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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A cara do governo

Ninguém votou em Dilma para que o “dilmismo” vencesse o “serrismo”. Só quem quis que a eleição fosse essa foi o próprio Serra, que sabia que perderia se o foco da escolha se alargasse

A reação de parte da imprensa às informações sobre a composição do governo Dilma é curiosa. Em alguns veículos, chega a ser cômica.

Outro dia, um dos jornais de São Paulo estampou em manchete que Dilma estava “montando o núcleo de seu ministério com lulistas”. O que será que o editor imaginava? Que ela fosse recrutar “serristas” para os postos-chave de sua administração?

Como ensinam os manuais do jornalismo, essa não é uma notícia. Ou será que algo tão óbvio merece destaque? “Cachorro come linguiça” não é um título para a primeira página. No dia em que a linguiça comer o cachorro, aí sim a teremos uma notícia (que, aliás, deverá ser impressa em letras garrafais).

Na mesma linha, um jornal carioca achou que era necessário alertar os leitores para o fato de que “Lula está indicando várias pessoas para o governo Dilma”. Em meio a estatísticas sobre quantos nomes já havia emplacado, a matéria era de franca desaprovação.

Na verdade, tanto nessa, quanto na manchete do jornal paulista, estava implícita quase uma denúncia, como se um duplo malfeito estivesse sendo cometido. Por Lula, ao “se meter” na formação do novo governo, ao “tentar interferir” onde, aparentemente, não deveria ter voz. Por Dilma, ao não reagir à intromissão e o deixar livre para apontar nomes.

Quem publica coisas assim dá mostras de não ter entendido a eleição que acabamos de fazer. Não entendeu como Lula, seu principal arquiteto, a concebeu, como Dilma encarnou a proposta, e como a grande maioria do eleitorado a assimilou.

Tudo mundo sabe que, quando Lula formulou o projeto da candidatura Dilma, a ideia central era de continuidade: do governo, de suas prioridades, de seu estilo. Ele nunca disse o contrário e insistiu no uso de imagens que caracterizavam, com clareza, o que ela representava. Para que ninguém tivesse dúvidas, chegou a afirmar que votar em Dilma era a mesma coisa que votar nele. Foi explícito nos palanques, nas declarações, na televisão.

Dilma sempre falou a mesma coisa. Mostrou-se à vontade como representante de Lula e do governo, seja por sua lealdade para com o presidente, seja pela boa razão de que o governo era dela também. Apresentar-se ao país como candidata de continuidade nunca a deixou desconfortável, pois significava defender aquilo a que havia se dedicado nos últimos oito anos.

Isso foi bem entendido pelos eleitores. Desde o primeiro momento e até o fim da eleição, as pessoas olharam para Dilma sabendo qual era a natureza de sua candidatura. Muitas descobriram suas qualidades pessoais, mas o núcleo da decisão de votar em seu nome foi outro, como mostraram as pesquisas.

Ninguém votou em Dilma para que o “dilmismo” vencesse o “serrismo”. Só quem quis que a eleição fosse essa foi o próprio Serra, que sabia que perderia se o foco da escolha se alargasse, se os eleitores olhassem para o que cada candidato representava e não se limitassem a fazer a velha comparação de biografias.

Agora, quando Dilma escuta Lula na montagem do governo, ela apenas cumpre a promessa fundamental de sua candidatura, a razão principal (para alguns eleitores, a única) de ela ter sido votada. Quando dá mostras de que manterá ministros e dirigentes, faz apenas o natural. Se, por exemplo, se comprometeu durante a campanha com a preservação de determinada política, porque razão não seria adequado que o responsável permanecesse?

O governo que está sendo organizado terá a cara da continuidade, política e administrativa. Terá a cara de Lula, do PT e das outras forças partidárias que venceram a eleição. Terá a cara da atual administração, que é aprovada pela maioria da sociedade. Terá a cara de Dilma, pois é ela que o chefiará.É isso que foi combinado com o país. Por Marcos Coimbra

10 Comentários:

Jorge Santos disse...

Artigo muito legal... Essa mídia piguenta é venal... Até eu estava começando a ficar chateado com o alerde das bestas do apocalipse sobre a composição do governo Dilma.

à propósito, parece que Kotso entrou novamente no canto da sereia do PiG, veja esse artigo:

Falta novidade no governo de Dilma

http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2010/12/01/falta-novidade-no-governo-de-dilma/

Newton - RJ disse...

