou qualquer irregularidade.

A assessoria do presidente da câmara de Cafelândia, Néri Ferreira, informou que se o vereador foi à praia, foi fora do horário do seminário.

O assessor José Domingos Neto disse que não matou aulas do curso. O vereador Vandir Meurer, de Rio Pardo e Jonas Cezar Will, de Agrolândia, não foram localizados.

O dono da empresa que organizou o evento em Foz do Iguaçu, Walmir da Silva, disse que a funcionária dele cometeu um equívoco ao conceder um diploma com informações falsas.


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