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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A popularidade de Lula


Um artigo publicado hoje no jornal Correio Braziliense, para análise e comentários de vocês...

Governo e oposição sabem que os números de popularidade de Lula são verdadeiros. Também sabem que eles estão longe de ser definitivos


A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas rendeu assunto para muita conversa ao longo de 2008. Não é para menos. Os números impressionam, seja qual for o instituto consultado. Ibope, Sensus, Datafolha apresentam curvas semelhantes. Todas favoráveis ao governo. A mais recente pesquisa do Ibope, divulgada em 8 de dezembro, mostrou que 73% dos entrevistados consideram o governo Lula “bom ou ótimo”. Um ano antes, esse contingente ficava em 51%. A aprovação pessoal do presidente também subiu muito. Pulou de 65% para 84%.

A cada vez que uma pesquisa foi divulgada ao longo do ano, duas reações se destacaram. Do lado da oposição, descrença. Nunca falta alguém para dizer que os números são “estranhos” ou para lembrar que conhece uma penca de gente que não suporta Lula. Entre os governistas, sobram explosões de felicidade. Os números são repercutidos em discursos no Congresso ou propagados pela internet como se fossem um sinal de que a popularidade do presidente é uma garantia de continuidade de seu grupo no poder e uma resposta para qualquer crítica.

Ambas as reações são para efeito externo. Nos bastidores, governo e oposição se debruçam com muito cuidado sobre os números das pesquisas. Mais que tudo, tentam entendê-los. Descobrir o que causa esta popularidade e até que ponto ela é sólida. E, mais importante, qual o efeito dela sobre as eleições de 2010.

Durante muito tempo, se atribuiu a popularidade de Lula apenas aos bons resultados da economia. Fazia sentido. Um país em ciclo de crescimento econômico tende a ser mais benevolente com seus governantes. Isso foi demonstrado com a onda continuista das eleições municipais. Mas a crise econômica e financeira chegou ao Brasil e a aprovação do governo continuou a crescer. Nas últimas semanas, o presidente bateu três recordes de popularidade. E isso num momento de más notícias na economia.

As razões da aprovação de Lula são mais complexas do que parecem à primeira vista. Um elemento fundamental é a rede de programas sociais do governo federal. A atual administração criou projetos que beneficiam milhões de pessoas, em especial o Bolsa Família. O presidente conseguiu vincular sua imagem a esses programas. São vistos como coisas dele, sua invenção. Mesmo nos casos em que já havia iniciativas vindas de administrações anteriores. Lula casou as imagens e essa é uma de suas grandes vitórias políticas. Não por acaso, sua aprovação chega a estratosféricos 91% entre os brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo mensal.

No caso deste grupo, há outro fator importante: a identificação com o presidente. Lula conseguiu vender a idéia de que é um homem do povo que chegou ao poder contra a vontade “da elite nacional”. Os brasileiros mais pobres se identificam com o presidente. Solidarizam-se quando ele sofre os ataques da oposição engravatada, encastelada no Congresso.

Lula sabe disso e, não por acaso, enfatiza esse aspecto sempre que tem oportunidade.

Na campanha eleitoral de 2006, um país dividido foi às urnas. Os eleitores mais pobres estavam fechados com Lula. Os da classe média para cima o combatiam. Em dois anos, o presidente conseguiu mudar este quadro. Manteve a base entre os brasileiros que ganham menos e com menor escolaridade, mas conquistou apoios na classe média. Segundo o Ibope, ele tem 85% de aprovação na faixa de renda familiar entre cinco e 10 salários mínimos e 63% na parcela que ganha mais de 10 mínimos por mês. Não há, literalmente, nenhum grupo de pesquisa onde o governo seja condenado pela maioria.

A relação com a classe média é mais volátil. Em boa parte, são brasileiros que não votaram em Lula, mas hoje lhe dão um crédito de confiança. Neste grupo, a dependência da situação econômica é bem maior. Uma mudança no cenário macroeconômico pode botar a perder esse apoio.

Governo e oposição sabem que os números de popularidade de Lula são verdadeiros. Também sabem que eles estão longe de ser definitivos. As mesmas pesquisas que mostram o país em lua-de-mel com o governo hoje registraram o pior momento do presidente, em 2005, durante o escândalo do mensalão. Lula conta com um contingente de eleitores fiéis e tenta manter o clima com a classe média. Mas ainda não conseguiu transformar sua aprovação em votos para um candidato governista à sua sucessão. E esta será a grande curiosidade sobre as pesquisas em 2009. Concordou ou discordou do artigo publicado, Nas Entrelinhas do Correio Braziliense?

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