O Brasil, definitivamente, entrou na rota de negócios dos árabes. Mais que isso, virou alvo de grandes investidores do Oriente Médio que buscam novos mercados para aplicar sua riqueza - estima-se que a região, cuja vocação principal é a produção de petróleo, gere semanalmente US$ 5 bilhões. Na semana passada, um grupo formado por 20 investidores da Arábia Saudita, Abu Dhabi, Dubai, Qatar, Bahrain, entre outros, esteve pela primeira vez no Brasil para conhecer de perto as oportunidades que o mercado local oferece. A visita, que contemplou passagens por São Paulo e Rio, foi patrocinada pelo HSBC e deixou os árabes, todos clientes do segmento private do banco, impressionados. "A grande maioria deve fazer negócio no Brasil", disse o executivo-chefe de operações do HSBC Private Bank na região do Oriente Médio e África do Norte, David Rice, que acompanhou o grupo durante a viagem.
O executivo contou que o foco desses investidores são empresas dos setores de açúcar e álcool, energia, construção civil, além de produtos financeiros, como fundos, private equity e Bolsa de Valores. Ainda segundo Rice, alguns já investem em ações de companhias brasileiras, como a Petrobras e até mesmo a Bovespa, que abriu capital em outubro.
Pelo calibre dos investidores, o potencial de recursos que pode ser direcionado para o Brasil é grande. Segundo Rice, o grupo é formado por clientes do topo da pirâmide, segmento conhecido como "ultra high net worth", com patrimônio financeiro superior a US$ 200 milhões. Muitos são sheiks, integrantes de famílias reais, tem cliente proprietário de Boeing 777, disse o executivo. Não-à-toa, o esquema de segurança montado pelo HSBC para receber esses milionários envolveu cerca de 60 profissionais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, espaço reservado em restaurantes, jatos executivos, helicópteros e a maior discrição possível por parte dos visitantes - ninguém estava usando túnicas e turbantes típicos dos países árabes. E apenas dois de um grupo de 20 concordaram em dar entrevista e posar para foto, mas desde que a reportagem fosse publicada depois que deixassem o Brasil.
Médico nascido na Arábia Saudita, Abdullah Al-Anizi tem mais de US$ 200 milhões de patrimônio financeiro para investir em mercados emergentes - ele já tem investimentos na África do Sul e Leste Europeu. Desse total, ele disse que está disposto a aplicar cerca de 10% no Brasil. Suas áreas de maior interesse são aviação, imóveis, gestão de hospitais e etanol. Al-Anizi foi ministro da Saúde e, depois que deixou o governo, decidiu se especializar na administração de hospitais. Ao lado de um sócio, o médico de formação dirigiu vários hospitais públicos na Arábia Saudita e, a partir de 1999, decidiu investir no exterior.
A estréia foi com a compra de um hospital em Dublin, que depois foi vendido com lucro grande. Ele também é proprietário do Stamford Hospital, localizado no bairro londrino de Hammersmith e alugado para o Serviço de Saúde Britânico - por conta de seus negócios no Reino Unido, o médico vive hoje em Londres. O próximo passo pode ser o Brasil. Para Al-Anizi, a rede de saúde no Brasil é um segmento que tem muito para crescer e se desenvolver. "Acho que podemos agregar valor."
Ele não pára por aí. No mercado de aviação, Al-Anizi já negociou mais de 18 mil jatos de uma companhia aérea americana falida e disse que pretende investir no Brasil, apesar da crise aérea. Outra área de interesse do investidor é a de etanol, como uma alternativa para compensar as emissões de carbono do negócio de aviação. Durante a visita ao Brasil, o médico empreendedor teve a oportunidade de conversar com executivos de algumas empresas locais. Ele não revelou os nomes, mas disse que já tem agendadas novas reuniões de negócios. "O Brasil tornou-se um dos principais mercados para investir, apesar de riscos como o sistema de tributação", ressaltou.
No grupo dominado por homens, havia uma mulher. Integrante da família real de Bahrain, graduada em Economia pela European Business School de Londres, Sheikha Dheya é dona da empresa de consultoria de negócios Riyada Consulting, com foco nas áreas de finanças corporativas, marketing, assessoria nas área de petróleo e gás, telecomunicações e Recursos Humanos. No Brasil, esteve interessada em conhecer melhor setores de açúcar e álcool, com foco no etanol, construção, telecom, além de fundos de private equity. Mais comedida, não deu detalhes de seus investimentos, nem dos planos, apenas disse que "esse é um bom momento para investir no Brasil".
E como toda mulher vaidosa, conseguiu reservar um tempo na agenda apertada para conhecer grifes brasileiras, como a do estilista de calçados Fernando Pires, que esteve pessoalmente na suíte em que estava hospedada no Grand Hyatt Hotel, em São Paulo. Encantada, Sheikha Dheya comprou quatro pares de sapatos e, nem mesmo neste momento de lazer, deixou os negócios de lado: considera a possibilidade de levar a grife para a sua região.
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