Após surgir como um furação, ele jogou tudo para o alto e afundou o país
“Varre, varre, varre, vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado” (jingle da campanha presidencial de Jânio Quadros, eleito em 1960).
Eu era menino ainda, tinha 12 anos, mas me lembro bem do tsunami que varreu literalmente o país durante a campanha presidencial. Meu pai, que era janista, morreu naquele ano.
Vereador, prefeito, deputado, governador de São Paulo, Jânio da Silva Quadros subiu como um furacão na política brasileira no pós-guerra da década de 50, entre o suicídio de Getúlio Vargas e os anos dourados de JK.
Por que me lembro de tudo isso agora?
Jânio não era um homem de partido, não pertencia a nenhum clã, combatia a velha política, andava em mangas de camisa, encarnava o moralismo autoritário e fez da vassoura seu símbolo numa campanha baseada no combate à corrupção.
“Não se desespere! Jânio vem aí para varrer a roubalheira!”, gritavam seus seguidores pelas ruas, em tom ameaçador.
Foi o primeiro político marqueteiro da nossa história. Aparecia em público com paletó ensebado de caspa ou com o quepe de motorista de ônibus. Comia sanduíches de mortadela para criar a imagem de homem simples do povo e em seus discursos abusava de próclises e mesóclises para mostrar erudição.
“Os palanques transformaram-se em verdadeiros palcos de tragicomédia... Muitos o tomaram como um Messias”, escreveu a historiadora Maria Victoria Benevides no opúsculo “O Governo Jânio Quadros” (Brasiliense).
Jânio se lançaria candidato à Presidência por uma coligação antigetulista de pequenos partidos. Logo conquistaria o apoio dos banqueiros e fazendeiros da UDN, e assim se elegeu com 48% dos votos de um total de 11,6 milhões de eleitores (hoje somos 147 milhões).
Apenas sete meses após a posse, ao perder o apoio da UDN no Congresso, Jânio renunciou. Jogou tudo para o alto, sonhando em voltar nos braços do povo num lance bonapartista que não deu certo, e afundou o Brasil numa profunda crise política que três anos depois desaguaria no golpe de 1964.
Em 1986, nos 25 anos da renúncia, numa longa entrevista que fiz com ele para o Jornal do Brasil, rememorou assim os fatos: “Eu nem sequer me lembro direito... Me lembro apenas de ter telefonado para Eloá e dito: ‘Arrume as malas porque eu não sou mais o presidente’. A minha displicência foi tal que, de Cumbica, eu fui para Santos, dirigindo meu fusquinha. E embarquei num cargueiro para Londres...”Qualquer semelhança...
Ricardo Kotscho
0 Comentários:
Postar um comentário
Meus queridos e minhas queridas leitoras
Não publicamos comentários anônimos
Obrigada pela colaboração