"O último Imperador" foi um filme de superprodução, onde diretor Bernardo Bertolucci narra a saga do último herdeiro do trono chinês, criado em meio à realeza, até ser deposto pela revolução de Mao Tse Tung. O jovem nobre e playboy, passa por um longo processo de transformação, até virar uma pessoa normal, como outra qualquer.
Como no Brasil não há rupturas revolucionárias, a revolução silenciosa que começou com a chegada de Lula ao poder é mais lenta, e Sarney não terá tempo em vida de passar pelas transformações que o imperador chinês passou. Mas seus herdeiros não herdarão os poderes com características imperiais no Maranhão.
Para entender o que se passa no Brasil, recorremos à um dos mandamentos do poder, segundo ACM:
"A arte da política consiste em saber dar a cada um o que ele espera de você. Alguns querem proteção, um emprego por exemplo. Outros querem dinheiro. Há um terceiro tipo que busca o poder, o prestígio, até mesmo um simples carinho. Se você confundir as demandas, oferecer dinheiro a quem quer carinho, ou poder a quem quer emprego, arrumará um inimigo."
Como se vê acima, o conceito de exercício do poder dos coronéis das oligarquias políticas, como ACM e Sarney, se baseia em atender interesses das elites políticas e econômicas, formando uma associação para manter-se no poder. Cabe ao povo o papel secundário de seguidores das lideranças destas elites, em geral, os próprios coronéis políticos.
Já se pode observar que Sarney (e outros tantos coronéis oligarcas políticos) encontra hoje dificuldades no exercício do poder à moda de ACM.
Mesmo detendo o poderoso posto de presidente do Senado, não pode mais dar a proteção de um emprego a aliados (ser "pistolão"), impunemente, porque a notícia vaza na internet, e o troco vem nas urnas.
Também está cada vez mais difícil direcionar dinheiro a aliados que querem dinheiro, com a Polícia Federal atuando fora do controle das ingerências políticas, e sim sob controle do Ministério Público.
Isso tudo é sinal de avanço na moralização dos processos políticos brasileiros, a partir da eleição do presidente Lula, que quebrou a hegemonia de poder demo-tucano.
Se Dilma continuar o governo de Lula em 2011, esse tipo de exercício de poder segue seu caminho para a extinção.
Se um desastre acontecer com a eleição de Serra ou Aécio, o padrão FHC estará de volta, com Sarney se recompondo com os demo-tucanos e com a imprensa corrupta (PIG) elogiando Sarney em vez de atacá-lo.
Aliança de Demo-tucanos com PIG, em ritmo de salve-se quem puder
A grande imprensa sempre teve uma dívida de gratidão com Sarney e ACM, além de que sempre tiveram neles a expectativa de agentes de poder aliados.
Os dois foram grandes articuladores da aliança demo-tucana com o PIG, para a manutenção do poder conservador e patrimonialista brasileiro.
ACM e Sarney distribuíram canais de TV's afiliados à Globo e à outras redes para famílias de oligarquias políticas. Era a fórmula para perpetuarem-se no poder político e econômico. Controlavam o fluxo de informações, o noticiário, a exposição política dos aliados o assassinato de reputação dos adversários.
A imprensa corrupta sempre soube disso tudo que existe no Congresso, desde os castelos, os funcionários fantasmas, o orçamento do Senado e o número de funcionários sempre foi astronômico para ser ignorado. Só publica agora, por causa do advento da internet.
A imprensa corrupta está correndo atrás da blogosfera. A blogosfera denuncia e a imprensa corrupta também publica para não "pegar mal", não ficar para trás.
Mas a imprensa corrupta continua seletiva. Ela dá uma dimensão maior à Sarney do que à filha fantasma de FHC (com a conivência de Heráclito Fortes), para dar apenas um exemplo vistoso. Também se esqueceu de Efraim Morais, no olho do furacão dos escândalos, e envolvendo contratos com valores financeiros muitos maiores.
Sarney deixou de ser considerado um aliado preferencial da associação demo-tucana com o PIG, ao formar a base de apoio ao governo Lula.
Mesmo que Sarney represente uma força de contenção conservadora à maiores avanços dentro do governo Lula, do que um reforço à reformas progressistas, o PIG aposta no tudo ou nada, e sob risco de falência, adota o "salva-se quem puder": luta para recuperar o poder demo-tucano a qualquer custo em 2010, em troca do acesso aos cofres públicos, com maiores verbas publicitárias governamentais (que minguaram e estão sendo democratizadas entre mais jornais e rádios pequenas do interior).
Ou seja, o PIG luta contra Sarney, para preservar a aliança de poder exaurida, criada pelo próprio Sarney e ACM.
O PIG sempre amou Sarney, como um dos seus representantes e aliado, e sempre soube a forma de Sarney exercer o poder. Agora quer "sacrificá-lo", usando suas mazelas como munição para influir para recuperação do poder demo-tucano em 2010.
Nesse ponto, por linhas tortas e por pragmatismo, Sarney acaba sendo mais progressista do que o PIG. Sarney ao apoiar o governo Lula, deu um passo (ainda que tímido) em direção aos novos tempos.
Obviamente que não se trata de uma mudança ideológica, e o objetivo dele era ceder os anéis para não perder os dedos. O objetivo era preservar espaços de poder, seja regional, no Maranhão, seja nacional, na presidência do Congresso e na nomeação dos ministros.
Preservar espaços de poder, significa para oligarcas como Sarney, deter o poder de ser "pistolão" na hora de dar um emprego por nomeação, de conseguir fazer o dinheiro do orçamento público ir para as mãos de aliados econômicos "certos".
Certamente, Sarney pensou em preservar esse poder quando apoiou Lula em troca de participar dos Ministérios, mas os novos tempos da internet e da Polícia Federal, tira esse poder de quem imaginava que conseguiria exercê-lo impunemente, como no passado dos governos demo-tucanos.
O exercício do poder em ministérios fica cada vez mais restrito a conseguir prestígio com o sucesso de políticas públicas, em detrimento de saciar o apetite do poder econômico, pois está se tornando um verdadeiro tiro no pé fazer negociatas, quando tudo acaba caindo nas garras da Polícia Federal, mais cedo ou mais tarde.
No legislativo, o exercício do poder com base em ser "pistolão" e intermediar negociatas, tornou-se suicídio político (ainda que seja a médio prazo, em alguns casos). Quem quiser continuar tendo carreira política longa, precisará exercer o mandato atendendo aos anseios populares, cada vez mais vigilantes.
Sarney encontra-se em uma encruzilhada. Pode dar mais um passo em tornar-se e tornar seus herdeiros em políticos comuns, abdicando dos antigos poderes imperiais de ser "pistolão" de empregos e do poder econômico. Para isso precisa fazer nova adaptação aos novos tempos, enquadrando-se no exercício do poder de forma republicana, com dedicação à políticas realmente públicas. Sarney tem nas mãos a oportunidade de reabilitar parte de sua popularidade, mas somente se abdicasse dos antigos poderes e comprasse a briga de fazer uma faxina no Senado draconiana, para valer, daquelas para entrar para história ...
... ou pode ficar parado no tempo, tentando preservar o que resta dos antigos poderes e ser rechaçado pela reprovação popular, tendo um fim político decadente, melancólico, sozinho e ensandecido, tal qual outro rei, na ficção de Shakespeare: o rei Lear.
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