A retomada do trabalho com carteira assinada deixou para trás a crise do desemprego das grandes cidades e fomentou o crescimento da classe média, segundo estudo do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de abril de 2002 a abril de 2008, Neri conclui que a classe média já é maioria nas seis maiores metrópoles brasileiras.
Em abril de 2004, quando o país começava a reverter a crise econômica do ano anterior, a participação da população considerada como classe C era de 42,3% nas seis maiores metrópoles brasileiras. Em abril de 2008, passou para 51,9%. "O plano de fundo para essa mudança é a redução da pobreza acompanhada de crescimento da economia e da renda do trabalho mais sustentável e mais eqüitativa. A classe média começa a colher os benefícios. As pessoas estão indo para a classe C e ficando", argumenta Marcelo Neri.
O economista cita a participação do emprego formal nas seis metrópoles estudadas em abril, de 44,3%, maior percentual desde 1992. "As metrópoles estão indo no positivo", diz. Para reforçar a tese do fortalecimento da classe C, Neri destaca a criação de 387 mil vagas no primeiro semestre deste ano, o equivalente a 28,5% do total de postos de trabalho, também maior proporção da série histórica do IBGE, desde 1992.
Desde 2001, a desigualdade de renda no país vem caindo, o que é considerado algo histórico para o pesquisador da FGV. "São sete anos seguidos, é algo completamente atípico no Brasil", afirmou. De acordo com o levantamento, o total de pessoas na faixa dos pobres (classe E) e remediados (classe D) nas seis metrópoles abrangidas pela PME - São Paulo, Rio, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre - caiu de 42,8% para 32,6% de abril de 2002 para o mesmo mês de 2008.
Paralelamente à redução da pobreza, o aumento da renda nas grandes cidades tem ocorrido desde o final de 2006 e por meio do trabalho cada vez mais formalizado. O quadro positivo, avalia o pesquisador da FGV, é resultado da política econômica adequada, de políticas sociais mais consistentes e do maior grau de escolaridade da população, embora a qualidade do ensino ainda seja alvo de ressalvas. "É bom lembrar que embora a taxa de juros esteja em alta agora, ela caiu nos últimos anos", ponderou Neri.
Por outro lado, a compilação de dados do IBGE revelou o crescimento da elite. Em abril de 2002, as classes A e B somavam 13% da população em idade ativa. Seis anos depois, representavam 15,5%. Neri considera o dado como favorável, pois mostra a possibilidade de enriquecer através do trabalho. "O mecanismo de ascensão social pelo trabalho é fundamental. A desigualdade tem caído e a mobilidade social subido pela renda do trabalho."
Segundo o estudo, o brasileiro de classe média tem tido neste ano a maior chance de ascender para a elite e de evitar a pobreza. Ao avaliar a evolução da renda domiciliar de uma família de classe média de janeiro a abril de 2008, Neri observou a maior taxa de mudança para a elite quando comparou com períodos semelhantes de anos anteriores desde 2003. Também notou a menor taxa dos que migraram para a classe E. "O último filme da classe C mostra a possibilidade de ascensão, não observada desde 2002, enquanto a probabilidade de queda para classe pobre é a menor desde 2002", diz.
Mesmo com a inflação dos alimentos corroendo a renda do trabalho em proporções que crescem mais quanto menor for a renda, Neri não enxerga possibilidade de deterioração deste movimento de consolidação da classe C. "Mais importante do que ter salário mais alto, é ter emprego. E isso está aumentando", disse.
Neri ressalta que um dos frutos da redução da desigualdade e do aumento da classe média foi a mudança nos hábitos de consumo no Brasil para bens ligados à produção. "A carteira de trabalho, o computador e o celular simbolizam a classe C. Isso tem a ver com o lado produtor. Não é só consumidor", argumenta o pesquisador da FGV.
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