Paulo Lacerda, ganhou força ontem entre os órgãos de investigação a hipótese de que o suposto grampo nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e no senador Demóstenes Torres (DEM-GO), tenha sido originado no sistema de telefonia do Senado.
Sugerida inicialmente por uma declaração do general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, a suspeita foi reforçada pelo resultado de um levantamento preliminar feito ontem na própria Abin, onde praticamente foi descartado o uso de equipamentos do órgão - que são auditáveis - e considerada remota a possibilidade de envolvimento de um servidor da ativa.
O delegado Paulo Lacerda recomendou a seus assessores um pente fino nos quadros de pessoal e nos equipamentos para auxiliar a investigação da Polícia Federal. Lacerda não acredita no envolvimento de servidores e diz que os equipamentos em poder da Abin, idênticos aos do Exército, são sistemas anti-grampo, que não servem para monitorar. Uma irregularidade dessa natureza, na avaliação da Abin, seria facilmente detectável por varredura ou pelos controles internos dos funcionários.
Documentos
O caminho mais viável, segundo sugeriu Lacerda, é a Polícia Federal requisitar formalmente à revista Veja os documentos originais que amparam a reportagem, o que poderia, através de uma perícia especializada apontar indícios sobre a origem da escuta. O delegado disse a assessores que o nome do suposto servidor que teria entregue os documentos à reportagem poderia ser mantido no anonimato ou, mediante acordo com o Ministério Público Federal, ser incluído num programa de proteção a testemunhas.
Lacerda acha que em decorrência da repercussão do caso, o informante de Veja corre risco de vida e poderia fazer um acordo que lhe garanta a integridade física e o anonimato, mas que ajude a esclarecer o suposto esquema ilegal de espionagem. O delegado sustenta que não há hipótese de envolvimento institucional da PF ou da Abin. "Torço para que a Polícia Federal possa desvendar o caso e dê condições para mostrar esse erro lamentável, baseado numa suposta testemunha. Posso não conhecer as pessoas da Abin, mas sei o que fiz e o que não fiz", – comentou Lacerda .
Na sua opinião, seria uma "idiotice" um servidor da ativa usar a estrutura interna para grampear e, se o fizesse, segundo suas próprias palavras "teria que ser internado" por loucura. Na avaliação de Lacerda, a única coisa certa é que uma conversa entre Mendes e Demóstenes Torres foi gravada. Na reunião com assessores, o diretor afastado disse que o leque de suspeitas é enorme e inclui, além do Senado, policiais federais, agentes da própria Abin, detetives particulares - sobre os quais não há controle - e ainda empresas especializadas em espionagem de alto quilate a serviço do banqueiro Daniel Dantas. Uma delas, a Telemont, que controla os sistemas telefônicos de vários órgãos públicos, já foi acusada de espionagem.
Lacerda acha que os advogados de defesa de Dantas construíram uma tese segundo a qual a Abin teria feito espionagem ilegal durante a Operação Satiagraha e pretendem usá-la para tentar anular ou, no mínimo atenuar, a situação do banqueiro nos processos que correm na Justiça Federal em São Paulo. Um grampo no telefone do presidente do STF, segundo o delegado, seria um argumento jurídico contundente para prejudicar as acusações contra o banqueiro. Lacerda também afasta a hipótese do delegado Protógenes Queiroz ter se utilizado de escuta ilegal na Satiagraha.
Enquanto durarem as investigações da Polícia Federal - que serão comandadas pelo delegado William Marcel Mondad -, Lacerda e os outros diretores afastados ficarão lotados no GSI. Ele acha que o presidente Lula, pressionado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim - a voz que mais pesou na decisão de afastamento - deu uma resposta política ao caso. O delegado aguardará os próximos 60 dias e depois tomará uma decisão sobre seu futuro. Diz que não tem apego ao cargo, mas quer o esclarecimento definitivo do caso.
O Presidente Lula disse ontem que afastou Lacerda para dar transparência às investigações. Na CPI do Grampo, o general Jorge Félix defendeu o delegado, garantiu que a Abin não se envolve em espionagem e afirmou que todas as hipóteses - inclusive a que aponta para o envolvimento de um servidor da Abin - devem ser consideradas na investigação. O presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB-RN) mandou abrir uma sindicância interna.
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