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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Nobel de Obama

Muita gente se surpreendeu com o prêmio Nobel da Paz concedido ao presidente norte-americano Barak Obama. Afinal é um presidente com pouco tempo de mandato e que ainda não mostrou a que veio. O cineasta Michael Moore afirmou que agora que Obama ganhou o Nobel deve fazer por merecê-lo. Em linha próxima a esse raciocínio segue Fidel Castro, em recente artigo publicado na Agência Cubana de Notícias.
Um dos fortes candidatos ao Nobel da Paz era o presidente Lula, que apenas não ganhou devido a situação que Obama enfrenta hoje nos Estados Unidos.

Como toda decisão é política, coube aos organizadores da outorga também fazer uma escolha política. Lula já vinha há tempos sendo lembrado para o prêmio, devido aos projetos sociais, como o programa bolsa família, que se tornou exemplo mundial de política pública de sucesso, de distribuição de renda e de retirada de pessoas da situação de miséria, além de suas preocupações com a diminuição da miséria em outros continentes, particularmente a África, com projetos de inclusão de afro-descentes, pobres e populações indígenas, como o Pro-Uni, além de uma série de outras iniciativas.

Obama, por sua vez, elegeu-se com um discurso novo para os padrões norte-americanos, carregando a esperança de muitos por ser jovem, ter um histórico de compromisso com movimentos sociais e principalmente, por ser um afro-descente. No entanto, passado quase um ano de sua posse muitas das iniciativas, que grande parte de seus apoiadores esperavam, não aconteceram. O fechamento de Guatánamo continua sem conclusão, o embargo comercial a Cuba não foi suspenso, tropas norte-americanas continuam no Afeganistão e no Iraque, o orçamento militar recentemente aprovado é o maior da história dos EUA.

Enfim, Obama recebeu o Nobel da Paz não pelo que fez, mas é um prêmio que veio para dar sustentação política aos ataques que vem sofrendo dentro de seu próprio país pela direita racista. Os ataques que boa parte da mídia e dos blogues direitistas vem fazendo contra Obama chegam ao extremo de sugerir um golpe de estado.

A situação chegou a tal ponto que o governo de Obama passou a considerar a Fox News como partido político e não como emissora de televisão, ou seja, parece que a idéia daqueles que outorgaram o prêmio a Obama é reforçar sua permanência na Casa Branca e sua posição de iniciar reformas, como a do sistema de saúde norte-americano, que mesmo tímida para os padrões europeus é suficiente para gerar uma ampla campanha contra ele através da mídia e de grandes corporações.

Mas você pode pensar: mas a mídia brasileira é igual. É verdade, no entanto para os europeus que fazem a escolha entre os candidatos, Lula tornou-se uma referência mundial, é elogiado pelos veículos de comunicação do mundo todo e respeitado internacionalmente pelo fato de ter uma aprovação de 85% a um ano do final de seu segundo mandato, uma coisa muito difícil de se conseguir por qualquer governante.

Os especialistas que outorgam o prêmio estão pouco se lixando se a mídia brasileira fala bem ou mal de Lula. Para eles não importa se por aqui a Globo, Folha, Estadão, Veja e todos os demais “grandes” veículos de comunicação também se comportem como partido de oposição. Para eles o que importa é que Lula superou tudo isso, tem reconhecimento popular no Brasil e no mundo e está no final de seu mandato, enquanto Obama apenas está iniciando. Uma forte pressão interna, sem algum apoio internacional, poderia deixa-lo em situação de difícil governabilidade, portanto o prêmio Nobel da Paz para Obama é isso, um incentivo para que não se atemorize com as críticas internas, que siga nas reformas e para que enfrente a mídia e a direita norte-americana.Por isso, e apenas por isso, esse prêmio foi para Obama e não para Lula.
Nelson Canesin
Sociólogo

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