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domingo, 2 de janeiro de 2011

A nova face da moeda

O real fortaleceu-se diante do dólar e do euro e refletiu a intensa atração de investimentos externos pelo Brasil nos últimos oito anos

Os oito anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram marcados por várias mudanças, e uma das mais notáveis foi na posição da moeda brasileira. Em 2002, quando Lula assumiu a Presidência, o real era uma moeda fraca. Ao passar o cargo para Dilma Rousseff, Lula entrega a ela o comando de um país com moeda forte - que deverá permanecer assim por muitos anos.

Essa mudança radical ocorreu por dois motivos. Um deles foi a perseverança do governo nos bons princípios econômicos - a busca da inflação baixa, a manutenção do câmbio flutuante e o esforço em arrecadar mais do que gasta. "Isso permitiu que o Brasil permanecesse atraente aos investidores internacionais", diz Dalton Gardiman, economista-chefe da Bradesco Corretora.

O outro motivo foi internacional. Os Estados Unidos e, em menor escala, os principais países da Europa tiveram de combater excessos de endividamento tanto públicos quanto privados. A solução para isso foi emitir moeda, muita moeda e baixar os juros.

Dinheiro em excesso e rentabilidade baixa provocaram uma inundação de dólares e de euros no mercado internacional. Boa parte desse dinheiro veio para o Brasil, o que ajudou a valorizar ainda mais o real. "Os dólares vieram para comprar ações e títulos de empresas brasileiras", diz Darwin Dib, economista do Itaú Unibanco.

Os números da mudança impressionam. No fim de 2002 eram necessários quase quatro reais para comprar um dólar e mais de cinco para adquirir uma libra esterlina. Hoje, um dólar custa cerca de R$ 1,70 e uma libra custa menos de três reais (veja o gráfico).

Além disso, o Brasil atrai recursos. As reservas internacionais, que eram de US$ 38 bilhões em dezembro de 2002, avançaram para US$ 285 bilhões em novembro de 2010. Os investimentos estrangeiros diretos - aqueles em que os investidores internacionais não compram ações ou títulos de renda fixa, mas aplicam diretamente na propriedade e na produção - somaram US$ 207 bilhões nos últimos oito anos.

O real agora chama a atenção dos investidores. Warren Buffett, segundo homem mais rico do mundo, anunciou ter especulado com a moeda brasileira em 2007. A bolsa de Chicago já negocia contratos futuros de real, e os investidores internacionais compram títulos denominados em reais desde 2005.

A moeda brasileira não é plenamente conversível - ainda não é possível usá-la para pagar uma conta em Nova York, Paris ou Lisboa - mas ela entrou para ficar no radar do mercado.

Isso é bom para a economia. Um real que permanece forte pelo ingresso de dinheiro de fora deixa os importados baratos e ajuda a conter a inflação, diz Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da ESPM.

"Manter o nível de preços é bom, especialmente para produtos importados como componentes para a indústria", diz ela. O impacto negativo, que é reduzir a rentabilidade das exportações, é compensado pelo aumento de preços das commodities agrícolas.

Os especialistas não esperam grandes mudanças a curto ou mesmo a médio prazo. "Ainda vai demorar pelo menos uma década para a economia americana resolver seu problema de crédito", diz Gardiman. "Enquanto isso não ocorrer, não deverá haver uma redução da emissão de dólares nem uma forte elevação dos juros nos Estados Unidos."

Assim, os motivos que garantem a abundância da oferta internacional de dólares não vão mudar. O real, que no começo do governo Lula foi desprezado pelos investidores, vai manter seu lugar de destaque no mercado de moedas pelo menos até o fim do governo Dilma.IstoÉ

1 Comentários:

Tatiana Moura disse...

A imprensa está disposta a apagar o lLula da memória dos brasileiros. É preciso: ir em frente com a "ley de medios" e botar a cara do Lula numa cédula do Real. O que acham?

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