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domingo, 9 de outubro de 2011

Os taradões do Zorra Total, na vida real são defendidos pela TV Globo

Desde 2006, existe uma lei estadual no Estado do Rio de Janeiro, que obriga o Metrô e os trens urbanos a terem um vagão exclusivo para mulheres nas horas de superlotação.  Outros estados eu não sei.

A lei até envergonha, pois expõe um comportamento medieval que nem deveria existir, mas revelou-se necessária porque existem tarados à solta que não tem cerimônia em atentar passageiras com bolinação e abuso sexual, exatamente como acontece em um quadro no programa humorístico Zorra Total, da TV Globo.

Severino, personagem que representa porteiro da Rede Globo, bolina e abusa sexualmente de passageiras do Metrô. Uma TV concorrente não poderia fazer melhor para detornar a imagem da própria Globo.

Os criadores do humorístico, que só devem andar de carro e se lixar para a realidade do povão, acham engraçado, acham uma coisa "non-sense", pois não faz parte de sua realidade, nem de suas mães, nem de suas filhas, esposas, irmãs.

Mas a realidade das passageiras do Metrô e trem que tiveram o dissabor de passar por uma situação torpe destas, não tem nada de engraçado.

E o caso incomoda a tanta gente que mobilizou a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, a criar a citada lei, com votação em plenário e tudo que tem direito.

Primeiro leiam esta reportagem do Jornal do Brasil, publicada em 2009, (em seguida volto ao assunto):

Mulheres relatam abuso sexual em vagões de trem no Rio

Lauricéia de Souza, moradora de Queimados, no Estado do Rio de Janeiro, acorda às 5h30 todos os dias para estar na estação ferroviária às 7h15 e pegar o trem para o Méier, zona norte da capital, onde trabalha como doméstica. Tanto para ir quanto para voltar, viaja em composições lotadas e viveu um drama que ainda é uma constante, apesar da lei de 2006 que criou os vagões exclusivos para mulheres: o abuso sexual.

"Eu estava de saia e não dava nem para me mexer de tão cheio que estava. Na hora, não senti nada, mas, quando desci, o vento bateu e senti que minha saia estava úmida. Que nojo, fiquei revoltada, um homem tinha ejaculado em mim. Lauricéia, 33 anos, diz que a criação do vagão exclusivo para mulheres nos horários de pico foi uma lei que não pegou.

"Você está vendo alguma placa indicando o vagão feminino?", pergunta ela. "Isso na prática não existe, quando as portas abrem, os homens entram em todos os vagões, não tem organização".

Também doméstica, só que empregada numa residência em Madureira, Carmem Lúcia de Jesus, 40 anos, pega trem há 10 e dá graças a Deus por nunca ter sofrido violência semelhante. Segundo ela, diante da passividade dos agentes de controle da SuperVia e dos policiais militares do Grupamento de Policiamento Ferroviário, os homens que são descobertos abusando sofrem um justiçamento dos próprios passageiros.

"Na estação de Ricardo de Albuquerque eu vi um homem botar o 'negócio' dele por baixo da minissaia de uma garota. Ela se virou e meteu a mão na cara dele", relata. "Quando o pessoal que estava em volta viu, começou a bater também. Ele acabou expulso do trem".

Segundo a assessoria de imprensa da SuperVia, a empresa segue a lei número 4733/2006, que obriga as concessionárias de trem e metrô a disponibilizarem e identificarem um vagão exclusivo para mulheres nos horários de maior movimento, entre 6h e 9h e das 16h às 20h.

A representante comercial Rosângela Souza, 37 anos, moradora de Nilópolis, diz que evita os trens nesses horários justamente para não correr riscos. E acha a legislação insuficiente para coibir os abusos. "Hoje, a maioria das mulheres trabalha fora. Um vagão só não dá conta. Acho que tem mais mulher do que homem nos trens. E não há segurança nenhuma dentro dos vagões, os agentes só entram quando é para tirar vendedor ambulante", desabafa.

Revolta geral

O ambulante Geraldino Nascimento dos Santos, 69 anos, 30 vendendo mercadorias clandestinamente nos trens, diz que já ajudou a linchar um homem flagrado abusando de uma mulher. "Quando o cara dá mole, até camelô ajuda a bater".

