O esplêndido berço natural no qual o Brasil está deitado e a tecnologia nacional fizeram do etanol produzido da cana-de-açúcar um dos grandes negócios internacionais da atualidade – negócios que atraem bilhões de dólares de investimento estrangeiro, e também a atenção da megapotência do planeta, os Estados Unidos, que vêem no etanol uma saída para a dependência do petróleo
Há pouco tempo, era apenas mais uma idéia de brasileiro. Hoje, o mundo quer saber como o simples processo de moer cana para produzir combustível pode ajudar a manter o planeta em movimento. O interesse é tão grande que os investidores não param de chegar, com muito dinheiro. Há três anos, todo o processo de produção de álcool – dos canaviais até as usinas – estava só nas mãos de brasileiros; ninguém de fora queria investir um dólar no setor. Mas o risco de escassez de petróleo e o impacto ambiental provocado pelos combustíveis fósseis começaram a mudar esse cenário. Hoje, 5% das indústrias do setor de açúcar e álcool no Brasil já pertencem a grupos estrangeiros.
O presidente George W. Bush, que chega nesta quinta feira ao Brasil, já avisou que não vem discutir o que mais nos interessa: a redução da barreira tarifária contra o álcool brasileiro.Mesmo se quisesse, Bush teria muita dificuldade para negociar o acesso do álcool brasileiro ao mercado americano. Para atender a reivindicação dos produtores brasileiros, o presidente americano teria que enfrentar uma guerra interna contra o Congresso e contra os produtores agrícolas.
Como o momento político não é dos mais favoráveis, Bush não deve fazer promessas ou dar esperanças ao Brasil. Pelo visto, os estados unidos querem continuar sendo clientes dos produtores brasileiros de etanol – mas cobrando caro, fazendo pouco caso e fingindo que não precisam do nosso produto.
Dos 3,5 bilhões de litros de etanol exportados pelo Brasil no ano passado, dois bilhões foram para os estados unidos. Os usineiros já pediram ao Presidente Lula que negocie a redução das taxas com o governo americano e discuta o fim das barreiras alfandegárias. A forma usada pelo Brasil para fugir dos altos impostos é a exportação do etanol para países da América Central, como El Salvador. Os países do Caribe têm um tratado com os Estados Unidos e podem exportar 7% do etanol usado em território americano sem pagar imposto. Como eles não produzem o suficiente, o Brasil se aproveita da cota; o combustível brasileiro é desidratado e segue para os Estados Unidos, livre de taxas.
Mas o presidente Bush não tem no bolso o discurso que os brasileiros querem. O Congresso americano é protecionista, sobretudo em relação à agricultura. A nova maioria democrata já se declarou contra qualquer redução de tarifa alfandegária. O deputado Colin Petersen, presidente do comitê de agricultura da Câmara, sinaliza com um cenário futuro ainda mais difícil: ele disse que os Estados Unidos têm combustível suficiente, e que o Brasil deveria se preocupar em vender etanol para quem não tem, em vez de tentar vender para quem não precisa.
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