Você acredita que uma iniciativa autodenominada "movimento" e apoiada por Armínio Fraga, Gustavo Franco, João Roberto Marinho, Antonio Ermírio de Moraes, Nelson Sirotsky e Roberto Civita poderá mudar o Brasil?
Chamo então a atenção para a campanha protagonizada por diversos artistas, entre eles o "rapper" Marcelo D2 e a cantora Daniela Mercury, que assisti no começo de junho de 2006 na TV Globo. Trata-se, segundo a campanha, de um "movimento" denominado QUERO MAIS BRASIL. Dizem ter apoio de 210 entidades e algumas muitas pessoas, muitas famosas. Indicam um site: www.queromaisbrasil.com.br
Acompanhe. A campanha tem alguns chavões como "(...) movimento que convida toda a sociedade brasileira a se dar as mãos e fazer com que o eterno país do futuro se torne o Brasil do presente" e logo de cara a ênfase neoliberal típica dos tempos de FHC: "(...) Querer Mais Brasil é exigir que todos os governos, das cidades, dos estados e do país, não gastem mais do que arrecadam. Sem dívida crescente, sem juros excessivos, sem gastos mal feitos. É exigir menos gasto na máquina pública e mais serviços sociais e investimentos (...) exigir a mesma eficiência dos órgãos públicos que se exige da iniciativa privada: incompetentes fora, profissionais competentes e premiados e corrupção eliminada". A participação é fácil: com um clique, nome, cidade e mensagem, o QUERO MAIS BRASIL convida você a "não se omitir" e escrever aos governantes. Sem grande esforço, o leitor é induzido a apoiar a campanha sem conhecer seus apoiadores (vamos chegar neles).
Vários depoimentos dizem aderir ao movimento baseado em alguns chavões, como por exemplo: "(...) Apóio o Quero Mais Brasil porque concordo com o mote do Movimento. O Brasil tem que deixar de ser o eterno país do futuro para ser o país do agora". Entre as entidades, várias federações e associações comerciais, a "Sociedade Rural Brasileira" e sindicatos patronais. Além do apoio de pessoas e entidades, consta na página um "Conselho". Alguns dos vários "conselheiros": Antonio Ermírio de Moraes, João Roberto Marinho, Luciano Huck, Nelson Sirotsky, Roberto Civita, Roberto Medina, Viviane Senna e Washington Olivetto. Preciso comentar?
Na parte de cima da página, em destaque, o logo do "Instituto Millenium" (http://institutomillenium.org), que escreve em sua página: "O Instituto Millenium se dedica a intervir no debate público para promover os valores de liberdade, economia de mercado e Estado eficiente, por meio de estudos e publicações, tendo como parâmetros os padrões de modernas democracias de mercado". Os artigos deixam mais do que claro o posicionamento explicitamente neoliberal do Instituto, com frases como "(...) a condução do Brasil a uma rota de prosperidade e liberdade só é possível pelo fator de transformação histórica mais poderoso de todos: a iniciativa individual do ser humano", além de outras "verdades" definitivas do tipo.
A "ameaça" da função social
Há evidentemente uma patética diferença entre os "ideais" dos formuladores do "Brasil do presente" deste movimento e as idéias difundidas tanto pelos "conselheiros" quanto pelo Instituto parceiro, cujos idealizadores publicam artigos que dizem, entre outras barbaridades, que "(...) prédios públicos em cidades são freqüentemente invadidos por legiões do MST e congêneres, e o viés ideológico que orienta o Estado no campo já tem seu caminho para dentro dos centros urbanos traçado na lei.
É o Estatuto das Cidades, que em obediência à Constituição sujeita ao poder discricionário do Estado a propriedade urbana, ou seja, diz que esta deve cumprir sua função social." Evidentemente que o autor do artigo, João Accioly, vê isto como uma "redução de liberdade imposta a quem detenha direitos de propriedade sobre território urbano (...)".
Accioly ganhou um prêmio do Instituto Liberal e de uma organização estadunidense que defende a "responsabilidade e liberdade individual", a "propriedade privada" e os "mercados livres", entre outras coisas, como consta na página da "Foundation for Economic Education" (http://www.fee.org/). O mesmo Accioly é membro fundador do tal Instituto Millenium (veja em http://institutomillenium.org/quem-somos/), junto com Antonio Carlos Pereira (editor do Estadão), Gustavo H. B. Franco (ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC), Luiz Eduardo Vasconcelos (ex-diretor executivo das Organizações Globo e atualmente membro do Conselho de Administração da Infoglobo e do Conselho Editorial das Organizações Globo) e Lula Vieira (publicitário). O responsável pelo denominado "comitê gestor do fundo patrimonial" do Instituto Millenium é Armínio Fraga, outro ex-presidente do Banco Central de FHC. João Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, é do "conselho consultivo" do Instituto Millenium. Vamos relembrar que no item "O que é", em www.queromaisbrasil.com.br, está descrito que trata-se de "(...) um movimento sem nenhuma ligação partidária."
Fácil deduzir, portanto, o sentido para o nome "Quero Mais Brasil". A pequeníssima parte dos brasileiros que já tem quase 80% de todas as riquezas da Nação não está satisfeita. Aproveitando o desejo por mudanças do povo brasileiro e unindo-se a artistas pouco (ou muito) familiarizados com a situação do país, perseguem seu objetivo: querem ficar mais ricos, às custas do Brasil.
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