Geraldino lembra o caso acontecido com uma vizinha sua. "Ela era toda fortona, morava em Engenheiro Pedreira e ia para a academia em Queimados fazer ginástica. Um cara chegou a ejacular na malha dela. Como ela era forte, saiu batendo nele e todo o pessoal ajudou", disse.

Jonas Eleutério, 50 anos, também viu os usuários fazendo justiça com as próprias mãos. "O homem se roçou na mulher e ela reclamou. Quando as portas se abriram na estação de Cascadura, só vi o cara correndo e uns 15 atrás dele para bater.

Luciana Alves, 24 anos, que na tarde da última quinta-feira viajava de Japeri para Manguinhos com os filhos Wallace, 8, e Gabriela, 2, estava tranqüila em um trem quase vazio. Ela deu sua receita para não ter maiores dissabores quando o vagão está lotado. "O negócio é entrar, correr para um cantinho e ficar escondida ali, junto da parede. Já vi muita coisa horrível, mas comigo, graças a Deus, nunca aconteceu". Segundo a SuperVia, há entre 150 agentes trabalhando por turno espalhados pelas 89 estações. A empresa alega que o número de policiais militares que lhes dão apoio diariamente, cerca de 30, não deveria ser menor do que 100.

Por causa destas coisas que acontecem aí acima, o próprio programa da TV Globo, por conta própria, deveria retirar a bolinação de cena.

Vejam bem: ninguém está pedindo para censurar o programa, nem tirar o quadro do ar, apenas retirar a parte que banaliza o crime de abuso sexual, por exercer uma clara influência negativa na sociedade.

Há formas de continuar fazendo o humor, sem apelar para naturalizar crimes.

As mulheres do Sindicato dos Metroviários de São Paulo repudiaram a cena em carta aberta à população:


A SPM (Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal), através da sub-secretária, Aparecida Gonçalves, enviou uma nota de apoio às metroviárias de São Paulo.

A turma da imprensa atucanada vislumbrou uma "oportunidade" de fazer guerra política, atacando mais uma vez a ministra Iriny Lopes, deturpando um problema (que é muito mais sério do que parece para quem não o vivencia), com os velhos chavões de "censura" (o que ela desmentiu nesta nota oficial), de "ditadura do politicamente correto", de "liberdade de expressão".

Não existe censura, existe liberdade de expressão à vontade, e neste caso não cabe sequer o conceito de politicamente correto, cabe só o politicamente.

E, politicamente, quais estão sendo as escolhas políticas da TV Globo?

- Defender a (falsa) "liberdade de expressão" dos tarados dentro do Metrô e trens.

- Censurar a voz das mulheres que se recusam a sofrer abuso sexual dentro de Metrô e trens.

7 Comentários:

luiz disse...

O que podemos esperar desta emissora canalha?

MA_Jorge disse...

È isto aí, Ze Augusto...

"A Globo se liga em você" imbecis telespectadores, sempre ajudando a promover situações como as protagonizadas por seus leais servidores em programas humorísticos.

Sorriam todos ao toque do Plim, Plim. E dá-lhe m* em bom nível, vendida e abençoada por âncoras como os do "Casal 20"; realmente "ela se liga em você!

Wilsoleaks Alves disse...

Neste sábado passado 08/10 assisti ao Zorra Total para ver se a globo (minúscula) teria coragem de novamente colocar uma mulher sofrendo crime sexual como piada e qual não foi minha surpresa.
Teve coragem!
Na verdade coragem a globo tem, o que ela não tem é caráter e dignidade.

Anônimo disse...

Além disso, o quadro "humorístico" é preconceituoso. O "porteiro Severino" é uma alusão ao estereotipo do retirante nordestino. É esse o padrão Globo de televisão.

Anônimo disse...

Parabéns às metroviárias, a ministra e a lamentar, não apenas a nefasta rede globo, mas a falta de uma ley de medios, que, como este mesmo blog já deu a entender, acha que devemos "disputar" espaço na blogosfera. Faz-me rir, companheira Helena! Quem "assiste" a nossa blogosfera? Quantos assistem a este programa da globo? Pois é... É o mesmo que dizer que cotas para negros gera mais racismo! Ora, se não se criar as cotas, mesmo dando-se oportunidade para todos, só daqui a uns trinta anos veríamos o negro em pé de igualdade a um branco.

