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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Por que Aloysio Nunes foi a Washington um dia após votação do impeachment?



Nesta terça-feira (19) o site The Intercept, que tem com um de seus fundadores o jornalista Glenn Greenwald, publicou uma extensa matéria sobre a situação política atual do Brasil. Ele inicia o texto comentando que o voto de número 342, o decisivo para aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi realizado justamente pelo deputado Bruno Araújo, mencionado em um documento que sugere que ele poderia ter recebido fundos ilegais de uma das principais empreiteiras envolvidas no atual escândalo de corrupção do país. Além disso, Araújo pertence ao PSDB, cujos candidatos perderam quatro eleições seguidas contra o PT, partido de Dilma Rousseff, sendo a última delas há apenas 18 meses atrás, quando 54 milhões de brasileiros votaram pela reeleição de Dilma como presidente.

Segundo a reportagem, esses dois fatos sobre Araújo sublinham a natureza surreal e sem precedentes do processo que ocorreu ontem em Brasília, capital do quinto maior país domundo. Políticos e partidos que passaram duas décadas tentando - e fracassando - derrotar o PT em eleições democráticas encaminharam triunfalmente a derrubada efetiva da votação de 2014, removendo Dilma de formas que são, como o relatório do The New York Times de hoje deixa claro, na melhor das hipóteses, extremamente duvidosas. Até mesmo a revista The Economist, que há tempos tem desprezado o PT e seus programas de combate à pobreza e recomendou a renúncia de Dilma, argumentou que "na falta da prova de um crime, o impeachment é injustificado" e "parece apenas um pretexto para expulsar uma presidente impopular. "

No texto de "Intercept", o jornalista Glenn Greenwald ressalta que os processos de domingo foram presididos por um dos políticos "mais descaradamente corruptos do mundo democrático"

No texto de Intercept, o jornalista Glenn Greenwald ressalta que os processos de domingo (17), conduzidos em nome do combate à corrupção, foram presididos por um dos políticos mais descaradamente corruptos do mundo democrático, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, que teve milhões de dólares sem origem legal recentemente descobertos em contas secretas na Suíça, e que mentiu sob juramento ao negar, para os investigadores no Congresso, que tinha contas no estrangeiro. Dos 594 membros do Congresso, "318 estão sob investigação ou acusados" enquanto o alvo deles, a presidente Dilma, "não tem nenhuma alegação de improbidade financeira".

Um por um, legisladores manchados pela corrupção foram ao microfone para responder a Cunha, votando "sim" pelo impeachment enquanto afirmavam estarem horrorizados com a corrupção, afirma The Intercept.

O veículo destaca como mais bizarros os votos de "Sim", de Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração e o de Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. "Pelo amor de Deus, sim!" declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.

Outro fato importante a ser destacado na matéria do Intercept, é que embora não tenha surgido nenhuma evidência que comprove essa teoria, uma viagem aos EUA, de um dos principais líderes da oposição brasileira deve provavelmente alimentar essas preocupações. Na segunda-feira (18), dia seguinte à votação do impeachment - o senador Aloysio Nunes do PSDB estava em Washington para participar de três dias de reuniões com várias autoridades norte-americanas, além de lobistas e pessoas influentes, próximas a Clinton e outras lideranças políticas. O senador Nunes foi se reunir com o presidente e um membro do Comitê de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker (republicano, do estado do Tennessee) e Ben Cardin (democrata, do estado de Maryland), e com o Subsecretário de Estado e ex-Embaixador no Brasil, Thomas Shannon, além de comparecer a um almoço promovido pela empresa lobista de Washington, Albright Stonebridge Group, comandada pela ex-Secretária de Estado de Clinton, Madeleine Albright e pelo ex-Secretário de Comércio de Bush e ex-diretor-executivo da empresa Kellogg, Carlos Gutierrez.

A Embaixada Brasileira em Washington e o gabinete do senador Aloysio Nunes disseram ao The Intercept que não tinham maiores informações a respeito do almoço desta terça-feira (19). Por email, o Albright Stonebridge Group afirmou que o evento não tem importância midiática, que é voltado "à comunidade política e de negócios de Washington", e que não revelariam uma lista de presentes ou assuntos discutidos.

Como declara a matéria, Aloysio Nunes concorreu à vice-presidência em 2014 na chapa do PSDB que perdeu para Dilma e agora passa a ser, claramente, uma das figuras-chave de oposição que lideram a luta do impeachment contra Dilma no Senado. Como presidente da Comissão de Relações e Defesa Nacional do Senado, Aloysio Nunes defendeu repetidas vezes que o Brasil se aproxime de uma aliança com os EUA e o Reino Unido. O que também se sabe é que Nunes está envolvido no trepidante caso de corrupção da Petrobras.

A reportagem destaca que a viagem de Aloysio Nunes a Washington foi divulgada como ordem do próprio Temer, que está agindo como se já governasse o Brasil. O pretenso presidente enviou Aloysio Nunes para Washington, segundo um jornal brasileiro de grande circulação, para lançar uma "contraofensiva de relações públicas" e combater o aumento do sentimento anti-impeachment ao redor do mundo, o qual Temer afirma estar "desmoralizando]as instituições brasileiras". Demonstrando preocupação sobre a crescente percepção da tentativa da oposição brasileira de remover Dilma, Nunes disse, em Washington, "vamos explicar que o Brasil não é uma república de bananas". Um representante de Temer afirmou que essa percepção "contamina a imagem do Brasil no exterior".

The Intercept finaliza deixando clara a sua opinião. "Não há dúvida de que a opinião internacional se voltou contra o movimento dos partidos de oposição favoráveis ao impeachment no Brasil. Ha apenas um mês atrás, os veículos de comunicação da mídia internacional descreviam os protestos contra o governo nas ruas de forma gloriosa, os mesmos veículos agora destacam diariamente o fato de que os motivos legais para o impeachment são, no melhor dos casos, duvidosos, e que os líderes do impeachment estão bem mais envolvidos com a corrupção do que Dilma. "

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