Matéria da britânica BBC publicada nesta última semana fala sobre as quatro maneiras de usar a vitória de Rafaela Silva para confirmar o que você já pensa:
A negra humilde que sofreu e venceu o racismo
A sargento que provou o valor da disciplina militar
A beneficiária de apoio estatal que atesta o poder dos programas sociais
A mulher obstinada que não precisou do feminismo ou de cotas em seu caminho de superação individual
A reportagem afirma que uma história de superação com forte componente social, em um país polarizado pela disputa política, forneceu um prato cheio de interpretações - e parece ter acionado o viés de confirmação em cada um de nós.
Abaixo, alguns exemplos de como a - merecida - medalha olímpica de Rafaela Silva parece ter confirmado o que os estudos psicológicos dizem: queremos estar certos sobre o mundo, então buscamos informações que confirmem nossas crenças, fugindo de evidências e opiniões discordantes.
1. Vitória sobre o racismo
Em 2012, Rafaela Silva foi desclassificada na Olimpíada de Londres ao aplicar um golpe irregular. Após a derrota, acabou sendo vítima de insultos racistas nas redes sociais, como relatou em entrevista ao site GloboEsporte.com:
"Tinha (tuíte dizendo) que lugar de macaco era na jaula, e não nas Olimpíadas, que eu era vergonha para a minha família. Eu estava indignada, só queria minha família. Achei que ia ter incentivo, mas estava todo mundo me criticando", disse Rafaela.
A narrativa da vitória da judoca como exemplo de superação do racismo predominou na mídia e foi recorrente em relatos de usuários de redes sociais.
2. Militares como reserva moral
O alistamento é voluntário e a seleção considera resultados dos atletas em competições nacionais e internacionais. Medalhas viram pontos nos concursos para preenchimento das vagas. Uma vez selecionados, os atletas dispõem dos benefícios da carreira militar, como 13º salário, plano de saúde, férias e instalações para treinamento.
No Rio, Rafaela preferiu não bater continência ao receber o ouro, prática que chamou a atenção no Pan-Americano de Toronto, em 2015. "Para não correr o risco de perder a medalha, mantive a mão no lugar", disse.
3. Poder dos programas sociais
Atleta da ONG Instituto Reação, iniciativa do ex-judoca e medalhista olímpico Flávio Canto que usa o judô como instrumento de inclusão social, Rafaela Silva também recebe a chamada Bolsa Pódio, do Ministério do Esporte (governo Dilma).
Dos 14 judocas convocados para a Olimpíada (sete no masculino e sete no feminino), 13 contam com o benefício.
A bolsa foi instituída por lei em 2011, ainda na gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. O objetivo era apoiar atletas com chances de disputar finais e medalhas olímpicas e paralímpicas, e as bolsas variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil.
Na campanha presidencial de 2014, Rafaela chegou a gravar um vídeo manifestando apoio a Dilma e citando o apoio estatal.
"Ela incentivou bastante o apoio a nossos atletas. A gente tem o bolsa atleta e para mim e meus companheiros ela fez muita diferença para a gente buscar nossos sonhos", disse na ocasião.
Em um país polarizado e em meio a uma disputa de poder no plano federal, esse aspecto da história da atleta logo ensejou munição para o embate político, sobretudo para apoiadores do governo afastado.
"Projeto social e bolsa atleta. A vitória da Rafaela Silva é a derrota do discurso de direita", escreveu um perfil no Twitter.
4. Superação individual
Produtividade e superação individual, pelos próprios méritos, são valores comumente associados ao pensamento liberal, mais à direita.
Esses aspectos se destacaram em alguns relatos sobre a participação da judoca brasileira. Segundo essas interpretações, Rafaela "nunca se vitimizou" diante do preconceito, "seguiu em frente" e venceu pelos próprios méritos.
Alguns desses registros foram acompanhados por afirmações dando conta que a atleta "nunca precisou do feminismo".
O menu variado de versões sobre a caminhada da primeira medalhista brasileira na Olimpíada no Rio chamou a atenção de um internauta, que sugeriu uma explicação para o fenômeno:
"O bom de a Rafaela Silva ter origem pobre, ser negra e militar é que dá para ela agradar esquerda e direita".