Deu para entender a conexão? Sem uma ley de medios, mesmo com uma vigorosa blogosfera progressista, só daqui a um século teríamos uma democratização nos meios de comunicação. Portanto, enquanto Dilma com o Hibernardo querem posar de amantes da mídia por exercer papel importante - segundo palavras da nossa presidenta, vamos ver o achincalhamento das leis que favorecem as minorias e o forjar de uma sociedade cada vez mais fascista.

Leonardo Scalercio

Anônimo disse...

Seria muito interessante se os homens que criticaram a ministra Iriny, passassem por assédio do mesmo jeito que as mulheres passam nos trens, ônibus e metrôs, pra eles sentirem no trazeiro o que é que as mulheres passam. Garanto que eles calaria a boca imediatamente. Idiotas.

TT disse...

É de minha opinião que se deveria fazer clara a diferença entre proximidade física com roupa (havendo ou não indicação de excitação sexual) e coisas como atentado ao pudor, abuso sexual/físico etc.

Proximidade, devido a falta de espaço ou mesmo por escolha de trajeto e posicionamento no interior do veiculo, é praticamente indiferenciável de contato com um objeto inanimado como uma mochila ou outro acessório; do mesmo jeito que se espera polidez de ambas as partes quando alguém encosta por exemplo uma bolsa em outra pessoa e esta considera tal contato não preferível, as pessoas deveriam se portar do mesmo jeito quando o contato envolve partes do corpo, sejam as partes peitos, ombros, mãos, cotovelos, virilhas, joelhos, calcanhares ou o que seja; desde que a vestimenta de ambas as partes esteja dentro do esperado pro ambiente em questão.

Porem se uma das pessoas sem consentimento da outra expõe uma parte intima (sua ou do outro), ou de alguma outra maneira tenta obter contato que normalmente não seria possível ou pratico devido ao uso em publico das vestimentas utilizadas por qualquer um dos envolvidos (por exemplo levantar ou arriar saias ou inserir partes de seu próprio corpo entre a roupa e corpo da outra pessoa) sem consentimento; nesses casos sim o sistema legal (e na ausência deste, um grupo de linchamento publico improvisado) poderia ser considerado um recurso adequado.


Pessoalmente eu varias vezes já tive pessoas de ambos os sexos encostando em mim de jeitos que algumas pessoas poderiam considerar incômodos enquanto a bordo de um transporte publico; eu não me importo, mas não duvido nem um poco que se eu tivesse pedido pra essas pessoas pra parar de encostar em mim essas pessoas teriam atendido prontamente (na medida do possível é claro, as vezes tem gente demais pra poco ônibus e fica difícil de manobrar na multidão, dá até pra perder o ponto por não conseguir chegar na porta a tempo).


As pessoas em geral lidam com coisas como contato físico, interações sociais, sexualidade etc, dum jeito muito infantil. Eu sou homem, e mesmo assim, se um homem ou uma mulher nada atraente se encostasse em mim num transporte publico e demonstrasse sentir prazer da situação, desde que não me suje nem estrague minha roupa nem me impeça de me afastar quando eu quiser etc, eu não veria problema nenhum nisso, e até me sentiria feliz pela pessoa estar sentindo prazer durante o que normalmente seria uma viagem monótona e as vezes até desagradável (assentos duros, falta de ar condicionado em dias quentes, motoristas que freiam e dão curvas bruscamente, buracos nas ruas etc); sim, é possível se sentir bem quando coisas boas acontecem com outras pessoas mesmo que essas coisas não tragam nenhum beneficio pra ti. O mundo seria muito melhor se mais gente aprendesse a ser assim.



Num tópico relacionado, eu acho uma idiotice isso de ficar dando tratamento especial a crimes envolvendo certas classes de pessoas; violência é violência, seja contra uma criança, contra uma mulher, contra um descendente de africanos, contra homossexuais, ou contra um homem adulto branco e hétero. As penas não deveriam ser reduzidas baseado em quem foi a vitima. Ah, e por falar nisso, tem muitos homossexuais e até homens hétero que são vitimas de violência domestica, abuso sexual etc; é muito preconceituoso achar que só mulheres precisam de ajuda com essas coisas.

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