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sábado, 19 de setembro de 2009

Renda do trabalhador cresce, desigualdade diminui

Números da Pnad realizada em setembro de 2008, mês da explosão da crise econômica internacional, revelam um Brasil melhor do que o de anos anteriores, com redução da distância entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres e a menor taxa de desemprego oficial em 12 anos

O contínuo processo de crescimento econômico do país levou a melhorias substanciais na vida dos brasileiros em 2008. Foi o que mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em setembro passado, mês em que estourou a bolha imobiliária americana - os efeitos da crise mundial só aparecerão no levantamento deste ano. O número de pessoas ocupadas com 10 anos ou mais (92,4 milhões) cresceu 2,8% ante 2007 e a taxa de desemprego caiu de 8,1% para 7,1%, o menor nível desde 1996, quando estava em 7%. Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,1 milhões ingressaram no mercado formal de trabalho (mais 7,1% ante o ano anterior), um recorde. Já a renda média avançou 1,7%, cravando R$ 1,036.

Na avaliação da economista Adriana Beringuy, do IBGE, apesar de o ritmo de crescimento da remuneração média dos trabalhadores estar em queda há quatro anos, "2008 foi muito favorável para o emprego", pois o número de vagas abertas com carteira assinada superou o crescimento da população. Por isso, o desemprego baixou. O melhor, segundo ela, foi que o aumento da renda se deu, principalmente, entre as camadas menos favorecidas. Ou seja, os 10% da população ocupada que recebem os menores salários tiveram ganho real (acima da inflação) de 4,3%, enquanto os 10% que estão no topo dos rendimentos computaram reajuste de 0,3%. O resultado disso foi que a concentração de renda, que, ressalte-se, ainda é enorme no país, diminuiu. A parcela dos salários detida pelos 10% mais bem pagos recuou de 43,3%, em 2007, para 42,7% no ano passado

Por região, os maiores aumentos de renda foram registrados no Nordeste (5,4%) e no Centro-Oeste (3,2%), essa última puxada pelo Distrito Federal, onde a forte presença de funcionários públicos levou salário médio para R$ 2.117 - mais do que o dobro da média nacional. No Nordeste, pesou, sobretudo, a correção do salário mínimo acima da inflação e os programas sociais do governo, como o Bolsa Família. Na Região Sul, porém, registrou-se o menor número de desempregados do país: 4,9%, patamar comparável ao de economias maduras, como a dos Estados Unidos, antes do terremoto provocado pela quebra do banco Lehman Brothers. No Norte, o desemprego também ficou abaixo da média nacional, 6,5%.

Sem carteira

A economista do IBGE chamou a atenção para o fato de o maior aumento da renda ter sido computado entre os trabalhadores sem carteira assinada: 2,7% ante à média de 1,7% de todo o mercado. Para Adriana, esse resultado está associado ao fato de os empregadores não arcarem com os pesados tributos que incidem sobre a folha de pagamento. Em média, os trabalhadores sem carteira, boa parte deles empregados domésticos, recebiam, em 2008, R$ 604 por mês. Já os domésticos com carteira assinada foram reajustados em 2,1% e os militares e servidores públicos, em 0,4%. Mas os trabalhadores por conta própria perderam 4,8% do poder de compra. "Em menor proporção, o importante é a grande maioria dos ocupados teve aumento de renda e muitos estão tendo acesso ao crédito", frisou.

A vida melhorou em todos os lares do país. Conforme o IBGE, de 2007 para 2008, o rendimento médio mensal dos domicílios cresceu 2,8%, para R$ 1.968. No Nordeste e no Centro-Oeste, o incremento foi maior, de 4,2% e 5,5%, respectivamente. Coincidentemente, essas duas regiões computaram a menor e a maior renda média. Nas casas nordestinas, ficou em R$ 1.299 e, nas da região central do país, em R$ 2.352. No caso de todas as fontes (salários, aposentadorias, pensões e benefícios sociais), o ganho médio subiu 2% (R$ 1,023). Foi o menor reajuste em quatro anos. Entre 2004 e 2005, houve avanço de 5,1%. Na Pnad seguinte, o incremento chegou a 6,1% e, de 2006 para 2007, a 2,7%. (Colaborou Deco Bancillon)

2008 foi muito favorável para o emprego" Adriana Beringuy, economista do IBGE

Redução positiva

A virtuosa combinação entre emprego formal, renda em alta e inflação sob controle reduziu, ainda de que forma tímida, o fosso que separa os mais ricos e os mais pobres no país. O Índice Gini, que mede essa desigualdade, caiu de 0,535 para 0,531 entre 2007 e 2008, mantendo o Brasil mais próximo da concentração de renda que se vê na África do Sul (0,578) do que da Índia (0,368). "Não há dúvidas que a melhoria do quadro econômico tem ajudando a reduzir as desigualdades, que permanecem altas. Mas o importante é que a trajetória é de queda", disse a economista Adriana Beringuy, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao detalhar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Por região, a maior concentração de renda está no Centro-Oeste, que, inclusive, destoou do restante do país, registrando, no ano passado, alta no Índice Gini, de 0,564 para 0,567. Esse resultado foi influenciado, sobretudo, pelo Distrito Federal, onde um pequeno contingente, os servidores públicos, ganham salários muito acima da maioria dos trabalhadores. O maior recuo no Índice Gini - quanto mais distante de um ele estiver, menor é a desigualdade - se deu no Norte do país: de 0,508 para 0,498.

Para se ter uma ideia do tamanho da disparidade de rendas no Brasil, a economista do IBGE ressaltou que 60,1% dos 92,4 milhões de trabalhadores ocupados ganham até dois salários mínimos por mês.IBGE

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