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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A única possível bomba que Dantas soltou ninguém quis saber

Do depoimento de Dantas na CPI sobra pouca coisa aproveitável e não é o que ele disse, e sim é o que está nas entrelinhas.

Denúncia de suborno na fase dois da privataria da CRT ele já fez dezenas de vezes.

Dizer que só 2 fitas de 51 gravadas no BNDES na época da privataria vieram a público, também faz já é assunto conhecido.

A novidade foi ele dizer que publicou em 2002 anúncios cifrados nos classificados de um jornal de Minas Gerais para se proteger, já que teria ouvido falar que Lula iria entrar em guerra contra ele, quando assumisse o Planalto.

Na CPI ele chegou a mostrar uma folha de jornal com anúncios marcados. Creio que isso nunca tinha sido exposto à público antes.

Esse tipo de mensagem publicada em classificados, é usada ou para denunciar que havia cartas marcadas antes de um acordo tornar-se público, ou para chantagear mediante ameaça de denúncia.

Por isso é estarrecedor que o assunto tenha passado em branco pelos Deputados na CPI, e que a imprensa não tenha se interessado pelo fato. Ninguém perguntou pelos anúncios, sequer em que datas e jornais foram publicados para conferir.
Ninguém na CPI perguntou se poderia obter uma cópia das mãos de Dantas. Sequer pediram para ver o papel que ele mostrava.

Pode ser blefe de Dantas. Mas, no mínimo, qualquer jornalismo investigativo se interessaria em conferir, e deputados interessados em não acobertar maracutaias também.

Para dar um exemplo do uso desse recurso, em 1987, o jornalista Jânio de Freitas soube com antecedência quais as 18 empresas venceriam a licitação da ferrovia Norte-sul. Sabia também qual o lote da estrada que cada ganhadora iria construir. Era um jogo de cartas marcadas.

Jânio publicou anúncios classificados que antecipava, em código, o nome dos vencedores, no dia 8 de maio –mais especificamente, na sugestiva seção "Negócios. Oportunidades". Perdido entre ofertas de prensas hidráulicas e de massagens "for men", o enigmático classificado fornecia várias combinações de letras e números. Por exemplo: L2A - QG e L3A - MJ.

Quando saiu o resultado da licitação, no dia 13 de maio, foi notícia de primeira página da Folha de São Paulo (que era um jornal mais sério, naquela época). A denúncia veio com explicações do anúncios: L2A - QG significava que a empreiteira Queiroz Galvão (QG) construiria o lote 2A da ferrovia, e L3A - MJ que a Mendes Jr. (MJ) ficaria com o lote 3A.

No dia seguinte a licitação foi anulada.

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