Queridos Amigos do Presidente Lula,
Tudo isso que foi dito neste post é verdade. Mas não significa que o nosso querido presidente Lula é perfeito e que não deveria neste momento, sim, manter discrição. Ele não pode pretender "governar através da Dilma". Seria um erro terrível. Além do que, foi pregado na campanha que a eleição de Dilma era para "continuar a obra de Lula e aprofundá-la, fazer ainda melhor". Ora, é aqui que esperamos o papel da presidente Dilma. A contribuição de um outro olhar, um outro estilo, mantendo e aprofundando as políticas iniciadas por Lula. Claro que a mídia fica minando, desqualificando e essas bobeiradas todas, ridículas. Mas mesmo para nós, que votamos em Dilma, incomoda por exemplo a manutenção de Nelson Jobim na Defesa, um serrista confesso. Parece-me que o presidente Lula tem todo o direito de "indicar" alguns nomes para o ministério, como o principal "eleitor" de Dilma, mas que erra ao exagerar nas indicações e ainda mais quando faz isso publicamente, não há dúvida. Tira autoridade de Dilma - e não há governo que dê certo assim. Lula escolheu Dilma, levou o PT a apoiá-la e fez campanha. Ok, beleza, mas precisa entender que a presidente agora é ela. Foi ele que escolheu. Se pretendia continuar governando, que tivesse coragem de defender o terceiro mandato. Sou fã de Lula, mas a verdade precisa ser dita. Pelo bem do próximo governo, que tem tudo para ser e precisa ser um sucesso!

Probus disse...

Gostaria de saber se Dilma Rousseff vai manter/homologar o "escoteiro de Washington", Nelson Jobim (ou Johnbim, como bem diz PHA) no cargo de Ministro da Defesa.
Afinal, pelo visto, Marco Aurélio Garcia será um provável, duro, racional e nacionalista da Política Externa do Governo Dilma e, se Dilma Rousseff tiver o mínimo de JUÍZO: Ela nomeará SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES para o MINISTÉRIO DA DEFESA.

Gostaria de saber se o Governo Federal vai formalizar a Embaixada Americana no BraZil sobre os fatos, bem como, estender esta arbitrariedade Americana ao Conselho de Segurança da ONU, a própria ONU e a HAIA.

Gostaria de saber porque o Nelson Johnbim é tão protegido.

Gostaria de saber, finalmente, se o PMDB é um parte coligado a Dilma Rousseff e a LULA ou se "Joga Dos Dois Lados".

Malu cpv disse...

Sofri muito com a camapanha eleitoral deste ano, passei meus dias na internet em busca de informações e tentanto conseguir votos para Dilma. Está tudo muito bem, mas não consigo engolir o Nelson Jobim como ministro da Defesa.Que força terá essa pessoa para continuar neste cargo, que acho deveria ser de alguem da esquerda.

Geysa Guimarães disse...

Bastante lógica a matéria. Como disse ontem o presidente Lula, "o que esperavam, que Dilma chamasse Serra para ministro da Economia"?
Sou da torcida "Em time que tá ganhando não se mexe", com o José Eduardo Cardozo na Justiça já estou satisfeita. Ficaria ainda mais se o Brizola Neto fosse para um lugar à altura de sua grandeza.
Quanto a Jobim, Lula e Dilma devem ter motivos para mantê-lo na Defesa. Imagino que aquietar os militares e a direita golpista seja o principal.
O maior de nossos presidentes e a presidenta eleita devem saber o que fazem, resta-nos confiar em suas escolhas e PT, saudações.

Reg disse...

Fora Jobim, x9 tolerado por Lula.
Votei na Dilma.
A caneta é da Dilma.
A caneta e a assinatura deve ser de Dilma e só.
Fora jobim.

Virgílio disse...

Compartilho com os amigos a mesma sensação de que algumas peças precisavam ser mudadas. E a principal delas é o serrista Nelson Jobim. Sei que a questão militar é sempre algo delicado, mas será possível que não teríamos um outro nome? E ainda depois das últimas notícias sobre como ele agiu, creio que sua manutenção no ministério é extremamente desgastante. No mais, concordo no geral com o artigo de Coimbra. Mas na continuidade, há mudanças. Uma delas, importante, é a que está acontecendo no Ministério das Comunicações - não vamos ter mais um ex funcionário da Globo... e sim alguém do PT. Acho um bom sinal. No entanto, sei como é complexo montar uma equipe de governo com estas alianças necessárias à governabilidade.

jamile disse...

É isso aí.Foi por isso mesmo que eu votei DILMA.
Não conseguiria ver MEU QUERIDO BRASIL governado pelo Pastor,Padre,José Serra.

leonardo-pe disse...

eu tambem faço essa pergunta para lula/Dilma:vão manter esse TRAÍRA?

Manoel Palmeira disse...

Até agora a presidenta Dilma acertou em cheio na composição do seu Ministério. Está 6 X 0 para ela.
No entanto, a grande preocupação é a pasta da Agricultura.
Caso ela venha manter o Wagner Rossi, do PMDB paulista, a credibilidade da Presidenta estará completamente ABALADA e COMPROMETIDA, já que a grande imprensa está pronta para torpedear Rossi com um gravíssimas denúncias de corrupção.
Nossa querida Presidenta precisa tomar muito cuidado com a nomeação para o Ministério da Agricultura.

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