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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Lula descarta a adoção de medidas para controlar o consumo

O Presidente Lula afirmou ontem que o governo não vai adotar nenhuma medida que provoque restrições ao consumo no país. "Se tem uma coisa que o povo pobre passou a vida inteira esperando era o direito de comer três vezes ao dia, ou o direito de entrar no shopping e comprar uma roupinha. Isso nós vamos garantir, custe o que custar", alegou o presidente, após recepção no Itamaraty ao primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning.

Apesar de alguns integrantes da equipe econômica terem mencionado nos últimos dias que a inflação não era mais a "preocupação central" do governo, Lula deixou claro ontem que o combate ao aumento dos preços é uma questão de honra para ele. "Estive do outro lado durante toda a minha vida, vivendo como trabalhador. E sei que a inflação prejudica exatamente as pessoas que ganham menos, exatamente aqueles que vivem de salário é que terão maiores prejuízos", disse o presidente. Lula disse que o governo continuará tomando todas as medidas necessárias para manter a inflação controlada. Ontem, o Banco Central aumentou, de forma unânime, em 0,75 ponto percentuais a taxa Selic, um dos instrumentos adotados pela equipe econômica para tentar conter a escalada dos preços. "Lamentavelmente, alguns setores aproveitam o momento em que o povo está consumindo para aumentar preços e nós precisamos cuidar disso com muito carinho", criticou o Presidente.

Lula destacou o bom momento vivido pelo país. "A economia está crescendo, os investimentos são muitos e há perspectiva de novos investimentos, maiores ainda. São investimentos extraordinários que mostram que o crescimento será sustentável realmente, definitivo no Brasil". Lula não acredita que os aumentos na taxa Selic - a entrevista foi dada antes do término da reunião do Copom - possa alterar o ritmo de contratação das obras do PAC. "Esses investimentos não terão problema com os juros porque já estão contratados, a taxa de juros é outra, é só colocar as máquinas para trabalhar".

O Presidente também foi duro ao ser questionado sobre as dificuldades em relação às negociações da Rodada Doha. "Acho que tanto os americanos quanto os europeus estão habituados a um tempo que não tinha negociação. Eles impunham aquilo que eles queriam e os outros eram obrigados a aceitar."

O Presidente voltou a elencar os impasses nas negociações. Segundo Lula, um bom acordo na Rodada Doha passa pela flexibilização dos europeus no mercado de agricultura, uma redução dos subsídios praticados pelos Estados Unidos e uma flexibilização do G-20 na questão dos produtos industriais. "Nós já demos demonstrações a eles de que estamos dispostos a fazer isso, mas eu acho que eles sempre acham que os países emergentes têm de se subordinar à lógica deles, à teoria deles".

Se essa mentalidade não se alterar, na opinião do presidente, será pior para todos os lados, mas especialmente para os mais pobres, que têm de aumentar a produção de alimentos sem garantia de mercados para revendê-los. "Cada um arque com suas responsabilidades. O mundo passa por uma crise de alimentos e nós precisaríamos incentivar que o mundo todo produzisse mais", defendeu o Presidente.

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