Queda do desemprego, mais vagas com carteira assinada e um ganho médio de renda de 2%. Mesmo com a perda de vigor da economia brasileira nos últimos meses, o mercado de trabalho brasileiro teve um desempenho favorável em 2005, mostrou a Pesquisa Mensal de Emprego divulgada ontem pelo IBGE. A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país fechou o ano em 8,3% — o menor patamar desde 2002 — e, pela primeira vez em oito anos, a renda real do trabalhador brasileiro subiu.
Ao todo, foram criadas 474 mil vagas, contra 646 mil de 2004. Entretanto, quase todos os novos postos de trabalho de 2005 foram empregos com carteira assinada: 466 mil. — Foram menos vagas, porém de melhor qualidade. Este ano o mercado deve ter ganhos de quantidade, com mais vagas do que em 2005, e também de qualidade — estima Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na média do ano, a taxa de desemprego recuou de 11,5% em 2004 para 9,8% em 2005. 1,84 milhão de desempregados.
O avanço do emprego com carteira e a queda da inflação explicam o aumento na renda real (ou seja, descontadas as altas de preços) dos trabalhadores, afirma Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa do IBGE. A série histórica dessa pesquisa teve início em 2002 e o levantamento anterior usava metodologia diferente. Mas outros dados do IBGE, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), mostram que desde 1997 não havia ganhos de renda para o trabalhador.
A Pnad tem abrangência nacional, e a Pesquisa Mensal de Emprego investiga seis regiões metropolitanas, que representam 25% do mercado de trabalho brasileiro. Apesar da melhora da renda, o ganho médio registrado em dezembro passado, de R$ 995,40, ainda está abaixo do pico de R$ 1.001,83 alcançado em fevereiro de 2003.
Com um novo emprego que paga um salário 20% maior, o comerciário Ricardo Muniz da Silva já pensa em cursar uma faculdade. Depois de um contrato temporário, Ricardo, de 29 anos, foi efetivado como operador de caixa na Leader Magazine. — Nas lojas em que trabalhei antes, ganhava pouco, não dava para pagar um cursinho — conta. Graças à criação de novas vagas, o número de desempregados nas seis regiões metropolitanas ficou em 1,84 milhão, abaixo do patamar de 2 milhões pela primeira vez desde 2002. — Mas ainda é um contingente grande — ressalva Azeredo, do IBGE. O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, lembra que também a taxa de desemprego, de 8,3%, é muito alta.
E destaca que, apesar da melhora no mercado de trabalho em 2005, nos últimos meses do ano o ritmo de criação de novas vagas perdeu fôlego, devido ao freio na atividade econômica do país — no terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) caiu 1,2%.
Os números do IBGE mostram que, enquanto no primeiro semestre de 2005 o número de ocupados cresceu 3,7%, nos últimos seis meses do ano a alta foi de só 2,2%. — Para o mercado de trabalho melhorar, é preciso crescer mais em 2006 — resume Dedecca. Com a queda do desemprego em dezembro, os analistas já estão mais otimistas para 2006. O mercado financeiro esperava uma taxa de 9%, contra os 8,3% divulgados ontem. E houve uma alta atípica de renda (1,8% frente a novembro), já que em dezembro, por causa dos trabalhadores temporários que ganham menos, o rendimento médio costuma recuar.
Marcelo de Ávila, do Ipea, destaca que a massa salarial — soma do rendimento de todos os trabalhadores — cresceu 11,5% em 12 meses: — É uma injeção de recursos que pode aquecer a economia. E ainda teremos o aumento do salário-mínimo e a correção da tabela do IR. Criação de vagas foi menor no Rio No Rio, houve forte queda do desemprego, de 8,5% em dezembro de 2004 para 6,8% no mês passado. Mas, na avaliação dos técnicos do IBGE, o mercado de trabalho na Região Metropolitana do Rio teve o segundo pior desempenho do Brasil, atrás apenas de Recife: — O total de ocupados aumentou na média só 1,4% no Rio, contra 3% no Brasil. E as vagas com carteira tiveram alta de 2%, enquanto no Brasil cresceram 5,6% — explica Kátia Namir, analista do IBGE.
Fonte : - O Globo - 27/01/2006 - Economia
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