A Operação Satiagraha tem seus alicerces nos documentos sobre as investigações que estavam no Supremo Tribunal Federal. E parte destes dados foi levantada por apurações feitas pelo Escritório Distrital da Promotoria de Manhattan, comandado pelo promotor Robert Morgenthal. Fazem parte destes documentos, por exemplo, as acareações da promotoria nova-iorquina, na empresa Beacon Hill.
A firma que movimentou, durante cinco anos, cerca de US$ 3 bilhões, em transferências ilegais e lavagem de dinheiro brasileiro em paraísos fiscais. A instituição financeira, com sede em Nova York, era a condutora de negócios de vários doleiros, empresários, políticos e celebridades. Entre eles estava as agências de publicidade de Marcos Valério, DNA Propaganda e SMP&B, que comprovadamente enviou, entre 1999 e 2000, US$ 1.191.425,00 para a conta "London" no JP Morgan Bank, de Nova York.
A conta estava em nome do doleiro brasileiro Haroldo Bicalho, e era administrada pela Beacon Hill. Esta informação, já conhecida em 2003, não foi divulgada na CPI do Banestado. Naquele ano, uma comissão legislativa voltou ao escritório do Promotor Distrital de Manhattan, para tentar obter mais informações sobre suas investigações. As autoridades americanas alegaram erros no pedido formal, feito de acordo com o MLAT - o tratado de cooperação jurídica entre os ministérios e agências policiais dos Estados Unidos e do Brasil. Outro requerimento foi preparado pelo Ministério das Justiça brasileiro e centenas de novos documentos foram se juntar às 307 caixas de dados fornecidos anteriormente para a CPI do Banestado.
Chegou-se à conclusão de que o esquema de remessas ilegais de divisas e lavagem de dinheiro, feitas somente pelo grupo ligado a Marcos Valério, atingiram a soma de US$ 10 milhões. A Beacon Hill movimentou, para vários brasileiros, US$ 1.3 bilhão.
"Em meio aos documentos resultantes de nossas investigações, apareceram os nomes de Naji Nahas, Daniel Dantas, Celso Pitta, Paulo Maluf e outros", disse uma fonte graduada do Escritório da Promotoria Distrital de Manhattan, que exigiu anonimato para não interferir nas investigações da Justiça do Brasil. O banco de dados estava em poder do STF, que ainda cuida do processo de Marcos Valério, mesmo depois de encerrada a CPI do Mensalão. Os resultados das investigações eram muito abrangentes e revelavam, além das informações referentes ao "mensalão", outros casos de remessas ilegais de divisas, fraudes fiscais e lavagem de dinheiro. Deste modo, o STF encaminhou a documentação para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, que deu início à operação da Polícia Federal.
Nas acareações feitas pela promotoria nova-iorquina, Celso Pitta e Paulo Maluf, por exemplo, aparecem como clientes de doleiros. Os políticos paulistas usaram, segundo os dados americanos, uma conta-ônibus, à qual estavam atreladas 15 subcontas. Já Daniel Dantas e Naji Nahas apareceriam como membros de duas organizações, operando nos paraísos fiscais das Ilhas Cayman, Jersey e até o principado de Lichtenstein.
Também utilizavam a chamada conta-ônibus. Porta-vozes da PF teriam revelado que os dois grupos obtiveram informações privilegiadas (insides trading) sobre mudanças nas taxas de juros do Federal Reserve (Fed), o que é crime nos Estados Unidos.
Sobre isso, o investigador da Security Exchange Commission (SEC), orgão regulador das instituições do sistema financeiro americano, Sean Donovan, ironizou: "Eles [Daniel Dantas e Naji Nahas] e o resto do mundo têm estas informações privilegiadas. O Fed costuma cantar as mudanças nas taxas de juros com dias de antecedência. Às vezes, sabe-se até a porcentagem exata da mudança na semana anterior à ação". De todo modo, Donovan garante, com as ações das autoridades brasileiras contra o grupo preso na operação Satiagraha, os negócios financeiros de todos os envolvidos ficam sob suspeita e paralisados nos Estados Unidos.
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