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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Senado acorda e o demo Efraim se complica


A revelação de que Eduardo Bonifácio Ferreira, o lobista acusado de intermediar as milionárias licitações do Senado, fez um contrato com o senador Efraim Morais (DEM-PB) acelerou, enfim, uma reação dos senadores. O corregedor da Casa, Romeu Tuma (PTB-SP), avisou ontem que pretende ouvir Ferreira nos próximos dias para saber não só sobre esse contrato com Efraim, como também em relação à descoberta feita pelo serviço de inteligência da Polícia Federal de que o lobista tinha a chave do gabinete do parlamentar. Efetivamente, é o primeiro sinal dado por Tuma de que está disposto a investigar o colega após 15 dias de divulgação de informações que comprometem o parlamentar paraibano.

Segundo Tuma, os indícios de envolvimento do senador com o lobista são “graves” e precisam ser investigados. O corregedor, pressionado a aliviar para o lado de Efraim, vai se reunir na semana que vem com o juiz que cuida do caso. Ao fim da apuração, Tuma apresentará um relatório com sua conclusão.

O PSol também quer ouvir Eduardo Ferreira antes de decidir se entrará ou não com um pedido de abertura de processo por quebra de decoro contra Efraim no Conselho de Ética. “Há fortes evidências contra o senador, não temos nenhuma razão para não apurar. E o Eduardo deve explicar em nome de quem ele agiu para garantir a negociata”, disse o único senador do partido, José Nery (PA).

A investigação da PF mostra Ferreira em encontros com os empresários durante o processo de licitação. Denúncia feita pelo Ministério Público Federal o acusa de ter intermediado em 2006 com os donos das empresas Conservo e Ipanema as licitações para fornecer mão-de-obra ao Senado. Primeiro-secretário da Casa, Efraim prorrogou esses contratos até 2009, apesar das graves suspeitas sobre as concorrências.

Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) aguardam uma manifestação de Efraim sobre as acusações. “O silêncio tem o peso da angústia da investigação. O Senado vai ter que tomar uma “posição”, disse Simon. “Não se explicar é o que não deve acontecer. Estamos aguardando as explicações e estou confiante de que ele vai se explicar”, afirmou Cristovam.

Democratas
Integrantes da bancada do DEM começaram a se incomodar com a crise em torno de Efraim. Avaliam que ele precisa dar uma resposta imediata e conclusiva para não desgastar ainda mais o partido. Reservadamente, alguns parlamentares não estão dispostos a sustentar o senador na Primeira-Secretaria.

Senadores do DEM até hoje apostam que Efraim votou em Renan Calheiros (PMDB-AL) para a Presidência do Senado em fevereiro do ano passado, e não em José Agripino (RN), que foi o candidato do partido à vaga. Isso porque Efraim garantiu a continuidade na Primeira-Secretaria com a vitória de Renan.

Se Agripino vencesse aquela disputa, o DEM teria que abrir mão do cargo até então ocupado pelo senador paraibano. Parlamentares da legenda contabilizam o voto de Efraim entre as sete dissidências que teriam ocorrido a favor de Renan naquela votação.

A bancada do DEM se reúne na próxima terça-feira pela manhã, quando deve discutir o assunto. Líder da bancada, José Agripino garantiu que o partido adotará uma postura sobre o caso. “O partido vai discutir o assunto. Confiamos no senador Efraim e ele precisa apresentar as justificativas”, afirmou.

Ontem, o Correio procurou Efraim em seu gabinete. Sua assessoria informou que ele havia viajado para João Pessoa. O senador tem se mantido em silêncio sobre os indícios de envolvimento nas irregularidades no Senado. A um colega de plenário, afirmou estar tranqüilo e esperando “as provas dos acusadores”.

Os indícios

Procuração
O Correio apurou num cartório de Brasília que o lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado pelo Ministério Público Federal de negociar o resultado de licitações no Senado, fez um contrato com o primeiro-secretário da Casa, Efraim Morais (DEM-PB), dando ao parlamentar poderes para representá-lo como sócio da empresa Chemonics Brasil Consultoria Empresarial, que mudou o nome para Syngular Consultoria. No inquérito da Operação Mão-de-Obra, a Polícia Federal levanta a suspeita de que a Syngular seria de fachada.

João Pessoa
Em 26 de abril de 2006, quando o Senado realizava licitações para a terceirização de mão-de-obra, a PF interceptou uma conversa entre José Araújo, dono da Ipanema, vencedora de duas concorrências naquele ano, e seu então gerente comercial, Paulo Duarte. Araújo disse ao subordinado que iria a “João Pessoa”, capital do estado que elegeu Efraim, resolver problemas surgidos na concorrência. Nessa e em outras conversas captadas, eles falam em “autoridade maior”, alguém que teria poderes para resolver pendências.

Promessa
Diálogo entre José Araújo e Paulo Duarte, em 27 de março de 2006, trouxe mais uma informação classificada como importante pela polícia. O dono da Ipanema comentou que o primeiro-secretário da Casa teria dito a alguém que iria “pensar”, ao se referir a pendências nas concorrências do Senado.

A chave
Ferreira foi flagrado pela PF entrando no gabinete então ocupado pelo senador Efraim Morais, em 29 de junho de 2006. Segundo a polícia, Ferreira tirou a chave do próprio bolso para abrir a porta e ter acesso à sala. Nessa época, havia mais de um ano que ele não trabalhava no Senado, onde ocupou de 2003 a 2005 cargo comissionado na Liderança da Minoria. Em 2003, quem comandava a Liderança do DEM era Efraim. A PF registrou pelo menos oito encontros entre Ferreira e os empresários investigados. (Leandro Colon)

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