A negra humilde que sofreu e venceu o racismo
A sargento que provou o valor da disciplina militar
A beneficiária de apoio estatal que atesta o poder dos programas sociais
A mulher obstinada que não precisou do feminismo ou de cotas em seu caminho de superação individual
A reportagem afirma que uma história de superação com forte componente social, em um país polarizado pela disputa política, forneceu um prato cheio de interpretações - e parece ter acionado o viés de confirmação em cada um de nós.
Abaixo, alguns exemplos de como a - merecida - medalha olímpica de Rafaela Silva parece ter confirmado o que os estudos psicológicos dizem: queremos estar certos sobre o mundo, então buscamos informações que confirmem nossas crenças, fugindo de evidências e opiniões discordantes.
1. Vitória sobre o racismo
Em 2012, Rafaela Silva foi desclassificada na Olimpíada de Londres ao aplicar um golpe irregular. Após a derrota, acabou sendo vítima de insultos racistas nas redes sociais, como relatou em entrevista ao site GloboEsporte.com:
"Tinha (tuíte dizendo) que lugar de macaco era na jaula, e não nas Olimpíadas, que eu era vergonha para a minha família. Eu estava indignada, só queria minha família. Achei que ia ter incentivo, mas estava todo mundo me criticando", disse Rafaela.
A narrativa da vitória da judoca como exemplo de superação do racismo predominou na mídia e foi recorrente em relatos de usuários de redes sociais.
2. Militares como reserva moral
O alistamento é voluntário e a seleção considera resultados dos atletas em competições nacionais e internacionais. Medalhas viram pontos nos concursos para preenchimento das vagas. Uma vez selecionados, os atletas dispõem dos benefícios da carreira militar, como 13º salário, plano de saúde, férias e instalações para treinamento.
No Rio, Rafaela preferiu não bater continência ao receber o ouro, prática que chamou a atenção no Pan-Americano de Toronto, em 2015. "Para não correr o risco de perder a medalha, mantive a mão no lugar", disse.
3. Poder dos programas sociais
Atleta da ONG Instituto Reação, iniciativa do ex-judoca e medalhista olímpico Flávio Canto que usa o judô como instrumento de inclusão social, Rafaela Silva também recebe a chamada Bolsa Pódio, do Ministério do Esporte (governo Dilma).
Dos 14 judocas convocados para a Olimpíada (sete no masculino e sete no feminino), 13 contam com o benefício.
A bolsa foi instituída por lei em 2011, ainda na gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. O objetivo era apoiar atletas com chances de disputar finais e medalhas olímpicas e paralímpicas, e as bolsas variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil.
Na campanha presidencial de 2014, Rafaela chegou a gravar um vídeo manifestando apoio a Dilma e citando o apoio estatal.
"Ela incentivou bastante o apoio a nossos atletas. A gente tem o bolsa atleta e para mim e meus companheiros ela fez muita diferença para a gente buscar nossos sonhos", disse na ocasião.
Em um país polarizado e em meio a uma disputa de poder no plano federal, esse aspecto da história da atleta logo ensejou munição para o embate político, sobretudo para apoiadores do governo afastado.
"Projeto social e bolsa atleta. A vitória da Rafaela Silva é a derrota do discurso de direita", escreveu um perfil no Twitter.
4. Superação individual
Produtividade e superação individual, pelos próprios méritos, são valores comumente associados ao pensamento liberal, mais à direita.
Esses aspectos se destacaram em alguns relatos sobre a participação da judoca brasileira. Segundo essas interpretações, Rafaela "nunca se vitimizou" diante do preconceito, "seguiu em frente" e venceu pelos próprios méritos.
Alguns desses registros foram acompanhados por afirmações dando conta que a atleta "nunca precisou do feminismo".
O menu variado de versões sobre a caminhada da primeira medalhista brasileira na Olimpíada no Rio chamou a atenção de um internauta, que sugeriu uma explicação para o fenômeno:
"O bom de a Rafaela Silva ter origem pobre, ser negra e militar é que dá para ela agradar esquerda e direita".
1 Comentários:
"O poder da palavra no ouro de Rafaela Silva"
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