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quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Foi assim...


Duas panes num módulo do sistema de rádio do 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta 1) causaram atrasos, cancelamentos, transtornos e enormes filas nos principais terminais brasileiros. Coincidentemente, isso ocorreu 24 horas depois de os investigadores da Polícia Federal apontarem que os controladores de vôo tiveram responsabilidade no acidente do avião da Gol, que caiu em 29 de setembro. A situação ficou pior a partir das 19h, quando todas as decolagens partindo de Brasília, Belo Horizonte (Confins) e São Paulo (Congonhas) foram canceladas. O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, foi enfático. “Nunca houve um colapso do sistema operacional técnico dessa grandeza na história da aviação brasileira”, afirmou.

A pane obrigou o Presidente Lula a convocar uma reunião de emergência com o ministro da Defesa, Waldir Pires, e o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Luís Carlos Bueno. Após o encontro, Pires informou que o governo fará uma compra imediata de pelo menos um equipamento semelhante ao que apresentou problemas. O presidente deu instruções peremptórias para que os vôos fossem restaurados em Brasília imediatamente e determinou a compra de equipamentos de forma a não permitir, jamais, que isso se repita, disse o ministro

Mesmo com o anúncio da Anac de cancelamento dos vôos, o brigadeiro Bueno anunciou o restabelecimento das comunicações no centro de controle aéreo Cindacta 1. “Os vôos estão sendo restabelecidos de acordo com a ordem de prioridade das companhias”, afirmou. Os vôos acumulados terão de ser retomados paulatinamente.

Os problemas no sistema deixaram a Aeronáutica em dúvida. O comandante do Cindacta 1, coronel Carlos de Aquino, em coletiva na tarde de ontem, afirmou que uma investigação interna, com prazo de 30 dias, foi instalada para determinar a causa da queda do sinal de comunicação. Ele não acredita, inicialmente, em sabotagem. “Eu, como comandante do Cindacta 1, refuto que técnicos ou controladores tenham feito isso (sabotagem)”, disse.

No entanto, Aquino admite que as investigações podem apontar para uma falha externa, e não técnica do sistema. “A minha hipótese é de falha técnica.” Caso haja necessidade, a sindicância pode resultar na abertura de um inquérito policial militar. A PF também foi acionada para investigar as causas do “apagão” no sistema de rádio, para investigar se houve um ato deliberado para quebrar os equipamentos.

O sistema que apresentou problemas capta os sinais das diversas antenas repetidoras espalhadas pela área do Cindacta 1 e canaliza os sinais de voz para os consoles dos controladores. É um sistema italiano, instalado há seis anos. Fontes ligadas ao movimento dos controladores de vôo rechaçaram as acusações de sabotagem. “Somos responsáveis e não admitimos qualquer acusação. Se tiver gente nossa envolvida, vamos entregá-la às autoridades. Garantimos que isso não ocorreu”, disse um líder do movimento.

Apagão

Os técnicos do Cindacta lutaram até as 17h para localizar e consertar o defeito no equipamento. Segundo Aquino, houve uma falha na ligação entre os sistemas ativo e reserva de freqüências de rádio. Os dois operam juntos, totalizando 20 faixas diferentes. Com o defeito, houve redução na capacidade de comunicação para 13. “Quando saí às 18h, já estava tudo resolvido”, disse um controlador.

A primeira pane do sistema de rádio durou 45 minutos. A Anac informou que às 9h45 houve o primeiro blecaute, que durou até as 10h30. Isso provocou um atraso de pelo menos 50 vôos até o meio-dia. No início da tarde, nova falha. Dessa vez, por mais tempo. Das 12h50 às 15h30, não houve pousos e decolagens no Aeroporto Internacional de Brasília, o terceiro do país em número de passageiros.

O problema de comunicação gerou um efeito cascata. Uma série de atrasos se estendeu aos demais aeroportos que fazem parte do sistema do Cindacta 1, como é o caso de Congonhas e Guarulhos (SP), Confins (MG) e Galeão (RJ). Antes da proibição de todas as decolagens, 67 vôos foram cancelados, e outros 350 atrasaram. Todas as decolagens para o Norte e Nordeste do Brasil ficaram suspensas nos aeroportos do Sudeste e Centro-Oeste.

Investimentos

Mais cedo, Waldir Pires disse que o governo vai fazer “todos os investimentos necessários” para a recuperação da infra-estrutura aeroportuária. Sem mencionar detalhes, o ministro voltou a negar que o governo tenha contingenciado verbas para o setor. “Em 2005, por exemplo, tivemos um orçamento de cerca de R$ 490 milhões que foi totalmente executado, e o deste ano, falta pouco para ser concluído”, citou.

Os problemas nos aeroportos mudaram até a agenda do Presidente Lula. Um grupo de empresários paulistas não conseguiu chegar a Brasília para uma reunião no Planalto. Até o Prêmio Combate ao Trabalho Escravo 2006 teve que ser transferido. Previsto para iniciar às 17h30, acabou transferido para a noite de ontem. No Rio de Janeiro, os deputados federais Babá (PSol-RJ) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) tentaram embarcar, mas não conseguiram.

Filas gigantes e tumulto em Brasília

A pane no sistema de rádio no Cindacta 1 trouxe de volta às imagens registradas durante a operação-padrão dos controladores de vôo, no final de outubro. No Aeroporto Internacional de Brasília, o que se viu foram filas gigantes de passageiros em busca de esclarecimentos sobre atrasos e cancelamentos de vôos. Por volta das 17h, houve um tumulto em frente ao guichê da Gol. “Queremos justiça. Isso é uma falta de respeito. Cadê a satisfação?”, gritavam os passageiros enquanto batiam no balcão da companhia e se empurravam por um lugar na fila. A Polícia Militar foi acionada. Cerca de 10 homens chegaram para conter a desordem. Ninguém foi detido.

O clima tenso tomou conta de todo o aeroporto da capital. Nem mesmo as músicas tranquilizadoras e os constantes avisos da Infraero nos alto-falantes, dizendo que a situação estava sendo contornada, acalmavam os passageiros. Na sala de embarque, um dos passageiros tomou o microfone da funcionária da TAM e chamou a todos de “palhaços”. Foi aplaudido. Passageiros da Gol receberam tíquetes de R$ 15 para lanches.

À tarde, os funcionários da Gol começaram a colocar as malas no meio do saguão. Até o final da noite de ontem, muitas pessoas ainda tentavam embarcar, apesar da decisão da Anac de cancelar os vôos. Outras filas se formaram com passageiros querendo remarcar passagens ou conseguir vaga em hotéis da capital federal

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